Nascido em Porto Velho, ou seja, (PO)- puro sangue de origem, li com bastante atenção o artigo do professor José Nazareno, paraibano, radicado nesta maravilhosa cidade, publicado no site RONDONIAOVIVO, com o título: PORTO VELHO UMA CIDADE SEM SÍMBOLO: Aproveitei para ler também o desabafo do jornalista Zé Katraca, do Diário da Amazônia sobre o tema ,em que retrata os devaneios linguísticos daquele que se intitula Esposo, Marido, Companheiro, Amante e Amigo de Francisca Pereira de Paula e pai do Ricardo Augusto e da Rafaele Emilia.
Nascido sob o signo de virgem do ano zodíaco Cachorro, Nazareno retrata o seu incoformismo com o símbolo da cidade de Porto Velho ser as Três Caixas Dàguas, ou ( Três Marias). Para ele, não se admite um monumento como esse em vista dos que são famosos como o Pão de Açucar, o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, a Torre Eiffel , em Paris, o Coliseu em Roma, o Elevador Lacerda, na Bahia, a Estatua da Liberdade em Nova Iorque e por aí vai. Para ele, que diz ser formado em jornalismo e professor de redação e gramática, não é possível que a Capital de Rondônia possa ter três caixas como símbolo e vai mais longe: “ Vistas de longe parecem querer imitar o órgão sexual masculino de três jumentos emparelhados”.
Nascido nestas barrancas do Madeira, não poderia, diante de tudo o que li, permanecer inerte como um Jeca Tatu, como diz o professor Nazareno. Queria imediatamente procurar o professor para lhe dizer umas boas verdades, mas me contive e fiquei a pensar. Reli o texto e comecei a observar com bastante detalhes que este mestre comedor de rapaduras ( nada contra as rapaduras que são produtos e exportação brasileira), está mesmo precisando de tratamento médico psiquiátrico. Fui mais longe e, verificando, como se auto afirma no seu blog : ESPOSO, MARIDO, COPANHEIRO, AMANTE E AMIGO de Francisca Pereira de Paula e PAI do Ricardo Augusto e da Rafaele Emília. Gosta de TODAS AS MUSICAS, mas não consegue definir nenhuma de sua preferência. Gosta de TODOS OS FILMES e, da mesma maneira, não consegue expressar uma escolha, um gênero, pensei: Esse paraibano tem problemas...
E não foi por acaso, que esbarro num brilhante trabalho de Monica Rebolças, que trata Sobre a Sexualidade em Freud e não precisei me aprofundar na leitura para perceber os verdadeiros distúrbios do professor Nazareno, principalmente quando observo em seu texto que seus olhos não podem mirar um mastro, um poste uma caixa d´água ao estilo inglês que logo a sua mente o remete para um pênis e, para ele, um falo avantajado como de um jumento, animal comum nas terras áridas do sertão paraibano, onde nascera. É só olhar com mais atenção o trabalho científico de Monica que fica bastante claro o porquê de tanta raiva do professor com as Caixas Dáguas. Vejamos o que diz o trabalho:
“ Na teoria freudiana o conceito de unidade é relembrado com a proposta do mito hermafrodita, citado no banquete de Platão por Aristófanes para justificar a sexualidade. Para o mito proposto na teoria de Freud o homem em busca da unidade procura a outra metade – diferente – fora de si tentando resgatar o corpo único não diferenciado. Esta busca é imperativa, ela exige a resposta única.
De forma esquemática podemos descrever que Freud foi um dos pensadores da humanidade que mais se concentrou na sexualidade humana e que a considerou sob diversas formas ao longo de sua obra:
- Estuda as afasias apresentando um psiquismo como aparelho de linguagem e atribui, de forma biológica, a sexualidade como causa de doenças.
- Evolui para a universalidade dos fenômenos sexuais nos seres humanos e estabelece a ligação com representações verbais como sendo características de um “pré consciente” e o desligamento entre a representação de palavras e representação de coisas correspondentes como sendo um “recalque”
- Denuncia uma sexualidade polar feminina e masculina relacionadas ao falo – não ao pênis – mas ao FALO, que é faltante e por isso se representa como símbolo e necessita da linguagem para contornar esta falta.
