Meu filho Johan, quando quer esboçar contrariedade ou reprovar qualquer atitude costuma afirmar: "dá licença, heim!" Pois bem, o conceito da campanha "Terra de rondoniense", utilizado durante algum tempo pela PNA, pode não ser nenhuma pérola. Mas não se pode negar o mérito de que criou uma boa dose de empatia com os rondonianos e rondonienses.
Agora outra agência, que prefiro omitir o nome, vence o certame licitatório, com um briefing eivado de equívocos. Dos quais destacam-se aqui dois: do ponto de vista conceitual, a campanha vai tentar mostrar que ser rondoniense é degustar um filé de dourado frito às margens do rio Madeira e usa o argumento de que ser rondoniense é ter vindo p'ra ficar no Estado.
Coitado! o redator do imbróglio desconhece, por exemplo, que por menos disso o Ministério Público mandou recolher toda a edição de um livro que torceu fatos históricos sobre Rondônia.
O Madeira, caro publicitário, nunca foi piscoso e apenas se transformou em rota de cardumes migratórios. Para melhorar o seu conhecimento, o peixe dourado, em fase de extinção, é peixe da espécie bagre e vive em água profunda, mais suscetível, por isso, à contaminação por mercúrio, além de consumir outras impurezas do leito do rio, etc.
Constitui um desserviço à culinária regional a ideia, teha lá o suporte que tiver, da inserção do filé de dourado frito no cardápio predileto dos rondonianos e rondonienses. Esquecido talvez de que a Jatuarana - alusão à etinia que teria habitado a lendária cachoeira de Teotônio há milhares de anos - e tambaqui moquenhado (processo indígena de assar o peixe enrolado na palha da bananeira) são os verdadeiros pratos típicos de peixe da região, o redator deve ter "gazetado" a aula de História Regional.
O outro é a tentativa de mudar o significado do adjetivo pátrio rondoniense, consagrado em todos os livros de História e Geografia. Se o redator tivesse lido o livro "O Sabor do Amazonas", de autoria das amazonenses Rosa Clement, Martha Falcão e Zezé Pio de Souza, sobre a culinária regional amazonense, contendo não somente receitas tradicionais mas também outras novidades e receitas do dia a dia, com certeza saberia que a campanha divulgará um prato típico do Amazonas em vez da culinária de Rondônia.
Dá licença heim, senhor publicitário!