Política em Três Tempos -por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – SEM-TERRA SEM SORTE *Definitivamente, o agricultor Geraldo Pereira dos Santos, 43 anos de penosa existência, não é o que se pode chamar de um sujeito de sorte. Mas é, em boa medida, por conta da força emblemática do que lhe sucedeu por estes dias, que se justificam iniciativas como o “Ato Público Contra a Criminalização do Movimento Camponês em Rondônia”, que acontece nesta segunda-feira (05), a partir das 18h, no auditório das instalações centrais da Universidade Federal de Rondônia (Unir-Centro), embora o convite para o evento não faça menção ao seu caso. No entanto, as atribulações recentes que lhe sobrevieram encerram bem uma síntese de tudo quanto move o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo) em empreendimentos como o anunciado. *Sociedade civil sem fins lucrativos, em que pese existir há pouco mais de um ano e estar sediado no Rio de Janeiro, o Cebraspo, no seu propósito maior de “defender de forma intransigente e inarredável os direitos do povo brasileiro” (aqui entendido o segmento mais absolutamente destituído da população), vem erguendo barricadas contra a opressão onde quer que enxergue uma iniqüidade. Por aqui, o ato em questão foi organizado para denunciar a forma como a imprensa nativa vem abordando os movimentos locais dos agricultores sem terra, com foco numa reportagem publicada pelo jornal “Folha de Rondônia” sobre a região de Jacinópolis (cerca de 370 quilômetros da capital), onde os integrantes da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia (LCP) acampados no local são tratados como “invasores, baderneiros e bandidos”. *De acordo com o convite, “o ato quer chamar a atenção para a criminalização dos camponeses realizada por intermédio de matérias publicadas na imprensa local. Além dessas denúncias, entidades a nível nacional e local colocam em debate o caso de Wenderson Francisco dos Santos, o Ruço, ativista da LCP, preso há mais de dois anos e que teve seu julgamento suspenso no ano passado após denúncia de farsa para incriminá-lo”. E por aí vai. *2 – COTIA INCRIMINADORA *Mas o que tem Geraldo Pereira a ver com isso? Tudo, leitor, tudo. A começar pelo fato de que, enquanto os sem-terra de Jacinópolis ainda estejam organizados em torno de uma LCP que lhes sirva de trincheira e contem com a presteza de um Cebraspo que lhes socorra como caixa de ressonância, aquele lá nem coisa nem lousa. Igualmente acampado há anos a espera de que as autoridades lhe providenciem o ansiado assentamento, Pereira é o cabeça de uma das 257 famílias que, com sua mesma expectativa, vivem no acampamento “Flor do Amazonas”, na Fazenda Urupá (cerca de 50 quilômetros de Porto Velho), em Candeias do Jamari. *Como todas do lugar, a sua família (mulher e filho) também sobrevive com a ajuda de uma cesta básica distribuída mensalmente pelo governo federal, contendo apenas arroz, feijão, óleo, macarrão, café e açúcar. A falta de recursos com que comprar uma “mistura”, a solução é caçar ou pescar. Pois bem. No dia 17 passado, a Polícia Ambiental foi ao acampamento para apurar uma denúncia e, como não havia nada a averiguar, para não perder a viagem, prendeu Geraldo Pereira, recolhendo-o ao presídio José Mário Alves, nada menos que o sinistro “Urso Branco”. Junto com o agricultor foram apreendidas uma espingarda, a munição e uma panela – motivo maior da detenção, pois em seu interior é que cozinhava uma cotia. *Não fora a intervenção do professor Marcos Sussuarana - do Comitê Popular de Luta em Defesa do Socialismo e candidato do P-Sol ao Senado em 2006 - e possivelmente Pereira ainda estaria apodrecendo na prisão. Réu primário, sem quaisquer antecedentes que pudessem comprometer-lhe a conduta, foi libertado pela Justiça no dia 27, mas vai responder a processo por crime ambiental e porte ilegal de arma. Na hipótese de topar com autoridades providas de bom senso, menos mal. Por enquanto, da cadeia e da criminalização pela imprensa, salvou-o a providencial ação de Sussuarana, pois nestes casos, onde o acusado é agricultor, pobre e ainda por cima acampado, o que costuma aparecer na mídia é a versão dos acusadores condenando previamente o acusado. *3 – NOTÍCIAS ENQUADRADAS *Não sem razões entidades como o Cebraspo cuidam o tempo todo de chamar a atenção para os processos de criminalização sistematicamente direcionados contra agricultores pobres, cuja única aspiração é um pedaço de terra de onde tirar o sustento. Pois, não por acaso, quando da conclusão das atividades da chamada “CPI da Terra” na Câmara dos Deputados, há cerca de um ano, rejeitou-se o parecer do relator oficial João Alfredo (P-Sol/CE) e aprovou-se um voto em separado apresentado pelo ruralista Abelardo Lupion (PFL/PR), que criminalizou insidiosamente a luta pela reforma agrária ao recomendar a aprovação de dois projetos de lei que tipificam as condutas de quem ocupa terras como crime hediondo e ato terrorista. *De caso mais do que pensado, salvo exceções que confirmam a regra, a imprensa embarca resolutamente nestes discursos, não apenas os reproduzindo quanto os utilizando como matriz e suporte para o enquadramento das suas reportagens. Nada obsta. Convém não perder de vista o fato de que, do site de notícias mais rastaquera ao complexo de comunicação mais poderoso e sofisticado, desde que organizados essencialmente como empresas capitalistas, a notícia será sempre e invariavelmente tratada como mercadoria. O que implica em conseqüências cruciais, pois os veículos que postulam representar a “esfera pública”, na verdade, são agentes do sistema e das classes sociais que o dominam. *Estas, desse modo, tratam de eleger o foco dos processos de criminalização pela imprensa conforme este ou aquele segmento esteja representando a ameaça mais concreta da hora às fontes dos seus privilégios, patrimônios, poder e controle da sociedade. Não faz muito tempo, o alvo eram o movimento sindical urbano e suas incômodas greves, onde pululavam “baderneiros”. Hoje, o saco de pancadas são os sem-terra. Na verdade, como adverte o Cebraspo, o objetivo de tais “matérias” é o de criar um ambiente de terror, estigmatizar a luta pela terra e legitimar ações de pistolagem comandadas por latifundiários. *VEJA TAMBÉM: * Rondônia é o estado que mais cresceu nos últimos 4 anos no setor agropecuário * POLÍTICA & MURUPI- Por Léo Ladeia
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