"Tiros, gritaria, engarrafamento de trânsito, comércio fechado, transporte público assaltado e queimado, lampiões quebrados à pedradas, destruição de fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta contra o projeto de vacinação obrigatório proposto pelo sanitarista Oswaldo Cruz" (Gazeta de Notícias, 14 de novembro de 1904).
Assustada com a possibilidade de contrair a febre amarela, a população de Porto Velho de forma inconseqüente e também por desconhecimento da forma de transmissão do vírus saiu em busca da vacina nos postos de Porto Velho. Somente de segunda-feira (07) até esta sexta-feira (11), foram consumidas 10 mil doses da vacina, esgotando o estoque do município.
Normalmente por mês o município recebe 3 mil doses e para receber as vacinas adicionais, o secretário do município teve que recorrer ao Estado para ter um estoque maior de vacina.
Somente no posto de saúde Maurício Bustani foram vacinadas 1.759 pessoas no mesmo período. O estoque do posto acabou aproximadamente às 10h de hoje. O problema, segundo o vacinador Valdir Alves do Nascimento é que um grande número de pessoas que não podem ser vacinadas ou que chegaram a tomar a vacina no ano passado, ou ainda em outros períodos inferiores há dez anos, insistiam e brigavam com os vacinadores para tomar a vacina.
“Houve casos de mulheres que estavam visivelmente grávidas e insistiam para tomar a vacina. Tivemos que mandar fazer testes de gravidez em muitas mulheres para descartar a vacina para elas”, afirmou Nascimento.
Algumas mães também, com filhos menores de nove meses insistiam para que os bebês tomassem a vacina, afirmou o vacinador. Segundo informações colhidas no posto, somente a Policlínica José Adelino, no Ulisses Guimarães e do Agenor de Carvalho, possuem vacinas.
No posto Agenor de Carvalho 583 pessoas foram vacinadas esta semana. Segundo o diretor da unidade, Joel Soares, para segunda feira deve sobrar cerca de 50 doses.
REVOLTA DA VACINA AO CONTRÁRIO
Ao contrário do que aconteceu no ano de 1904, quando a população se revoltou contra a obrigatoriedade da vacina contra a varíola, imposta pelo sanitarista Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, a população de Porto Velho está quase provocando uma “revolta da vacina ao contrário”, exigindo ser vacinada, mesmo estando comprovadamente imune.
O desespero da população começou, segundo secretário de saúde do município, Sid Orleans Cruz, após a divulgação de confirmação de mortes de macacos por contaminação do vírus da febre amarela silvestre. O problema é que essas mortes ocorridas no município de Ji-Paraná
não tiveram a confirmação que deve ser feita pelo Laboratório Central (Lacen).
Toda vez que um primata morre, é procedimento de rotina determinado pelo Ministério da Saúde, que o laboratório reconhecido pelo Ministério da Saúde (no caso de Rondônia, o Lacen ou o Instituto Evandro Chagas, em Belém no Pará) colhea as vísceras ou tecidos dos animais e encaminhar ao Instituto. “Em sua imensa maioria, as mortes de macacos não têm como causa a febre amarela”, cita uma nota da Agência de Saúde.
“A população deve ficar tranqüila e se conscientizar que não existe a menor possibilidade de se contrair a febre amarela dentro da cidade, a chamada febre amarela urbana”, afirmou o secretário. Essa declaração também é diariamente preconizada na imprensa por todos os setores da saúde, tanto estaduais como federais.
O Brasil é considerado país livre da febre amarela urbana. O último caso registrado no Brasil foi no ano de 1942. Depois dessa data, foram registrados raríssimos casos de morte pela febre amarela silvestre. Aquela que é contraída em áreas de mata fechada. O último caso registrado no Sistema Nacional de Agravos Notificado (Sinan) do Ministério da Saúde.
Sid Orleans disse que o município deve receber mais 100 mil doses pelas próximas semanas, para suprir a demanda.
QUEM DEVE SE VACINAR
Conforme amplamente divulgado pelo Ministério da Saúde e nos posto de vacinação, devem se vacinar contra a febre amarela todas as pessoas a partir dos nove meses de idade, e repetir a cada 10 anos para evitar contrair a febre amarela silvestre.
Para aquelas pessoas que nunca se vacinaram e vivem em áreas urbanas, é necessário que a vacina seja tomada, dez dias antes de entrar em áreas silvestres.
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