1 – LULA EM GAZA
Agora a coisa vai. Depois de fracassados o esforço conjunto diplomático das Nações Unidas (ONU), as iniciativas voluntariosas de Chefes de Estado como os dos presidentes Nicolas Sarkozy (França) e Hosny Mubarak (Egito), os apelos dos ex-presidentes norte-americanos Bill Clinton e Jimmy Carter, a intervenção do presidente da hora da União Européia Vaclav Klaus (Theco), pois bem, depois que todo esse pessoal deu com os burros n’água, o ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, instruído pelo presidente Lula da Silva (PT), desembarcou no Oriente Médio no começo da semana disposto convencer o exército israelense a suspender o bombardeio infernal sobre a população palestina da Faixa de Gaza, que há quase 20 dias vem sendo criminosamente massacrada pela aviação e forças terrestres do poderoso Estado judaico.
Aliás, mesmo não tendo viajado junto, daqui o presidente Lula não descuidou da dar uma força, enfatizando que o Brasil está empenhado em colaborar para um acordo de paz entre judeus e palestinos. "Eu mandei o Celso Amorim visitar o Oriente Médio para dizer que o Brasil está interessado em participar ativamente, para que a gente possa encontrar definitivamente o caminho da paz naquele território, naquele espaço geográfico", disse em seu programa semanal de rádio "Café com o Presidente", na segunda-feira (12). "Nós gostaríamos que, no Oriente Médio, árabes e judeus vivessem como vivem árabes e judeus aqui no Brasil", acrescentou.
É ou não é um prodígio, esse Lula? Pelo visto, árabes e judeus vivem à turras no Oriente Médio porque desconhecem a experiência dessas nacionalidades em terras brasileiras. Caso o considerado esteja pensando que é brincadeira, o chanceler de Lula foi elucidativo ao declarar à imprensa árabe que o Brasil possui “a experiência do bom diálogo” entre as numerosas comunidades judaica e árabe que habitam o país, e pode se orgulhar de não ter “sofrido nenhuma guerra em 40 anos”. Seja lá o que diabo isso possa significar, é um espanto!
2 – DAS ARÁBIAS
Aliás, de Oriente Médio a dupla Lula/Amorim já demonstrou que entende horrores. No sentido tenebroso do vocábulo, diga-se. Para demonstrá-lo, é só recordar o “sucesso” do primeiro empreendimento da parelha – que, de tão ridícula que resultou a experiência, tem tudo para passar à posteridade como uma verdadeira dupla das arábias. Aliás, é do chanceler Celso Amorim o qualificativo "Nosso Guia" para designar a clarividência diplomática de Lula. Bajulá-lo, elevando-o à condição de líder mundial, no entanto, faz parte do ritual petista de puxa-saquismo. O senador Aloísio Mercadante (SP), por exemplo, escreveu que "não há líder no planeta que não queira se reunir com ele para trocar idéias e percepções sobre a construção do futuro". É mole?
Deve ter sido mais por essas e do que por outras que, antes de terminar o primeiro ano do primeiro mandato, devidamente escoltado por Amorim, Lula inventou de visitar a Líbia do coronel Muamar kadhafi – então um barril de pólvora. A pabulagem começou ainda antes de a viagem ser iniciada, com Lula apresentando-se como um desbravador: “Por muitos anos o Brasil não pôde sequer conversar com a Líbia porque os americanos não gostavam dos libaneses”, disse em novembro de 2003 ao anunciar a decisão, provocando o primeiro constrangimento junto aos futuros anfitriões líbios. Os diplomatas do Líbano também não se sentiram muito à vontade.
Enfim, em dezembro, Lula desembarcou em Trípoli e, lá, numa das solenidades com que foi recebido, tomou umas e fez um brinde de champanha causando um dos maiores gafes diplomáticas de que se tem notícia. Nem para lhe avisar que o cerimonial mulçumano interdita o álcool por razões teológicas serviram os aspones. Mas o pior ainda estava por vir. Pensando estar agradando, “Nosso Guia” sentou a pua nos EUA. E foi ficando sem graça quando não vieram os esperados aplausos, por mais que caprichasse nos impropérios contra o imperialismo ianque. Por fim, nem Lula e nem a comitiva entenderam bulhufas quando o próprio Kadhafi atropelou o protocolo e encerrou a cerimônia antes do previsto.
3 – FALSO ÊXITO
Curiosamente, logo após a viagem de Lula, o governo líbio entregou aos americanos seus planos armamentistas e anunciou que estava desistindo do seu programa nuclear, ao que até o presidente Bush reagiu com louvores públicos. Na verdade, cansado do isolamento, Kadhafi estava tentando reformular todo parque industrial petrolífero do país, precisando, pois, da cooperação da melhor e mais avançada tecnologia do setor. Sem saber onde o galo cantava, o chanceler Amorim não perdoou: “Poucas semanas depois de o presidente Lula ter visitado a Líbia, o presidente Bush elogiou o Kadhafi pela cooperação que está dando em armas de destruição em massa”, orgulhou-se junto aos repórteres.
Não obstante as desconfianças de que os glúteos nada tinham ver com os culotes, o mistério só seria resolvido em 2007, com a publicação das memórias de um ex-diretor da CIA – George Tenet. De acordo com o ex-agente, conversações secretas de Kadhafi com americanos e ingleses tinham resultado na chegada a Trípoli, no dia 19 de outubro de 2003, de técnicos autorizados a inventariar sigilosamente o arsenal líbio. No dia 21, um representante da CIA reuniu-se com o próprio Kadhafi, ocasião em que ele, conforme o relato de Tenet, repetiu várias vezes que queria “limpar a ficha”. No dia 28 de novembro, portanto, quando “Nosso Guia” disse que “os americanos não gostavam de conversas com os libaneses”, os governos dos EUA e do Reino Unido já estavam a par dos relatórios dos seus agentes e contentes com o que haviam tomado conhecimento.
Ou seja, quando Lula baixou o sarrafo nos americanos na solenidade em sua homenagem o coronel Kadhafi estava empenhado até o talo em fazer de tudo para agradar o governo estadunidense. E não obstante o presidente brasileiro quase estragar tudo, o seu chanceler ainda teve a pachorra de atribuir a aproximação Líbia/EUA à visita de Lula. Não por acaso, ao comentar as memórias de Tenet, o jornalista Elio Gaspari escreveu que a cronologia do episódio leva “Amorim para a companhia do japonês de Hiroshima que deu a descarga e convenceu-se de ter explodido a bomba atômica.”
Razão pela qual, se por qualquer motivo (aniquilação de Gaza, satisfação de Israel com o estrago feito etc.) sobrevier um cessar fogo na região massacrada, não será surpresa se o chanceler Amorim vier a público para atribuir a paz (dos cemitérios) à inspiração do “Nosso Guia”. Afe!