Política em Três Tempos
Por Paulo Queiroz
1 – ECOS DO “ECOSOFIA”
O destinatário das indagações enviadas a esta coluna em busca de maiores detalhes sobre o projeto “Ecosofia” (mencionado na edição de 07.09 destes “Três Tempos”), na verdade, está na outra ponta do endereço de e-mail “raibremartins@bol.com.br”, onde atende o responsável pela concepção da idéia, o filósofo e professor Raimundo Martins, da Faculdade de Filosofia de Rondônia (FCR) e de mais uma pá de instituições de ensino superior do pedaço. Mas como o digitador que a atenção vos seqüestra tem algo a ver com o peixe, para evitar que tenham perdido a viagem os que aqui chegaram, seguem algumas informações com a ressalva de que talvez a coluna se tenha precipitado ao adiantar intenções de um empreendimento que, não obstante em fase de retoques no acabamento quando à formulação, ainda está por existir no campo operacional.
Trata-se de um projeto de atividade de extensão concebido pelo filósofo Raimundo Martins e proposto aos alunos do 2º período do curso (presencial) de Filosofia da FCR (a instituição também oferece este e mais um punhado de cursos superiores na modalidade à distância) – acatado pela turma e já contando com a adesão de pelo menos outro de seus professores – o também filósofo Pedro Vicente. Grosso modo, o propósito é tentar propiciar momentos reflexivos, através de atividades culturais, aos estudantes de escolas de Porto Velho, com intuito de auxiliá-los no conhecimento e prática dos valores humanos e sociais, bem como no engajamento consciente na vida social.
À reclamação de um dos missivistas – que se identificou, sem especificar a condição (aluno, professor...), como da “Escola João Bento” - adianta-se que a proposta não se esgota nas mencionadas escolas Carmela Dutra e Barão do Solimões. Reiterando a advertência de que à proposta ainda faltam possíveis retoques finais – eventuais inserções que podem resultar da seleção de sugestões que estão sendo encaminhadas -, seguem-se alguns dos principais excertos do texto que dá suporte ao projeto:
2 – PROPOSTA CIDADÃ
“Considerando a falta de perspectivas e o ceticismo generalizado em que se encontram os jovens e adolescentes, em Porto velho e em todo o Brasil, devido à ineficiência da educação formal, a desestruturação da família, os maus exemplos das autoridades políticas, a especulação da mídia acerca de temas que pejoram os valores humanos, há necessidade de se criar projetos que venham contribuir para o processo de humanização desses futuros gestores dos bens públicos, atuando na política, no ramo empresarial e nas diversas atividades sociais como agentes de transformação da sociedade”.
“A verdadeira cidadania não se constrói por decretos ou quaisquer mecanismos legais apenas e sim pela efetiva participação das pessoas nos processos sociais e no usufruto dos benefícios que devem sem socializados a todos. Para que isso aconteça é imprescindível à boa formação do caráter e do senso crítico àqueles que serão os protagonistas das mudanças que precisam acontecer na sociedade”.
“É por essas razões que a FCR através o Projeto ECOSOFIA (do grego: casa da sabedoria), sob a coordenação dos acadêmicos do II Período do Curso de Filosofia presencial, dos professores Raimundo Martins (História da Filosofia) e Pedro Vicente (Lógica) pretende desenvolver seu papel social, através de atividades de Extensão Universitária, proporcionando momentos reflexivos, através de atividades culturais (artísticas - literárias - lúdicas), aos estudantes de algumas Escolas de Porto Velho com intuito de auxiliá-los no conhecimento e prática dos valores humanos e sociais, bem como no engajamento consciente na vida social”.
“Uma característica marcante do projeto a flexibilidade da coordenação no que concerne às adaptações, inovações e outros valores que poderão ser agregados ao mesmo no decorrer do seu desarrolho. Tanto é que não pretende terminar com as atividades que encerram o ano acadêmico, a intenção é continuar se expandindo para que possa atender o maior número de jovens possível.”
3 – SOBRE MUDANÇAS
Por não se tratar de um projeto de pesquisa, mas de uma atividade de extensão e ação social, o “Ecosofia”, desde o seu delineamento inicial, conta com a participação efetiva de acadêmicos e seu desdobramento incidirá no envolvimento da comunidade educativa das escolas comprometidas com suas atividades. Como se pode depreender das ligeiras pinceladas aí espraiadas, o projeto almeja à expansão e à continuidade e é tanto mais legítimo porque gestado a partir do desassossego de professores.
As questões que os inquietam são de “todos” conhecidas – validadas as restrições que a nefanda natureza do sistema impõe a realidade desse “todos” -, posto que há tempos delas bastante se ocupam os meios de comunicação, os estudiosos, as autoridades, enfim, os próprios políticos – que são, desafortunadamente, os que mais parecem se mexer e, por apenas parecer, permanecem sempre no mesmo lugar. Fala-se do modelo de democracia que nos governa, dos mecanismos que para muitos já estão engastados ou deixaram de funcionar, dos vícios que medraram em meio a essa fadiga e ameaçam estancar o curso das nossas existências. Fala-se do concreto da vida social, da necessidade de participação e das mudanças que a realidade parece já estar a exigir.
Mas é o leitor que se interessar pelo assunto – e a prudência, mais que a sabedoria, recomenda que se interesse – quem, em última análise, vai dizer se é ou não razoável clamar por tais mudanças. Diz-se prudência para tentar não deixar ninguém ser incluído entre os “idion” de que já nos falavam os sábios da Ágora. Não queira, leitor, ser tomado como um tal, porque na antiguidade grega um “idion” era aquele indivíduo que, mesmo tendo as condições necessárias à participação nas assembléias, se negava a fazê-lo, originando daí aquilo que se conhece como idiota. Em vez disso, o que se quer é tratar todos como “isoi”, que significa “iguais” e vai originar “isonomia”, indicando a indistinguível participação de todos os cidadãos no exercício do poder.