FICHA SUJA - A boa-vida de Natan Donadon, um político condenado no Supremo
Em 28 de outubro de 2010, o STF decidiu que ele deve cumprir 13 anos e quatro meses de prisão por ter cometido os crimes de peculato e formação de quadrilha. Os ministros do STF entenderam que Natan ajudou a desviar R$ 8,4 milhões dos cofres da Assemblei
Toda terça-feira, ou quando dá, Natan Donadon veste seu melhor terno, ajusta o broche dourado na lapela, ajeita o topetinho e pega um avião até Brasília. Lá, encaminha-se – pelas beiradas, olhando para os lados – ao gabinete 239 da Câmara dos Deputados. Quando se encerra essa delicada operação, tranca-se em sua sala. Volta e meia orienta as secretárias a informar que não está. Sai apenas quando precisa votar no plenário, sempre com passinhos apressados, sempre pelos caminhos de uso exclusivo dos deputados. Vai e volta na mesma toada, tão veloz que é mais fácil encontrar um burocrata brasiliense dando expediente num domingo do que Natan dando mole no plenário da Câmara numa terça ou quarta-feira. Assim que cumpre suas obrigações em Brasília, no mais tardar na quinta-feira, Natan abandona o terno, esconde o broche – e volta rapidinho a Rondônia, Estado pelo qual foi eleito e onde mora. Natan não é paranoico nem tem preguiça de trabalhar. Natan tem medo de ser preso.
Natan é o primeiro parlamentar condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) à prisão por desvio de dinheiro público. Outros quatro deputados foram condenados nos últimos anos por crimes como sonegação fiscal ou de responsabilidade. Mas não foram ameaçados de prisão, porque seus crimes prescreveram ou as penas podiam ser cumpridas em regime semiaberto. Natan é – pelo menos até a proclamação da sentença do caso do mensalão – o único que pode ir para a cadeia. Em 28 de outubro de 2010, o STF decidiu que ele deve cumprir 13 anos e quatro meses de prisão por ter cometido os crimes de peculato e formação de quadrilha. Os ministros do STF entenderam que Natan ajudou a desviar R$ 8,4 milhões dos cofres da Assembleia Legislativa de Rondônia, entre 1995 e 1998. Apesar de o Supremo ser a última instância da Justiça, suas sentenças não são cumpridas imediatamente. Graças a um último recurso, capaz de atrasar a execução da pena, Natan pode exercer seu mandato, ainda que intranquilo, enquanto aguarda o julgamento derradeiro no STF. Entre dezembro de 2011 e 29 de junho deste ano, o julgamento desse recurso foi adiado dez vezes. Natan torce pelo 11º adiamento.