A cultura não tem preço, por isto aqui tudo é de graça! Com estas palavras sábias, que encerram uma grande lição para todos nós – governantes e governados – foi iniciado o espetáculo do Sesi "Bonecos do Brasil", promovido no último final de semana em Porto Velho. Para a nossa cidade, onde grande parte da população é de origem nordestina, a presença dos bonecos gigantes e do teatro de mamulengo foram um prato cheio. Não foi à toa que o chamado "Espaço do Flor do Maracujá" ficou lotado. Formou-se um mar de gente sedenta de cultura e de produções artísticas.
Da iniciativa do Sesi, iniciada em 2004, cujo espetáculo já foi levado para a maior parte dos estados brasileiros, ficam várias lições. A primeira, sem dúvidas, é a riqueza do folclore, da capacidade criativa do brasileiro. A técnica de criação dos bonecos, que dá vida para material barato e acessível merece muito mais atenção. A música foi um capítulo à parte. O forró do mamulengo arrasou. Já a banda da Polícia Militar de Rondônia abriu o espetáculo com frevo e outras músicas clássicas de Carnaval com competência e qualidade e mais uma vez mostrou o potencial artístico dos rondonienses, qualidade não reconhecida por falta de oportunidades como a que o Sesi proporcionou a Porto Velho.
Da apresentação dos bonecos também ficou a certeza da necessidade de construção de um espaço para espetáculos como o apresentado pelo Sesi. Chega de "Espaço Alternativo", "Espaço Flor do Maracujá" e outras improvisações. Precisamos com urgência de um local com infra-estrutura para as manifestações culturais e folclóricas como o Carnaval, quadrilhas, bois-bumbás, artesanato e tudo o mais. Quem duvida que o povo tem talento para ocupar um espaço destes deveria ter assistido ao espetáculo de bonecos no último final de semana.
Por fim, retorno ao início do texto lembrando as palavras iniciais do apresentador do espetáculo dos bonecos. A cultura não tem preço e, portanto, não pode ficar atrelada ao potencial ou não da manifestação popular gerar renda, como se apregoa ultimamente. A cultura não pode ficar atrelada à aceitação de um projeto técnico que atenda às exigências da Lei Roauanet, uma forma criada pelo estado para transferir para o setor privado a necessidade de dar sobrevida às manifestações artísticas e culturais no Brasil. Não, não pode ser só isto. O estado precisa assumir a responsabilidade pelo valioso patrimônio imaterial representado pelas manifestações culturais do povo brasileiro. Talvez seja esta a principal lição deixada pela passagem dos bonecos em nossa cidade. Uma pena que esta grande lição tenha passado despercebida para muitos. Pessoas que saíram ruborizadas do espetáculo, sem condições de entender o que de maior nos foi ensinado pelos "Bonecos do Brasil".