A Secretaria de Estado de Justiça (Sejus) inaugurou na sexta-feira (18), em convênio com o Ministério da Justiça, a última das nove bibliotecas do Projeto Asas de Papel, projeto que busca a ressocialização através da leitura e do conhecimento. Na terça-feira (15) outras três bibliotecas foram inauguradas na Penitenciária Estadual Ênio dos Santos Pinheiro, Penitenciária Estadual Edivan Mariano Rosendo (Urso Panda) e Centro de Ressocialização Vale do Guaporé.
O objetivo do projeto “Asas de Papel” é formar novos leitores e aproveitar melhor o tempo ocioso dos reeducandos. Para isso, as bibliotecas contam com um acervo inicial de 50 obras literárias que abordam temas educativos e sociais. Todas são climatizadas e equipadas com TV e aparelho de DVD para exibição de filmes, computador para controle do acervo, estantes, mesas e cadeiras e uma espécie de caixote adaptado com rodas, chamado de biblioteca itinerante, que levará os livros ao alcance de todos os reeducandos das respectivas unidades.
Para o reeducando e facilitador do projeto, Rogério Silveira, este é o principal diferencial do projeto, pois os livros ficarão ao alcance de todos. “A ideia é muito boa porque mesmo aquele reeducando que eventualmente não puder ou não quiser vir até a biblioteca o livro vai até ele através dessa biblioteca itinerante. Ele vai poder levar o livro para cela e aproveitar melhor o tempo ocioso”, disse.
O da Escola Penitenciária Madeira Mamoré, Aristóteles Alves, afirmou que a Sejus espera que este espaço lhes traga novos horizontes, traga compreensão e novas expectativas. “É mais um canal de educação e formação para vocês”, completou.
Remissão de pena
Todo apenado que participa do projeto recebe remissão de pena de quatro dias para cada livro lido, limitado a quatro dias por mês, mas eles têm liberdade para ler quantos livros quiserem, independente da remissão. Para comprovar a leitura os reeducandos deverão produzir uma resenha sobre a obra que será avaliada por uma pedagoga. “Eles terão no máximo um mês para leitura de cada livro. A resenha é uma forma de comprovar que o reeducando realmente leu e compreendeu o tema da obra”, completou a pedagoga da Sejus, Irlei Ramalho.
Recursos
O Projeto foi idealizado pela professora Eliete Maria de Souza que atua no Sistema Penitenciário do Estado, e executado através do convênio MJ nº 116/2010, formalizado entre o Estado e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen-Ministério da Justiça), com investimento total de R$ 258.551,37, sendo R$ 232.696,23 repassados pelo governo Federal e R$ 25.855,14 de contrapartida do governo do Estado. O secretário de Justiça, Fernando Oliveira, fez questão de ressaltar o comprometimento do governador Confúcio Moura com o Sistema Penitenciário que tem facilitado a implementação de diversos projetos e ações de ressocialização e reinserção social para aqueles que se encontram em reclusão sob a tutela do Estado.
Ao todo o “Asas de Papel” beneficia nove penitenciárias em Rondônia. Além das quatro unidades inauguradas essa semana, as bibliotecas já se encontram em funcionamento na Casa de Detenção de Ariquemes, Penitenciária Regional de Ji-Paraná, Penitenciária Regional de Rolim de Moura, Colônia Agrícola/Presídio Feminino de Vilhena e Penitenciária Feminina de Porto Velho.
Resgate
O reeducando e também facilitador do projeto, Rogério Silveira, é uma prova de que através da leitura é possível mudar de vida e escrever uma nova história. Rogério, que agora está em liberdade condicional, cumpriu pena por tráfico de drogas e afirma que durante os quatro anos em que esteve preso chegou a ler mais de 200 livros. “No tempo que fiquei privado de liberdade sentia muita falta da leitura. Naquela época não existia um projeto como esse e eu tinha muita dificuldade para conseguir os livros. É por isso que faço questão de compartilhar minha experiência, até mesmo para ajudar a quebrar esse paradigma, mostrar para a sociedade que nós podemos mudar e acabar de vez com esse preconceito [contra reeducandos]”, disse.
O hábito cultivado por Silveira deu tão certo que o resultado de tanta dedicação pode ser visto na prática. Hoje ele é escritor. Já publicou um livro de poemas e se prepara para lançar o segundo ainda este mês. “É como eu sempre digo: o ser humano é passível de erros, mas também é passível de acertos”, concluiu.