- Define a energia que preside os atos humanos como de natureza pulsional pondo em relevo a energia sexual chamada – LIBIDO, presente na relação entre a representação da palavra e do objeto de forma simbólica.
- Instala o conceito de inconsciente que se identifica com objetos internos incognoscíveis pelo mundo externo constituído pelo recalcado e cria o método psicanalítico que privilegia a fala dirigida a um outro como instrumento de associação livre passível de alimentação através da relação com o analista (transferência) e que poderá evoluir para a tarefa da decifração de um saber inconsciente que se experimenta progressivamente com a falta da palavra que representa o que se quer falar e corresponde ao que vem a chamar de “rochedo da castração”, o ponto incurável.
O conceito de “falo”, em Freud, é a compreensão: da ambivalência contida no complexo de Édipo e evolui para a do poder contido no pai, detentor da lei, que deverá ser respeitado e destituído, simultaneamente gerando a culpa, fundadora da castração.
Há um esforço extraordinário, de Freud, valendo-se da ciência para explicar a fixação do homem na sexualidade genital e é na montagem das fases ligadas ao corpo humano e que percorre toda a vida do sujeito
A sexualidade descrita por Freud segue um caminho de genitalidade, das pulsões parciais, do amor e da libido. A genitalidade se instala através das pulsões parciais. Desde Freud então o conceito de falo é introduzido como símbolo, fugindo do conceito anatômico e seguindo para uma representação .
É a castração que mostra o objeto do desejo; o importante para a constituição do inconsciente não é ter o falo, é não ter. Lacan sugere que o mito é o da lamela criado para “encarnar a parte faltante” justificando o amor como algo narcisista e imaginário.
A busca então não é da outra metade perdida, mas é parte de si mesmo que se perdeu para sempre por conta da constituição do Sujeito através da linguagem.
O que então desencadeia no humano falante, e tão bem desvendado por Freud, o fato de ter uma genitália? Representa o ser na busca do outro. A marca do corpo define uma proposta, uma provocação para que a partir daí se instale o movimento pulsional; exercendo então, digamos assim, um efeito de linguagem. Nesta inscrição o indivíduo tentará se identificar – ele não se vê a si na lousa, ele se olha em seu membro sexual, ele se vê faltante, com a falta encoberta.
Num outro contexto, trago o brilhante trabalho de Jacques-Marie-Émile Lacan, na sua tese de medicina, “Da psicose paranóica em suas relações com a personalidade”, de 1932, que trata da sexuação. Para ele pressupõe uma redefinição do falo, ou da função fálica e uma indagação sobre a sua dimensão universal. A função fálica é a função da castração e o feminino e o masculino estariam representados em fórmulas lógicas, relacionando a castração e sua dimensão universal; é a partir do vazio do sujeito que ele se posiciona na sua sexuação. O vazio, representante do desejo é que permite a alguém poder se posicionar como feminino ou masculino. Não é o pênis nem o clitóris que definem uma posição feminina ou masculina mas sim o modo de relacionar-se com a falta. “
Lacan apresenta as clássicas fórmulas da sua lógica da sexuação que são possibilidades de posicionamento do sujeito em relação ao falo e a castração tornando contingentes os efeitos de seu sexo anatômico em relação à estrutura simbólica: “é a busca da qual a obra de Freud testemunha, de todos esses diversos detalhes aos quais o desejo está enganchado e que a aparência de uma pessoa não se apresenta senão como vestimenta do que se trata de encontrar ”.
Acho que não preciso escrever mais nada. Só me resta agora, pedir ao meu amigo Aparício Carvalho, psiquiatra dos bons, para ajudar esse professor aloprado que deve estar sofrendo de uma crise existencial.
Professor, vá se tratar.
*Rubens Nascimento - Jornalista, capial, matuto e morador de Porto Velho.