Os mortos da Candelária gritam por dignidade - Por Antônio Serpa do Amaral Filho
Foto: Divulgação
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No olho do furacão de um processo sócio-político e econômico sem pé nem cabeça, porque sustentado em falácias e estratagemas político-administrativos inconfessáveis, os restos mortais dos que habitam os ermos do Cemitério da Candelária clamam por tratamento condigno, respeitoso e condizente com sua importância histórica para os caripunas. Lá, encontram-se enterrados homens e mulheres, jovens, velhos e meninos que nas primaveras de antanho vieram semear o que pretendemos ser hoje: a civilização Guaporé. Se nós não aprendermos a respeitar nossos mortos, então que seja bem-vinda essa onda avassaladora de pseudo-desenvolvimento e que ela nos engula como vermes sem identidade, sem brio, nem valores, sem passado e sem futuro. E amanhã nós seremos eles: monte de ossos despidos de significado no presente eterno do hoje. A pressa em formatar a nova realidade urbana de Porto Velho, em todas as dimensões que abrangem a vida do homem moderno, bem como a deliberada vontade de impor um estilo sudestizador ao modo de vida da gente nativa destas paragens, tem propiciado verdadeira avalanche de ataques nocivos a vários sítios memoriais, ecológicos e culturais - materiais e imateriais. As empresas que estão faturando a obra, a Energia Sustentável do Brasil (Enersus) e Furnas/Odebrecht, fingem, quando muito, estar preocupadas com a preservação da identidade ribeirinha, patrocinando pequenos projetos de inventário cultural. Há muito cinismo permeando o imbróglio histórico em que estamos metidos. Ganância demais e humanismo de menos.
No caso do Cemitério da Candelária, o que para os técnicos do IPHAN parece muito, para o professor Emanoel Silva significa descaso, negligência e insensatez. Os cuidados dedicados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional àquele sítio cultural são tímidos e incipientes. Os 84 mil reais gastos no local não foram inúteis, é vero, mas não condiz idealmente, em obras e administração, com o real nível de necessidade reclamado pelo bem cultural. As denúncias foram feita in loco pelo professor Emanoel Silva, que, encabeçando uma espécie de auditoria cultural, levou àquele cemitério, sábado passado, o historiador Abnael Machado de Lima, o poeta e pesquisador Antônio Cândido, o repórter Lúcio Albuquerque, os músicos Heitor Almeida e Rogério Cabral, o estudante Amaral Neto e uma equipe de reportagem da TV Rondônia. Segundo ele, faltam placas sinalizadoras e informativas, melhoria das passarelas, um sério trabalho de identificação e restauração das lápides, demarcação criteriosa da área, cuidados com as covas e túmulos e uma série de outras ações preservacionistas indispensáveis.
Enquanto a cidade arde ao calor do frenesi desenvolvimentista, o silêncio dos mortos ecoa em nossas consciências como um grito estridente pelo respeito que merecem ter aqueles que descansam no Cemitério da Candelária, oferecendo-nos, em tributo histórico, uma razão de ser. Ante o silêncio crítico dos antepassados, ouçamos, em justo contraditório, a voz do superintendente do IPHAN em Rondônia, o videomaker Beto Bertagna.
Se não o fazem os vivos embasbacados com a realidade circundante, os mortos da candelária gritam por dignidade!
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