Vou deixar duas ótimas dicas como opções para o final de semana para quem curte relaxar assistindo às produções das plataformas de streaming. Uma minissérie que repercutiu muito na Netflix e um filme que, volta e meia, se destaca no catálogo da HBO Max. Ótima diversão.
DAHMER – UM CANIBAL AMERICANO – A minissérie disponível na Netflix foi a primeira produção que integra o pacote da antologia “Monstros”, cujo criador (e showrunner) é Ryan Murphy, em parceria com Ian Brennan. As outras duas são: “A história dos irmãos Menendez” (2024) e, recentemente, “A história de Ed Gein” (2025).
Lançada em 2022, “Dahmer” é uma das coisas mais absurdas em realismo ao adaptar a história do serial killer Jeffrey Dahmer, que, entre os anos 80 e 90, ficou conhecido como o “Canibal de Milwaukee” por matar 17 jovens homossexuais (a maioria negros), decepando e esquartejando os corpos, guardando pedaços na geladeira ou em tonéis e até mesmo consumindo a carne.
Não recomendo essa minissérie para pessoas sensíveis, pois, em diversos momentos, ela aciona diversos gatilhos ao mostrar a história de Dahmer. Desde os conflitos familiares que acentuaram sua natureza psicótica, o alcoolismo, a natureza violenta, sua sexualidade pervertida e os métodos de assassinato.
O destaque é a atuação do ator Evan Peters – ele foi o mutante Mercúrio nos filmes da franquia X-Men e teve uma aparição marcante na série Wandavision, da Marvel –; ele está encarnado como Jeffrey Dahmer no papel-título. Visceral, literalmente.
Dahmer foi um dos serial killers mais conhecidos pela mídia norte-americana. A sua história de vida é chocante.
No YouTube, é possível achar diversos vídeos do verdadeiro Dahmer, desde a sua prisão até o julgamento – quando foi confrontado por testemunhas e a única pessoa que conseguiu escapar da sua sanha assassina o denunciou à polícia. A sua frieza e calma são absurdas.
Das histórias de psicopatas que eu pesquiso e apuro, Dahmer é um dos mais brutais e estranhos – no sentido exato. Ele teve uma infância distópica, morando em uma casa próxima a uma floresta, dissecando animais silvestres no seu quarto e depois na garagem; aos 15 anos, já tinha tendência alcoólatra e era propenso a sentir atração por homens.
O seu modo de operar era atrair e pagar por encontros com jovens gays, levando-os ao seu apartamento e, depois de dopar suas vítimas, fazia sexo ou se masturbava; em seguida, os matava asfixiados e os desossava num processo que levava semanas. Às vezes, guardava pedaços dos corpos — coração, fígado, músculos e até o tronco inteiro. Um dos chamarizes que levaram a suspeitar dele era o forte mau cheiro no apartamento.
A minissérie mostra todo o processo de transição da infância para a adolescência até a fase adulta de Dahmer, baseada em depoimentos e entrevistas do psicopata, de parentes das vítimas e nos relatos da polícia. Recria o apartamento tal qual as fotos da perícia, incluindo o famoso tonel de ácido.
A sequência do julgamento é forte e extraordinária por reproduzir trechos idênticos aos que foram registrados pela imprensa na época.
Muito bem realizada e interpretada, a minissérie tem 10 episódios assustadores. Curiosamente, quem não conhecia a sua história vai, com certeza, pesquisar na internet depois e se assustar.
Não vou entrar em mais detalhes, mas, a título de curiosidade, ele foi condenado a mais de 900 anos de prisão, respondendo a 17 prisões perpétuas.
A VIDA DEPOIS – Filme muito bem realizado e escrito por Megan Park, “A Vida Depois” (The Fallout/2021) conta, de forma direta e sensível, as consequências de uma tragédia ocorrida dentro de uma escola e como isso afetou a vida da adolescente Vada (Jenna Ortega) e, por consequência, seus amigos e a família.
Após sair da sala de aula para ir ao banheiro, Vada encontra a linda Mia (Maddie Ziegler), uma colega popular na escola que está se preparando para uma sessão de fotos para o seu Instagram, por quem mantém uma admiração. Em determinado momento, as duas se assustam com tiros vindos do corredor e se trancam em um dos cubículos sanitários.
Percebem, então, que uma tragédia está ocorrendo e que elas podem morrer.
O pânico após isso vai mudar totalmente a rotina de Vada e das pessoas que, como ela, se tornaram vítimas de um trauma que vai gerar consequências e transformações.
Dito isso, vamos acompanhar o relacionamento antes perfeito da adolescente com a família, principalmente com a sua irmã mais nova, Amélia (Lumi Pollack), balançar pelo estresse pós-traumático que a afetou.
Diante dos receios que acabam lhe tirando o sono ou provocando constantes pesadelos, ela se aproxima de Mia, que acaba compartilhando com ela os mesmos traumas, e essa situação aproxima muito as duas, pois os pais dela vivem na Europa a trabalho e ela habita sozinha uma casa grande.
Ao mesmo tempo em que essa amizade vai lhe dando um alento, os traumas a distanciam das pessoas que mais ama, como a família e o seu melhor amigo, Nick (Will Ropp), mesmo quando seus pais recorrem a uma psicóloga para ajudar.
A sacada da diretora e roteirista Meg é não apelar para conflitos intensos ou melodramáticos; com a disposição sincera e tímida de Vada, ela cria um drama com motivações próximas da realidade e que se caracteriza pelas relações íntimas das pessoas ao redor da adolescente.
Há um frescor inesperado no modo como Vada vai tentar quebrar esse trauma no apego àquilo que mais lhe importa: as pessoas que a amam.
Talvez o filme, para mim, peque em alguns pontos em aberto que poderiam ser melhor desenvolvidos, mas não é nada que comprometa a sua história, mesmo com um final seco e quase episódico.
“A Vida Depois” está disponível no serviço de streaming da HBO Max.
O filme é notável por ter um elenco maravilhoso, com destaque para Jenna Ortega — a Wandinha, da série de sucesso da Netflix.