AMBULÂNCIA: Documentário expõe luta de paramédicos na Faixa de Gaza - Por Marcos Souza

Curadoria de streaming Filmicca está disponibilizando a trilogia de documentários do diretor palestino Mohamed Jabaly

AMBULÂNCIA: Documentário expõe luta de paramédicos na Faixa de Gaza - Por Marcos Souza

Foto: Reprodução

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No atual momento da geopolítica mundial o centro das atenções - imprensa e governantes - direciona a uma situação devastadora que vem ocorrendo na Faixa de Gaza, o massacre israelense contra os palestinos nessa região como retaliação e extermínio étnico por conta de um grupo político considerado terrorista, o Hamas. Controverso, cruel e absurdo, o genocídio já matou milhares de crianças e mulheres palestinas, além de ataques a médicos, centros hospitalares ou sedes de grupos humanitários. 
 
A curadoria de streaming Filmicca, que tem um catálogo e acervos de filmes variados, já está disponibilizando a trilogia de documentários do diretor palestino Mohamed Jabaly, que tem um trabalho notável como vídeodocumentarista, trabalhando na região da Faixa de Gaza. Por ordem, os filmes são “Ambulância” (2016), “Minha Gaza Online” (2020) e “A vida é Bela: Uma carta para Gaza” (2023).
 
“Ambulância” é o seu filme mais premiado e notável, e faz o registro do trabalho de paramédicos de um hospital público de Gaza, através de uma ambulância onde ele, Mohamed, com a sua câmera registrou as consequências dos ataques de Israel no ano de 2014
 
 
A dimensão das imagens que ele captou, acompanhando os paramédicos em atendimentos emergenciais nos bairros mais atingidos por mísseis israelenses, é um retrato humano degradante e triste das vítimas palestinas, geralmente mulheres e idosos, num rastro de destruição absurdo. 
 
Vou contextualizar brevemente o que foi a ofensiva militar de Israel contra a Faixa de Gaza nesse período, se tornando uma prévia do que vem ocorrendo nesses últimos meses. Para ter uma ideia, em 2014, quando os israelenses abriram fogo, o conflito levou à morte de 2.251 pessoas e mais de 11.000 feridos, segundo fontes palestinas e das Nações Unidas. 
 
Esse ataque na região iniciou no dia 08 de julho e foi até o dia 26 de agosto e a origem dessa devastação da ofensiva militar israelense contra a Faixa de Gaza teve início após a Autoridade Palestina (AP) e o Movimento de Resistência Islâmica Hamas constituírem um segundo governo palestino unitário, na Cisjordânia e em Gaza. Diante disso o Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu exigiu que a AP escolhesse entre a paz com o Hamas e a paz com Israel. Netanyahu sentiu uma ameaça pela reconciliação entre as duas principais entidades palestinas, 
 
Para piorar a situação diante do dilema proposto por ele, nesse período três colonos israelenses desapareceram na Cisjordânia, incidente esse que Israel culpou o Hamas, embora não tivesse nenhuma evidência para o que alegavam. Netanyahu também declarou que o sequestro demonstrava que o pacto de coalizão entre as entidades palestinas não poderia ser tolerado.
 
Mesmo com a negativa dos comandantes do Hamas diante desse desaparecimento, surgiu a revelação da Autoridade Palestina, que apontou o clã Qawasameh, um grupo interno do Hamas que agia aleatoriamente. Foi apontado que os sequestros dos colonos teria sido motivado como vingança pelo assassinato de dois adolescentes palestinos por militares de Israel, na autópsia dos jovens foi reconhecido sinais de execução.
 
Em vista dessa situação conflitante, houve uma repressão israelense na Cisjordânia, que resultou na morte de onze palestinos e dezenas de feridos. Foi tentado um cessar-fogo na ocasião, porém diante de uma confusão em recusar exigências do Hamas, Israel sinalizou o início da “Operação Margem Protetora”, no dia 07 de julho de 2014.
 
 
Foram lançadas por Israel 400 toneladas de bombas contra Gaza nas primeiras 48 horas. Desse início até o fim do levante, foram cerca de 6.000 ataques aéreos contra o território litorâneo de 365 km², que nesse período montou uma estrutura de repressão de guerra até então inédita na história dos dois países, com um cerco militar rigoroso
 
O resultado do bombardeio mobilizou cerca de 500.000 pessoas; sendo que 300.000 civis foram forçados a buscar abrigo nas escolas da ANUARP (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina). O caos foi instalado nas estruturas da cidade, em bairros, comunidades que derreteu a rotina ordeira dos palestinos - sem envolvimento político ou afinidade com o Hamas -, afetando o fornecimento de energia elétrica das casas e edificações mais antigas, sendo que os hospitais foram os mais prejudicados, deixando milhares de pacientes sem acesso a cuidados médicos.
 
É esse cenário de caos absoluto na Faixa de Gaza que vamos encontrar o jovem Mohamed Jabaly - ele tinha 23 anos na época -, com a sua câmera registrando a mobilização dos paramédicos e populares no resgate de vítimas de bombardeios em bairros populosos. Ele narra em textos curtos, a sua dor e a demonstração de lamento diante da destruição de casas, prédios, corpos sendo resgatados, familiares, médicos mesmo, chorando em desespero pela destruição que vão testemunhando, mesmo diante do risco de serem bombardeados a qualquer momento.
 
Mohamed conta que no início os paramédicos acharam estranho ele ficar com a câmera ligada o tempo todo registrando a ação deles no resgate das vítimas, mas depois compreenderam que o que ele fazia era importante, como registro da história de um povo, de uma comunidade étnica que estava sofrendo uma derrocada nunca antes vista na sua história.
 
O seu interesse em filmar esses fatos da guerra foi depois de ver a sua vizinhança ser bombardeada e testemunhar a luta ferrenha dos paramédicos em resgatar as vítimas de prédios. A partir de então, mentindo para a sua família ele resolveu fazer todo o registro como forma de produzir um documentário mostrando o trabalho desses profissionais médicos. 
 
O feito é notável.
 
Não espere imagens de qualidade, uma sequência cronológica rigorosa sobre os fatos registrados, mas entenda que o que Mohamed mostra é a realidade que foi factual no seu tempo, com dramas poderosos, ações inesperadas e o medo constante de morrer ao acompanhar dentro de uma ambulância - seja de dia, a noite ou de madrugada - o trabalho corajoso e suicida. 
 
 
Em meio as sequências de busca de vítimas acompanhando de dentro da ambulância, somos testemunhas de explosões, sons constantes de tiros, clarões e fumaça nas regiões populosas de Gaza, Mohamed nos coloca dentro da ação da guerra como participantes dessa tragédia. 
 
Tem um efeito narrativo tenso, constantemente catártico, a ponto do diretor ser quase uma vítima de uma explosão quando os paramédicos vão a noite para um conjunto de edificações às escuras em busca de vítimas e ocorre uma explosão bem ao seu lado. A câmera registra tudo. 
 
A trilha sonora minimalista, discreta pontua alguns momentos chaves, não interfere, apenas solidifica as cenas impactantes de desespero das vítimas, famíliares, não dando tempo de processar um respiro diante dos lamentos, gritos de revolta de quem perdeu tudo ou ainda busca o resto do corpo de um parente. 
 
“Ambulância” é um documento forte, poderoso e impactante diante dos destroços que vão se acumulando na comunidade palestina, inerte, parelha com a tolerância de serem vítima e sofrer as consequência de uma guerra estúpida. 
 
Se tiver oportunidade assista, é um dos mais contundentes documentários já feito sobre a Faixa de Gaza. 
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