O Brasil recicla menos de 4% de todos os resíduos que produz. Nosso país, nesse quesito, perde para países no mesmo nível de renda como Chile, Argentina, África do Sul e Turquia. Nessas nações o nível médio de reciclagem é de 16%, e quando pensamos em países desenvolvidos esse índice chega a 67%. Essas informações são da International Solid Waste Association (ISWA).
Essa é uma pequena demonstração de como o Brasil ignora a reciclagem que, se fosse feita de maneira correta e com o apoio dos poderes públicos, em especial, o Executivo, poderia colocar o país em um outro patamar nesse quesito.
Mas e em Rondônia, como está a questão da reciclagem de resíduos sólidos? Para responder à essa e outras perguntas sobre o tema, o Rondoniaovivo conversou com o Tenente Sérgio Ferreira Pereira, conhecido como Pereira, e que é uma das referências em nosso Estado, quando o assunto é reaproveitamento desses materiais produzido diariamente pela população.
Pereira explica que falta organização da cadeia da reciclagem em Rondônia
Veja a entrevista:
Como está essa questão da reciclagem hoje em nosso país?
Resp: Existe uma pesquisa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), 30% de todo o resíduo sólido urbano gerado é reciclável. Praticamente tudo é reciclável. De todo o lixo produzido no país, nós geramos apenas 4% de material. Isso é um problema grande para a cadeia de reciclagem brasileira. O Brasil gastou entre 2024 e 2025 cerca da R$ 146 milhões importando 142 mil toneladas de materiais recicláveis, ou seja, lixo, de outros países. Assim, ao invés de trabalharmos com o que temos no país, as indústrias preferem trazer o material de fora, por ser mais fácil e menos burocrático. E aí, temos em torno de 800 mil catadores, que veem o trabalho deles ser desprestigiado em relação ao material que vem de fora.
Nós temos exemplos em Rondônia dessa situação de importação de materiais, quando poderíamos reciclar o lixo produzido no nosso Estado?
Resp: Sim! Um exemplo é a Rafiplast, de Cacoal, que é uma empresa que faz a transformação do plástico. Ela tem o potencial de transformar 200 toneladas de plástico por mês, mas, por estarmos com a cadeia de reciclagem dentro do Estado desorganizada, ela não consegue material em Rondônia. Assim, essa empresa é obrigada a buscar materiais no Acre, Amazonas e Mato Grosso. O mais interessante é que o material processado nas cooperativas de catadores em nosso Estado, é vendido para outros Estados. Então, a carreta passa com 30 ou 40 toneladas em frente a Rafiplast, e vai ser vendido lá fora, pagando imposto, no Rio de Janeiro ou São Paulo.
O senhor disse que essa cadeia dos matérias recicláveis está desorganizada em Porto Velho, explique melhor?
Resp: Esse é um grupo de trabalhadores que está esquecido há muito tempo. Desde 2022 e 2023 o Governo Estadual teve um olhar e iniciativa muito positivas em relação à reciclagem e cooperativa de catadores de materiais recicláveis, através da Seas(Secretaria de Estado e Assistência Social), que fez um levantamento que mostrou a desorganização de toda essa cadeia. Aos poucos, pois, tem que ter a participação de vários atores como municípios, gestores de pastas municipais, então, ao longo tempo vamos conseguir organizar essa cadeia.
Como tem sido a receptividade das autoridades municipais quando o senhor fala em reciclagem?
Resp: O que ocorre é que, como é algo novo para todos, o que não deveria ser, mas quando chegamos nos municípios para conversarmos sobre o assunto reciclagem, percebemos que há um certo desconhecimento por parte dos gestores ambientais. Não é por má vontade, é por falta de informação mesmo. Para você ter uma ideia, em alguns municípios tem gestores que não sabem da necessidade de um plano de gerenciamento de resíduos sólidos. Quando falamos de cooperativas, estamos falando da Lei 12.305, que traz aos municípios a tarefa de fomentar a implantação de cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis, na implantação da coleta seletiva.
Quais as vantagens da coleta seletiva?
Resp: Hoje, Porto Velho envia para o aterro sanitário e 7 mil a 8 mil toneladas por mês. Segundo dados nacionais, cerca de 30% desse material é reciclável. Assim, quando eu mando para o aterro e implanto uma coleta seletiva, eu deixo de mandar 30% desse volume. Eu investindo na coleta seletiva, eu deixo de pagar para enterrar esse material, esse dinheiro volta para a economia circular que fomenta as cooperativas e associações e circula nos municípios outra vez. Assim, a coleta seletiva é uma solução não apenas ambientalmente adequada, é uma solução inteligente. Ela gera economia para os municípios para os cofres públicos e renda também para esses municípios através do material que é vendido e cumpre as politicas públicas que é a inclusão social nessa cadeia de catadores de material reciclado.