O ator, produtor e diretor Clint Eastwood é, de fato, uma lenda do cinema. Um dos meus preferidos, tanto como ator quanto como diretor. Consagrou-se como ator nos anos 60 graças ao seu trabalho na 'Trilogia dos Dólares', do diretor italiano Sergio Leone, que criou a estética e o formato do western spaghetti com seus filmes grandiloquentes, épicos e de estilo barroco ' exibindo, no seu formato, ambientes sujos, mocinhos cínicos e criando o 'pistoleiro sem nome'.
Clint foi o ator perfeito na estrutura narrativa ao reverenciar um pistoleiro que era herói e bandido, trazendo um frescor no estilo que casou com as exigências de Leone ' poucas palavras e muita ação.
Esse mesmo estilo do pistoleiro que fala pouco, usa mais a cabeça para agir e é extremamente habilidoso com as armas acabou virando uma marca de personagem para Clint em filmes que faria posteriormente ' produções como: 'O Estranho Sem Nome' (1973), 'Cavaleiro Solitário' (1985) e a sua obra-prima 'Os Imperdoáveis' (1992).
Entre os faroestes que dirigiu, um em questão estava há muito tempo inédito nos catálogos de serviços de streaming, praticamente um filme 'perdido' e muito procurado pelos fãs do ator/diretor: o ótimo 'Josey Wales – O Fora da Lei', de 1976, que já pode ser assistido na HBO Max.
Logo que resolveu produzir seus próprios filmes, Clint criou a sua produtora, Malpaso, em parceria com a Universal Pictures, onde lançou seus três primeiros filmes autorais, com direção sua: 'Perversa Paixão' (1971), 'O Estranho Sem Nome' (1973) e 'Interlúdio de Amor' (1973). Depois foi para a United Artists e dirigiu o ótimo 'O Último Golpe' (1974).
'Josey Wales – O Fora da Lei' (1976) marca o início de sua parceria com a Warner Bros. Um filme que iniciou as filmagens de forma turbulenta, pois o então roteirista Philip Kaufman ' que foi um dos roteiristas dos ótimos 'Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca' (1980) e 'Caçadores da Arca Perdida' (1981) ' estava na direção, mas acabou entrando em uma discussão criativa com Clint, ator e produtor, e foi substituído pelo próprio Clint, que assumiu a cadeira de diretor após dez dias do início das filmagens.
Por conta dessa decisão, o Sindicato de Diretores dos EUA criou uma norma obrigatória aos estúdios, proibindo qualquer ator ou produtor de assumir a direção de um filme após o início das filmagens e a demissão do diretor original. Essa decisão ficou conhecida como 'Norma Eastwood'.
O filme foi um grande sucesso na carreira de Clint, com base em um orçamento de US$ 3,7 milhões e arrecadando nas bilheterias mais de US$ 30 milhões.
Josey Wales é um fazendeiro que mora com a esposa e um filho pequeno na região do Missouri, durante o final da Guerra Civil Americana. Até que, um dia, soldados milicianos da União, liderados por um sanguinário tenente, massacram sua família, destroem sua fazenda e o deixam quase morto.
Solitário e sedento por vingança, ele se alia a soldados confederados considerados rebeldes, desenvolvendo seu potencial como pistoleiro e matador. Obrigado, depois, a se entregar junto com seus aliados aos militares do Sul, acaba presenciando seus companheiros serem mortos de forma traiçoeira. Ele então mata dezenas de soldados da União e se torna um fora da lei, foragido, com a cabeça a prêmio, valendo US$ 5 mil vivo ou morto.
Jura caçar o homem que matou sua família e que também foi responsável pela morte de seus aliados. Porém, caçadores de recompensa e uma força-tarefa do exército o perseguem. Nesse ínterim, faz amizade com um velho índio ' o ator e indígena Chefe Dan George, que tem ótimas cenas ', adota um cachorro, encontra uma família e enfrenta índios e mercenários violentos.
Clint repete aqui o seu papel perpétuo do pistoleiro sagaz, silencioso e que busca justiça à sua maneira. No filme, Josey fica conhecido como o 'exército de um homem só', trazendo na sua bagagem 55 mortes e utilizando quatro pistolas em dois cintos amarrados estrategicamente pelo corpo ' tornando-se rápido e mortal para quem o enfrenta.
Pela temática histórica referendada em relação à Guerra Civil Americana, o filme foi incluído em 1996 no Registro Nacional de Filmes dos EUA pela Biblioteca do Congresso.
Esteticamente, é um filme muito bonito, com ótima fotografia de Bruce Surtees, apresentando muitas tomadas panorâmicas do deserto e das montanhas de Utah, Califórnia e até Arizona. Locações naturais que dão o suporte necessário para a história que se quer contar.
Clint utiliza aqui o seu método de filmagem rápida, num espaço de tempo de oito semanas ' menos do que o previsto na planilha da produtora ', o que ajudou a reduzir os custos de produção. Foi um dos raros filmes em que os nativos não são retratados de forma estereotipada e, por conta disso, muitas etnias indígenas dos Estados Unidos elogiaram o filme na época de seu lançamento nos cinemas.
Duas curiosidades sobre o filme. O ator Matt Clark interpreta um barman na cidade mineira abandonada de Santa Río, atendendo o personagem Josey. Depois, Matt faria praticamente o mesmo papel de barman do Velho Oeste em 'De Volta para o Futuro III', atendendo Marty McFly ' onde ele atendia pelo nome de Clint Eastwood. A referência óbvia foi muito bem utilizada pelo diretor Robert Zemeckis.
A outra curiosidade é que a jovem mocinha que Josey salva no filme é a atriz Sondra Locke, que foi esposa de Clint e iniciou aqui sua colaboração com o ator, que durou por seis filmes.
Assista: um grande filme do gênero e um dos melhores trabalhos de Clint Eastwood.
O filme teve uma continuação em 1986, 'O Retorno de Josey Wales', com o ator Michael Parks no papel-título. Evite. Uma bomba!