No fundo de alguns buracos que abria na mata, costumava colocar lanças de madeira, criando armadilhas para afugentar os invasores da sua terra
Foto: Divulgação
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Nesta quarta-feira (24), o indígena foi encontrado pela Funai morto em seu tapiri, “deitado na rede, e paramentado [com penas de arara] como se esperasse a morte”, conforme um indigenista comentou depois. O corpo foi removido para o IML (Instituto Médico Legal) de Porto Velho (RO), onde um exame tentará identificar a causa da morte.
Em 1996, após uma extensa investigação, os indigenistas da Funai Altair Algayer e Marcelo dos Santos conseguiram confirmar a existência do indígena a partir dos primeiros relatos trazidos por um cozinheiro, Gilson, que trabalhava numa serraria na zona rural. Ele contou que madeireiros saíram da mata assustados, dias antes, porque temiam um índio que se movimentava rapidamente na mata.
Marcelo dos Santos disse à Agência Pública neste sábado (27) que o indígena deveria ser enterrado no mesmo local em que viveu e morreu, em um memorial a ser construído pelo Estado brasileiro, e que o território que ele habitava deve ser imediatamente protegido porque corre risco de ser alvo de invasões e degradações. “É óbvio que o corpo tem que ser devolvido à sua terra. Ele é um marco de um genocídio que ainda falta ser detalhado”.
Santos disse que a palavra que define o chamado “índio do buraco” é a “solidão”, à qual ele foi jogado a partir de diversas violências sofridas pelo grupo do qual ele fazia parte e que, com sua morte, desapareceu.
“Ele não confiava em ninguém em sua volta porque viveu várias experiências traumatizantes com os não indígenas. Ele temia pela própria vida. Um conjunto de fatores levou a essa solidão. Há relatos de que indígenas isolados foram mortos na região com veneno misturado à comida. Acreditamos que, por isso, ele nunca aceitou a comida que deixávamos para ele na mata.”
O “índio do buraco” tornou-se um símbolo da resistência dos isolados também porque repetidamente recusou um contato mais prolongado, chegando a disparar, por duas vezes em anos diferentes, uma flecha na direção de funcionários da Funai que se aproximaram. No fundo de alguns buracos que abria na mata, costumava colocar lanças de madeira, criando armadilhas para afugentar os invasores da sua terra.
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