Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.​

1 – QUE É DEUS? Em tempos de Páscoa e de preparação do país para receber Bento XVI, até as agendas mais agnósticas são tomadas por temas que tangenciam a espiritualidade. Assim é que, conforme formulou o jornalista Hélio Schuwartsman em artigo recente, enquanto o Brasil se prepara para receber a visita do papa - cuja missão é ensinar aos homens os caminhos para o reino de Deus –, os cientistas tentam mostrar por quais caminhos Deus acabou entrando no reino dos homens. No que diz respeito a estes “Três Tempos”, quer ao repórter parecer não importar que se use o nome Deus, Tupã, Zeus, Brahma, Mitra, Rá, Shiva, Thoth, Xangô, Budha, Vishnu ou ainda a palavra “singularidade” – como prefere a ciência: qualquer que seja o termo, parece existir um impulso humano inerente a acreditar em algo transcendente, algo além do alcance de nossa compreensão e da ciência. Nesse sentido, há um debate interessante em curso entre os cientistas quanto à evolução da religião. Os estudiosos tendem a concordar em que a crença religiosa deriva da arquitetura cerebral desenvolvida em período precoce da existência do homem. Mas tendem a discordar quando a questão é determinar se a tendência a acreditar evoluiu porque a crença em si era adaptativa ou se veio como efeito colateral da evolução, conseqüência de alguma outra adaptação ocorrida durante a evolução do cérebro humano. De acordo com os antropólogos, as religiões que compartilham de certas características sobrenaturais, tais como a crença em um Deus ou deuses incorpóreos - ou a crença na capacidade da oração ou de rituais para mudar o curso dos acontecimentos humanos -, estão presentes em virtualmente todas as culturas do planeta. Quando um traço é universal, os biólogos especializados em evolução tendem a procurar uma explicação genética e a imaginar como um gene ou grupo de genes poderia reforçar as perspectivas de sucesso reprodutivo ou a sobrevivência. Mas como grande número de aspectos da crença religiosa envolve uma compreensão bastante diversa do mundo real, a pergunta que se impõe é - será que isso não representaria uma desvantagem em uma competição na qual apenas os mais aptos sobrevivem? 2 – SOMBRAS E FERAS Nem sempre. Nem sempre. Hoje se sabe que as dificuldades da vida humana em seus primórdios favoreceram a evolução de certas ferramentas cognitivas: detecção de agentes, raciocínio causal e teoria da mente. A detecção de agentes, em particular, evoluiu porque presumir a presença de um agente - o termo aqui designa qualquer criatura com comportamento independente - é mais adaptativo do que presumir sua ausência. Se você é um homem das cavernas na savana, melhor presumir que o movimento percebido com o rabo do olho representa um agente capaz de ameaçar sua vida, algo de que fugir, do que presumir o contrário. A vantagem propiciada por essa preferência neurológica pelo equívoco é clara. Se o leitor desanda a correr por ter tomado uma sombra por fera, possivelmente estará fazendo o papel de bobo, mas não perderá nada de essencialmente importante. Se, por outro lado, aplica algum ceticismo e exige provas, evita dar uma de palhaço, mas corre o risco de ser devorado. O que isso quer dizer em termos de acreditar em fenômenos sobrenaturais? Quer dizer que nossos cérebros estão prontos a presumir a presença de agentes, mesmo que essa presença contrarie a lógica. A religião seria o efeito colateral de uma propensão exagerada a crer. Outro módulo que nos prepara para a religião é raciocínio causal. De acordo com os cientistas, o cérebro humano evoluiu de forma a impor uma narrativa, com cronologia e lógica causal, sobre qualquer coisa que encontre, não importa até que ponto seja aleatória. Os psicólogos, em seus exercícios que envolvem a busca de razões lógicas para explicar a crença em Deus, constatam que - automática e inconscientemente – sempre procuramos por uma explicação quanto aos motivos para que certas coisas tenham nos acontecido. E não adianta dizer que estas coisas simplesmente aconteceram e ficar por isso mesmo. Os deuses, em virtude de suas propriedades prodigiosas e de seus poderes sobrenaturais, são causas excelentes para explicar todos esses acontecimentos incomuns. 3 – CIENTISTAS E SANTOS Antes de enterrar Deus, adverte Schuwartsman, vale lembrar que os religiosos, calejados por séculos de sutis discussões metafísicas, sempre podem sustentar que o homem com todas as suas estruturas cerebrais e inclinações foi concebido pelo Criador exatamente nesta forma. Não é um argumento esclarecedor, mas basta para fazer a discussão regredir ao infinito. Por mais que a ciência avance, ela jamais excluirá de modo irrefutável a existência de um demiurgo sobrenatural. De fato. Prêmio Nobel de Física no ano passado, em 1993 o astrofísico George Smoot publicou um livro relatando as peripécias para rastrear e mapear a radiação cósmica de fundo – algo gerado na infância do universo, há bilhões de anos, motivo da premiação recente. Lá, manifesta sua confiança em que um dia entenderemos a própria criação. Segundo ele, se retrocedermos de volta no tempo, encontraremos uma simplicidade e uma simetria sempre crescentes – com a fusão das forças fundamentais da natureza e a transformação das partículas em componentes fundamentais. No limite dessa regressão, chega-se ao estágio em que o universo era energia infinita concentrada num ponto infinitamente denso. “Regrida mais ainda, para além do momento da criação – e então? O que existia antes do big-bang?” Segundo ele, é então que a explicação científica sucumbe e Deus assume o seu lugar. Mas o que fazia Deus antes da criação do mundo? O filósofo e escritor (e, mais tarde, santo) Agostinho levantou essa questão nas suas "Confissões", no século IV, e encontrou uma resposta surpreendentemente moderna: antes de Deus ter criado o mundo não havia tempo e, portanto, nenhum “antes”. Smoot dá conta de um pesadelo recorrente entre cientistas: eis que um deles sonha estar escalando as montanhas da ignorância. Está quase conquistando os picos mais altos e, quando logra escalar o rochedo final, é saudado por um magote de teólogos ali chegado há milênios. E acorda apavorado suando frio. Enquanto isso, Santo Agostinho dorme em paz. *VEJA TAMBÉM: * Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz * Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz
Direito ao esquecimento

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Na sua opinião, qual companhia aérea que atende Rondônia presta o pior serviço?
Você ainda lê jornal impresso?

* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!

MAIS NOTÍCIAS

Por Editoria

PRIMEIRA PÁGINA

CLASSIFICADOS veja mais

EMPREGOS

PUBLICAÇÕES LEGAIS

DESTAQUES EMPRESARIAIS

EVENTOS