Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

 Política em Três Tempos -  Por Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

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1 – FELIZ 2008? Na certeza de que o período não é dos mais apropriados para insistir nas digressões que aqui são cometidas o ano inteiro, imaginou-se tentar ajudar o leitor a, de algum modo, se preparar para encarar o Ano Novo. Tivesse o colunista o talento que a tarefa requer, por certo ia sugerir que o considerado tratasse de se proteger com técnicas diversas de superstição, dessas que pretendem garantir a saúde e as finanças de quem as leva a cabo. Como algumas simpatias - ou crenças - que incluem ervas aromáticas, velas, orações, números, luas, flores, sementes e cores especiais. A mais usada - e mais tradicional - é a roupa branca na passagem do ano. Com as peças íntimas amarelas. E por aí vai. A falta de convicção em providências do gênero, porém, reduz a eventual lista de sortilégios à recomendação de um livro – “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, do filósofo francês André Comte-Sponville. É uma boa leitura para a passagem do ano, época em que costumamos projetar um futuro melhor até mesmo para nossos próprios instintos. São 18 capítulos, comentando coisas como a prudência, a coragem, a justiça, a humildade, a tolerância. Comte-Sponville também inclui no livro algumas virtudes não muito reconhecidas enquanto tais: a simplicidade, o humor, a doçura, a boa-fé. Tudo escrito num estilo claro, entre o coloquial e o entusiástico, fazendo com que a análise de cada conceito pareça um jogo movimentado. O que é, por exemplo, a doçura? Para Comte-Sponville, tem algo de feminino: é "uma coragem sem violência, uma força sem dureza, um amor sem cólera". Não se confunde com a compaixão ou com a generosidade, pois "a compaixão sofre com o sofrimento do outro, enquanto a doçura se recusa a produzi-lo ou aumentá-lo", e "a generosidade quer fazer bem ao outro, a doçura se recusa a fazer-lhe mal". Já a misericórdia se opõe ao ódio; e, como este é triste, a misericórdia está do lado da alegria: "sem ainda ser alegre", diz Comte-Sponville, pois nesse caso é perdão, "ou já sendo alegre, e neste caso é amor". 2 – GRANDES VIRTUDES Quanto ao humor, trata-se de uma "desilusão alegre", sendo por isso "duplamente virtuoso" - enquanto desilusão tem a ver com a lucidez e com a boa-fé; enquanto alegria tem a ver "com o amor, e, portanto com tudo". Esses exemplos talvez sejam suficientes para dar idéia do espírito e do objetivo do livro como um todo. Cada virtude é comparada às demais, os substantivos abstratos se compõem e se desfazem como se cada frase fosse uma imagem no caleidoscópio. Não há, entretanto, especulação complicada; o autor se ancora no bom-senso e no uso que fazemos cotidianamente de cada conceito. Citando um grande número de filósofos, Comte-Sponville procura sempre deixar as coisas claras para o leitor, e de certo modo reforça, ou refina, aquilo que já sabemos. O prazer que se obtém com este livro não é exatamente o de encontrar uma "nova chance" para a ética, ou uma investigação em profundidade de seus princípios. Não é tanto o prazer de um conhecimento novo, mas sim o de uma exposição elegante, viva, sofisticada, dos conceitos morais que empregamos no dia-a-dia. Para quem, como o digitador, jamais ouvira falar nesse fulano, recomenda-se tentar saber mais na Internet. Como aperitivo, saiba-se que nasceu em Paris, em 1953, e estudou na famosa Escola Normal Superior, na capital francesa. É professor de Filosofia, doutor e catedrático na Sorbonne (Universidade de Paris I), além de “Doutor Honoris Causa” da universidade de Mons-Hainaut, na Bélgica. Publicou diversos livros, entre os quais esse de que se fala é, de longe, sua obra mais célebre, traduzida para uma pá de idiomas. Participa regularmente de colóquios, colabora em publicações universitárias e escreve artigos regulares na grande imprensa. Falar nisso, há tempos a revista “Época” andou publicando uma excelente entrevista com o filósofo, produzida pela jornalista Ruth de Aquino sob o título “A Consolação da Filosofia - Pensador francês se inspira nos gregos antigos e no budismo para orientar a busca da felicidade”. 3 – MAIS APERITIVOS Como o período é propício, seguem-se mais aperitivos, estes do texto de “Época” – que pode ser acessado completo emhttp://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG76063-6014-450-1,00.html. ÉPOCA - A esperança nos impede de ser felizes? Por quê? Sponville – “Porque só esperamos o que não temos. E porque não existe esperança sem crença, como dizia Spinoza. Ser feliz é desejar o que temos, ou o que é. Esperar é ter medo. Ser feliz é ser sereno”. ÉPOCA - Qual é o papel do amor na busca da felicidade? Sponville – “Crucial. O conteúdo da felicidade é a alegria. Não há alegria maior que amar. Amar é contentar-se com o que existe. A única felicidade está dentro da verdade”. ÉPOCA - A consciência da morte como fim de tudo, sem uma viagem futura ao paraíso ou ao inferno, não torna os homens mais ansiosos em ser felizes? Sponville – “Mais ansiosos não, porém mais impacientes. E isso é bom. A vida é curta. Não há tempo a perder!” ÉPOCA - O senhor diz que a felicidade não é um ânimo absoluto, mas um movimento, um equilíbrio instável e frágil que se deve cultivar incessantemente. Como podemos preservar a felicidade? Sponville – “Renunciando a sua perenidade, aceitando sua fragilidade. Admitindo que a felicidade é fugaz. Adaptando seus desejos às adversidades da existência, amando a vida e o amor”. ÉPOCA - "Quando se aprende a viver já é tarde demais", uma citação do poeta Louis Aragon (1897-1982) em seu livro. Só se é feliz na maturidade? Sponville – “Não há idade para a felicidade nem para a tristeza”. ÉPOCA - O escritor André Gide (Nobel de Literatura em 1947) dizia querer morrer "completamente desesperado". Como o senhor gostaria de morrer? Sponville – “Bem velho, rapidamente, de repente, como se não houvesse nenhuma causa aparente”. ÉPOCA - O senhor tem algo a dizer a quem quer desesperadamente ser feliz em 2007? Sponville – “Preocupe-se menos com a própria felicidade e um pouco mais com a dos outros. Espere um pouco menos. Ame e aja um pouco mais”. É isso!
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