A impunidade que predomina na sociedade brasileira gerou certas distorções na criatividade que é um dos traços indiscutíveis da nossa gente. Quando se pensa estar esgotado o potencial criativo das pessoas, elas surgem com justificativas absolutamente inesperadas.
Essa circunstância, inclusive, acaba apanhando de surpresa até os mais atentos observadores, que levam tempo para se recuperar da perplexidade inicial. É bem esse o exemplo oferecido pelo deputado estadual Zequinha Araújo (PMDB) ao divulgar à sua versão sobre a operação “Termópilas”, deflagrada pela Polícia Federal, no último dia 18.
Claro que somente os que acreditam em Papai Noel poderiam considerar verídicas as informações prestadas pelo parlamentar, numa notinha inócua e paradoxal. E o pior é que o deputado acredita que sairá incólume de toda essa embrulhada. Ninguém seria estúpido o suficiente para considerá-lo um rematado imbecil, mas a notinha distribuída à imprensa fala por si só.
Zequinha morre dizendo que não recebeu um centavo das mãos do presidente da Assembléia Legislativa, deputado Valter Araújo. É verdade. Segundo a Polícia Federal, quem repassava a propina ao deputado era um assessor do presidente, que o aconselhava a escondê-la na cueca.
“Estou à disposição da mídia e das autoridades judiciais”, disse Zequinha, na nota. A essa altura do campeonato, não há muito que fazer, senão rezar, contritamente. Se possível, de joelho e com os olhos voltados para o céu, na esperança de que um milagre aconteça, porque só isso poderá livrá-lo do cadafalso.
Ele disse, ainda, que sua vida pública sempre foi marcada pela moralidade e pela transparência. E aquele vídeo, deputado, que saiu na internet, em julho de 2006, no qual o senhor aparecia recebendo o que seria maços dinheiro do diretor financeiro da Câmara Municipal de Porto Velho, colocando na cueca e, de quebra, ainda dava uma requedradinha? Esqueceu-se?