Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.​

1 – COMÍCIO FATÍDICO Ninguém faz idéia do clima de opressão instalado nestas margens do Madeira nos tempos do reinado de Aluízio Pinheiro Ferreira – primeiro governador do Território Federal do Guaporé e chefe político absoluto do lugar por quase duas décadas (contadas apenas a partir da sua nomeação como governador, porquanto já mandava e desmandava no pedaço enquanto dirigente máximo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré). Por “ninguém” entenda-se os naturais da terra nascidos após os anos 60 e os aqui chegados desse período em diante. E por oprimidos os que ousaram confrontar a orientação política da elite aluizista. A atmosfera de medo, subserviência e desconfiança era tanta que, passado mais de meio século, até quem tinha uma noção do que se passava aqui ainda hoje se surpreende com os efeitos residuais do despotismo reinante. Que o diga o jornalista Zola Xavier da Silveira, que em busca de material com que reconstituir a tragédia em que resultou um comício dos adversários de Aluízio Pinheiro em setembro de 1962, está encontrando dificuldades em colher depoimentos das testemunhas que vem conseguindo localizar. As pessoas ainda têm medo de falar, seja porque permanecem tolhidas pela memória de pavor que as persegue ou porque ainda receiam ser alvo de represálias por parte de aluizistas remanescentes. Não é para menos. Basta dizer que, embora a censura à imprensa só tenha sido instalada no país após o AI-5, aqui, na época do comício, só se publicava o que Aluízio Pinheiro e sequazes permitiam. E o jornal nem fazia questão de esconder isso – pelo contrário, como adiante se verá. No Rio de Janeiro desde 1971, Zola nasceu em Fortaleza do Abunã nos idos de 1954. O “Xavier da Silveira” que o acompanha herdou-o do pai Dionísio, que todos conheceram por “Dió”, nada menos que o lendário editor do jornal “A Palavra”, de Ji-Paraná, sagrado jornalista (naquele tempo não tinha essa história de registro ou diploma, era sagração) por outra legenda da atividade – o premiado Nelson Townes de Castro. 2 – MORTOS E FERIDOS O comício objeto das pesquisas de Zola aconteceu em Porto Velho, no bairro da Olaria, na noite do dia 26 de setembro de 1962. O que se disputava era única vaga do Território no Congresso (na Câmara), o que fazia da cadeira de deputado federal o cargo mais poderoso e influente do lugar, porquanto do eleito dependiam as nomeações do governador e dos prefeitos de Porto Velho e Guajará Mirim – os dois únicos municípios de então. No palanque, o médico Renato Medeiros, que se aliara ao ex-aluizista Joaquim Vicente Rondon para tentar desbancar o esquema dominante – Aluízio Pinheiro vinha sendo reeleito desde 1946 – exceto em 1954, quando o próprio Vicente Rondon o derrotara. Naquele 1962 os aluizistas foram para a disputa sem Aluízio, que destacara o coronel Ênio Pinheiro para assumir a candidatura. O que aconteceu naquela noite está relatado na 1ª Página da edição do dia 28 subseqüente do jornal “Alto Madeira”. Pela transcrição: Títulos: “Trágica noite no bairro da Olaria – Um morto e 25 feridos – Resultado de um basculante da Prefeitura investir contra um comício do PSP”. Textos: “1 – O comício pró Renato estava em plena marcha de retorno por entre vivas acompanhando-o até a sua residência. 2 – Um carro chapa branca da Prefeitura subitamente surge e investe contra a massa popular calculada entre 4 a 5 mil pessoas. 3 – Resultado trágico: um morto, 21 feridos adultos, quatro crianças, sendo quatro adultos em estado desesperador e também duas crianças em estado grave. 4 – Tropas do Exército conseguiram dominar uma reação popular de conseqüências imprevisíveis. 5 – Rigoroso inquérito já teve início. Voltaremos com detalhes e, se permitido, com a lista nominal das vítimas”. Diz-se que o total de mortos passou da meia-dúzia – aí incluídos os “quatro adultos em estado desesperador”. O próprio jornal publicou anúncio para missa de 7º dia de Custódio José de Azevedo e Luíza Ribeiro da Silva, “tragicamente desaparecidos no desastre ocorrido no dia 26 no bairro da Olaria”. 3 – CRIME PREMEDITADO Bem que o jornal foi de uma honestidade aterradora com os leitores, avisando que a “lista nominal das vítimas” só seria publicada “se permitido”. Se nem a lista dos feridos foi liberada, imagine a quantidade real de mortos? Mas o que Zola Xavier da Silveira está tentando montar é um texto com impressões e emoções de alguns dos que vivenciaram os acontecimentos. Há, mesmo na prosaica matéria do jornal (era daquele jeito lá, numerando os parágrafos, que os redatores organizavam as notícias), algumas boas pistas. Sabe-se que, na mesma noite do dia 26, os aluizistas realizaram também o seu comício, no bairro do Areal. E que nem mesmo os codinomes “cutubas” (elite aluizista) e “peles-curtas” (o resto da galera) com que os dois grupos se depreciavam podem dar uma idéia do grau de rivalidade e do ânimo para hostilidades com que as facções se movimentavam. Ora, como o total de eleitores de todo Território não chegava a 12 mil e como o texto do jornal informa que o carro investiu contra “uma massa popular calculada entre 4 a 5 mil pessoas”, a conclusão a que se chega é a de que o comício dos “cutubas” fora esvaziado. Repare ainda que o comício “pró Renato” já havia chegado ao fim, posto que “estava em plena marcha de retorno por entre vivas acompanhando-o até a sua residência” (costume da época, levar o candidato em casa após o comício). Os aluizistas remeteram o episódio à iniciativa isolada de um motorista da Prefeitura “embriagado”, mas a hipótese de premeditação – com propósito de eliminar fisicamente Renato Medeiros como forma de interromper a campanha oposicionista que se prenunciava vitoriosa - tornou-se certeza entre os “peles-curtas” e suspeita entre pessoas respeitáveis. Consta que o funcionário público Anísio Gorayeb tentou publicar duas cartas contestando as versões oficiais. Renato (Clímaco Borralho de) Medeiros ganhou a eleição, mas saiu da Câmara em junho de 1964, cassado e com os direitos políticos suspensos por 10 anos por decreto do marechal-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco. Na capital, Zola é hóspede de Antônio Serpa do Amaral Filho e atende no telefone 8437-0986. PS – Os registros históricos aqui utilizados são produtos da pesquisa de Zola, bem como a maioria das ilações são decorrentes de conversas entre o colunista e o pesquisador.
Direito ao esquecimento

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Qual sua opinião sobre o bloqueio de emendas parlamentares?
Você acredita que a gestão Hildon Chaves realmente teve 90% de aprovação?

* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!

MAIS NOTÍCIAS

Por Editoria

PRIMEIRA PÁGINA

CLASSIFICADOS veja mais

EMPREGOS

PUBLICAÇÕES LEGAIS

DESTAQUES EMPRESARIAIS

EVENTOS