As eleições 2014 em Rondônia e a Caixa de Pandora - Por João Paulo Viana

Desde o ano passado, com as condenações de velhos caciques da política rondoniense pelo STF, bem como a pena imposta em 2010 pela justiça ao ex-senador Expedito Júnior (PSDB), sabia-se no meio político local que o judiciário seria um ator de grande relevâ

As eleições 2014 em Rondônia e a Caixa de Pandora - Por João Paulo Viana

Foto: Divulgação

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Desde o ano passado, com as condenações de velhos caciques da política rondoniense pelo STF, bem como a pena imposta em 2010 pela justiça ao ex-senador Expedito Júnior (PSDB), sabia-se no meio político local que o judiciário seria um ator de grande relevância no processo eleitoral do estado em 2014.

Não obstante as dificuldades do governo Confúcio Moura (PMDB) em não conseguir traduzir em realidade algumas de suas principais promessas de campanha, como, por exemplo, a questão da Saúde no estado e a transposição dos servidores para o plano federal, aliado ao desgaste político do chefe do executivo, em sua relação com a Assembleia Legislativa e seu presidente Hermínio Coelho (PSD), até esta terça-feira, dia 05 de agosto, Confúcio Moura, e o tradicional PMDB rondoniense, eram francos favoritos à reeleição. Contudo, ontem, as coisas mudaram.

Ocorre que o Tribunal Regional Eleitoral por três votos a dois deferiu o pedido de registro de candidatura de Expedito Júnior, De fato, o candidato tucano é um exímio puxador de votos, coleciona vitórias e derrotas na política rondoniense desde 1986, quando foi eleito o deputado federal mais novo do país, então com 23 anos. Como diria o saudoso jornalista Paulo Queiroz, Expedito é dono de um patrimônio eleitoral valiosíssimo.

No entanto, a partir de 2007, após um breve período em “céus de brigadeiro” ao lado do então governador Ivo Cassol, Expedito viu seu mundo desabar com a cassação de seu mandato de senador, condenado por compra de votos, e também com o rompimento com o grupo Cassol. Isso acarretaria no seu infortúnio nas eleições de 2010, quando, favorito nas pesquisas, teve sua candidatura ao governo estadual indeferida.

Além de Expedito, outros membros da “cacicada” política rondoniense tiveram seus registros deferidos, como o deputado federal Moreira Mendes (PSD), atual líder da bancada ruralista no Congresso Nacional e candidato ao Senado Federal. E o ex-prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho (PT), afastado judicialmente da prefeitura no final de seu segundo mandato por uma mega operação que reuniu diversas instituições de controle, entre elas o MPF, MPE, TCU, TCE, PF e TJ. Na ocasião, Sobrinho assistiu boa parte de seu secretariado ir de carreata para o presídio, sendo ele preso, posteriormente, em 2013. Nas eleições desse ano, o ex-prefeito disputa uma vaga na Câmara dos Deputados, podendo ser considerado como um dos favoritos da legenda petista a uma das oito cadeiras.

No tocante a eleição para o governo estadual, Confúcio e Expedito largam na frente da disputa, e, certamente, se não ocorrerem grandes mudanças jurídicas até o início de outubro se enfrentarão num disputado segundo turno. Por outro lado, torna-se sempre importante lembrar o alto poderio eleitoral da família Cassol, um dos mais importantes e tradicionais clãs políticos do estado, ao lado das famílias Raupp e Gurgacz. Nesse pleito, impossibilitado de contar com o seu grande nome, o senador Ivo Cassol (PP), o Cassolismo busca na figura de Jaqueline Cassol (PR), irmã de Ivo, recuperar o poder no estado.

Além dos candidatos citados, o deputado federal Padre Ton, presidente do PT estadual, também está na disputa ao governo rondoniense. Ton, que teria sua reeleição garantida à Câmara dos Deputados, recusou até o último momento uma aliança com Confúcio e o PMDB, e após o desastre dos momentos finais da experiência petista na administração de Porto Velho corre sérios riscos de ficar sem mandato. Contudo, o PT tem um eleitorado cativo em Rondônia e num cenário de grande fragmentação eleitoral pode surpreender. Por último, o PSOL rondoniense vem com Pimenta de Rondônia, que ainda não cresceu nas pesquisas.

Nesse contexto de alta relevância do judiciário nos rumos do pleito estadual, Expedito será alvo de todos os ataques por parte de seus adversários. Não há dúvida de que os demais candidatos buscarão nas maiores instâncias do “tapetão” a condenação do candidato tucano, além de tentarem ao máximo levar, de Vilhena à Guajará, a notícia de que “o voto no 45 não valerá”. Estamos frente a uma grande dúvida: Após o “castigo de 2010”, quando largou na frente da disputa, será Júnior absolvido pelo eleitorado rondoniense?

Outra mudança significativa de conjuntura ocorre na eleição ao Senado Federal. Com a entrada de Moreira Mendes na disputa o quadro fica ainda mais acirrado e fragmentado. Assim, o projeto de reeleição do atual senador Acir Gurcacz (PDT), até então favorito, corre sérios riscos. Uma questão relevante é saber se o senador Cassol conseguirá transferir seu espólio eleitoral à sua esposa, Ivone Cassol (PP), o que ainda não podemos prever nesse momento inicial da campanha.

Todavia, vale lembrar que esses candidatos de peso ao Senado concentram seus votos na BR-364. Em meio a esta conjuntura, observo que o Pastor Aluísio Vidal (PSOL) pode ser a surpresa da eleição e o grande beneficiado com a entrada de Moreira Mendes no jogo – o que aumenta as chances de fragmentação eleitoral, principalmente no eixo da BR-364. Entretanto, tudo depende do sucesso do pastor socialista em Porto Velho, onde, acredito, tem enormes possibilidades de ser o mais votado, e sua (in) capacidade de angariar votos no interior do estado, já que sua campanha terá recursos modestos comparados aos demais candidatos. Ademais, a princípio pode até parecer contraditório, mas o apoio do vasto eleitorado evangélico no estado poderá ser decisivo para o PSOL rondoniense chegar à Brasília pela primeira vez.

Numa realidade marcada por escândalos de corrupção e graves crises institucionais, onde boa parte da elite política encontra-se com problemas na justiça, e diante da incapacidade de alcance da Lei da Ficha Limpa, o eleitorado rondoniense corre sérios riscos de se deparar com sua Caixa de Pandora. Se aberta, abrem-se também precedentes perigosos que poderão contribuir para o retorno da desordem e do caos que marcaram a última década na política rondoniense.

João Paulo S. L. Viana é cientista político, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Rondônia (DCS/UNIR). Co-organizador de O Sistema Político Brasileiro: Continuidade ou Reforma? (EDUFRO; ALE/RO, 2008).

 

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