Desisti da vida. Pedi pra morrer. Minhas lágrimas secaram. A esperança calou-se. Crianças cadavéricas clamavam por um pedaço de pão. O leite materno foi extinto. O chão esturricado agonizava de sede. A ética malogrou com advento da guerra pela água. Assisti em pranto o último velório florestal. Acuado e em silêncio, uma dor anunciava o meu último suspiro. Era a morte que viria trazer-me o alívio imaculado da eternidade e o fim trágico da vida humana na Terra. Quando a miragem fúnebre parecia consolidar-se, uma voz ecoou e acariciou o meu pranto dizendo: “Filho, não é chegada a hora! Estende a mão à mão que te condena. Tu és escravo de si próprio e dá doença moral que te consome. Liberta tua consciência e começas a pregar a salvação do teu planeta”. Uma brisa suave e refrescante alojou-se dentro do meu peito. Meus olhos se abriram, Tal como uma rosa que nascera no jardim. A noite já estava adormecida. Uma estrela solitária no firmamento voltou a brilhar e desceu. O seu brilho transformou-se na imagem de um homem. Perguntei seu nome e ele me disse que se chamava Vida. Calmamente, o Senhor Vida aproximou-se e acobertado por um véu que tinha às suas margens as palavras: esperança, equilíbrio e consciência; parou e beijou-me, ensinando-me suas lições: “Filho não temas! O meu sorriso anuncia a extinção da bomba atômica e o fim da guerra na Terra. A minha face reflete a recuperação de áreas desérticas e a superação da fome na África e nos demais países periféricos. Os meus olhos proclamam o perdão das dívidas das nações pobres pelas nações hegemônicas. Os meus cabelos retratam um investimento maciço na educação libertadora dos oprimidos e a minha barba simboliza a eterna preservação da nossa Mãe Natureza, através da adoção do Estatuto da Família Ecológica Mundial”. A noite acordou e com ela também acordei. O Sol renasceu e com ele também renasci. A partir dali nenhuma árvore jamais gemeu pelas minhas mãos assassinas. Tornei-me educador e hoje vivo pregando as lições que o Senhor Vida me ensinou.