Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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Após perseguição no Brasil, Papai Noel é proibido na Alemanha, condenado na Áustria e sob suspeita na Venezuela

 

1 - NOEL EM APUROS

 
A vida não está fácil para Papai Noel. E não é exatamente por conta da sobrecarga de trabalho no período. Ocorre que, conforme divulgou a imprensa tapuia nesta segunda-feira (22), uma pequena cidade no sul da Alemanha decidiu banir o velhinho da paisagem natalina. De acordo com a notícia em questão, a câmara municipal de Fluorn-Winzeln, lugarejo com pouco mais de 3 mil habitantes localizado às margens da Floresta Negra, declarou a região uma "zona livre de Papai Noel". Conforme explicou o prefeito local, Bernhard Tjaden, o objetivo é preservar as tradições do Natal, segundo ele freqüentemente esquecidas nessa época do ano em favor de um consumismo desenfreado.

A idéia é incentivar os cidadãos do lugar a substituir o chamado “Bom Velhinho" pela figura histórica de São Nicolau. “O Papai Noel é um personagem artificial" argumenta o prefeito Tjaden. “Ele não lembra em nada São Nicolau, que ajudava pessoas carentes e era um amigo das crianças”, explica o administrador. De fato. Essa imagem do bom velhinho a que todos estão acostumados não tem nada a ver com a memória histórica de São Nicolau – o bispo de Mira que inspirou o personagem. “Como um sinal de humildade, São Nicolau costumava distribuir seus presentes aos pobres à noite nas portas das casas, encoberto pela escuridão (não havia iluminação pública na Idade Média) para não ser identificado”, afirma padre Gustavo Haas, assessor de liturgia da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
 
Ademais, São Nicolau jamais se vestiu de vermelho, mas de tons marrons com detalhes esverdeados, como convinha a todo prelado de sua época – o Século IV.As roupas vermelhas só lhe foram acrescentadas nos anos 1930. Eis que a imagem do Papai Noel como conhecemos hoje foi criada em 1931, numa tentativa extremamente bem sucedida da Coca-Cola em conquistar o público infantil. Pensando em seduzir a próxima geração de consumidores, a companhia investiu na publicidade dirigida a menores de 12 anos. O Papai Noel (que desde o final do século anterior já havia sido estilizado por um cartunista norte-americano) era o homem da Coca-Cola perfeito - eternamente alegre, alto, vermelho vivo, metido em situações engraçadas envolvendo o refrigerante.
 
Aliás, esse vermelho da decoração natalina de Porto Velho – esse das faixas luminosas em espirais ascendentes que envolvem os pinheiros estilizados dos arranjos espalhados pela cidade – é da mesma tonalidade do uniforme de Papai Noel, o que vale dizer uma marca registrada da Coca-Cola. Como seu uso intenso tende a aumentar o consumo da bebida por efeito subliminar, os grandes estabelecimentos comerciais (shoppings) só permitem que sua utilização predomine nas suas decorações natalinas mediante pagamento de royalties - que a empresa não faz questão de pagar. Terá alguém aí levado um troco?
 
2 – MAIS PROBIÇÕES
Paranóias republicanas à parte, o fato é que, na circunscrição do prefeito Tjaden, as escolas e os comerciantes da região aderiram ao apelo, retirando as decorações com Papai Noel das vitrines e colando adesivos com um sinal de "proibido" em seus estabelecimentos. Cartazes com o rosto do personagem atravessado por uma faixa vermelha adornam não só o interior de lojas e repartições públicas, mas os avisos foram pendurados também na fachada do prédio da prefeitura e até junto à sinalização que marca as entradas do município.

Nas salas de aulas, professores ensinam às crianças o significado do Natal e contam histórias de São Nicolau, que ficou conhecido pela extrema caridade e serviu de inspiração para o ícone natalino. Os alunos são orientados a diferenciar o "original" da "cópia" e desenhos no quadro negro – na verdade, lousas virtuais interativas - mostram as diferenças entre os trajes de ambos, destacando a mitra episcopal no lugar do gorro vermelho e o cajado substituindo o saco de presentes.
 
