É, no mínimo, estranho, o governador Confúcio Moura dizer que se surpreendeu com a realidade encontrada por ele no hospital João Paulo Segundo. Não é preciso ser especialista em saúde pública, nem freqüentar os escaninhos do JP para saber que aquilo se transformou, desde há muito, num depósito fétido de gente.
O próprio candidato Confúcio, durante a campanha que o conduziu ao governo do estado, chegou a colocar o dedo na ferida. Quantas e quantas vezes a televisão não mostrou pessoas amontoadas nos corredores por falta de leitos, médicos e medicamentos.
Não foram poucas, igualmente, as visitas feitas ao João Paulo, por representantes do Ministério Público Estadual, todas, evidentemente, carregadas de ameaças aos gestores da coisa pública, mas que, na prática, nunca se concretizaram.
Se, como médico, Confúcio Moura nunca pôs os pés no João Paulo Segundo, imagina-se que, como candidato, tivesse pelo menos feito uma visita, ainda que relâmpago, ao hospital e conversado com os profissionais do local.
Não é de hoje que a população vem gritando contra os péssimos serviços prestados nas unidades de saúde, tanto do estado quanto do município de Porto Velho, sem que nada de concreto tenha sido construído para resolver o problema.
A realidade é que há políticos e dirigentes públicos que insistem em fazer ouvido de mercador aos clamores que ecoam dos bairros, vilarejos e guetos. Só se lembram do povo em período eleitoral. Este, por sua vez, ainda não aprendeu a dar-lhes o troco.
Só mesmo pessoas destituídas de nenhum sentimento humanitário poderiam não se condoer com o flagelo que assola a saúde pública, aqui e alhures. E não são poucas.
Infelizmente, os fatores indicam a falência generalizada do sistema de saúde pública no país, principalmente no estado de Rondônia, onde se observa, com profundo enlevo e indignação, denúncias de corrupção e malversação de recursos públicos.
Somem-se a isso os péssimos salários pagos aos profissionais do setor, que andam na corda bamba sem serem malabaristas. É preciso mais que discurso romântico e coração sangrando para extirpar o cancro purulento que corroí as estranhas do paciente saúde pública estadual.
A sirene de alerta está pedindo passagem para levar o paciente para um tratamento de choque na UTI da competência, da responsabilidade, da seriedade e, principalmente, do respeito para com o próximo.