A campanha "Zona Livre de Papai Noel" foi criada por uma entidade assistencial ligada Confederação dos Bispos da Alemanha para resgatar o santo como símbolo original das festas natalinas e combater o "consumismo" nas festas de fim de ano. A renda obtida na venda de cartazes, adesivos e outros produtos será destinada às entidades que prestam ajuda a crianças com doenças terminais.
 
Salvo melhor juízo, esta é a primeira vez que a idéia é apoiada oficialmente pela administração de um município, embora na Áustria esteja em andamento um debate sobre o efeito adverso da figura do Papai Noel nas crianças. Só que não se trata apenas de questão econômica - mas de psicologia. “Papai Noel morreu”, diz Christine Spiess, coordenadora das 360 pré-escolas de Viena. Ela decretou uma exprobração à figura do Papai Noel em todas as pré-escolas da capital austríaca. Mesmo as escolas católicas não têm permissão de convidar o Papai Noel para visitar as criancinhas. Entre outras razões, porque as crianças começaram a se intimidar com a figura do Noel e depois de sua visita muitas chegaram a demonstrar extrema irritabilidade.
 
3 – VETOS TROPICAIS
 
O que muita gente ignora é que as agruras de Papai Noel começaram, na verdade, no Brasil. No final da década de 1930 e início da seguinte, na luta pela nacionalização dos símbolos do Natal, o movimento integralista - de inspiração fascista e defensor de um Estado forte que promovesse a "regeneração nacional" - tentou emplacar o “Vovô Índio” como o verdadeiro bom velhinho do Natal brasileiro. Partidário do nacionalismo, o então ditador Getúlio Vargas tentou fortalecer a imagem do “Vovô”. Mas, ao que tudo indica, o Papai Noel, provavelmente por ser mais rico, não deixou espaço para um substituto local. E, assim, o “Vovô Índio” ficou esquecido nas tristes memórias do Estado Novo.
 
Agora, além da Alemanha e da Áustria, quem inventou de encrencar com o bom velhinho foi o presidente venezuelano Hugo Chávez. Tudo começou com um artigo enfezado no jornal "Últimas Notícias", de Caracas, mês passado. Segundo o periódico, Chávez teria resolvido peitar mais um símbolo da agressão cultural do imperialismo norte-americano e mandou proibir o Papai Noel em seu país. A notícia circulou o mundo amparada no preconceito das elites contra Chávez e no subseqüente aspecto folclórico-geográfico do lugar – que remonta à associação com repúblicas de bananas.
 
A história murchou por dois motivos. Primeiro, o governo venezuelano não confirmou nem desmentiu a notícia, deixando o Papai Noel no limbo. Outro, mais decisivo: sociedades consideradas avançadas e politicamente mais comedidas na crítica de hábitos culturais já haviam cogitado em condenar a figura do distribuidor de presentes natalinos. O que terminou ocorrendo, como se viu, na Áustria e na Alemanha, onde Papai Noel está sendo combatido como símbolo consumista inaceitável.
 
Sobre os venezuelanos, a versão oficial foi oferecida pelo ministro do Interior e da Justiça, Jesse Chacón. Segundo ele, não se proibiu nada. Cada venezuelano é livre para escolher como decorar sua casa e como celebrar o seu Natal. O veto seria uma interpretação mal-intencionada. “Nós apenas queremos resgatar a cultura do nosso presépio, que foi trocado por bonecos de neve e trenós, que não existem em um país tropical como o nosso", diz Chacón. Pelo sim, pelo não, Papai Noel não estará incorrendo em excesso de prudência se tratar o quanto antes de botar as longas e brancas barbas de molho. Bom Natal.
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