SETEMBRO 05: Filme sobre ataque é uma aula para o curso de jornalismo - Por Marcos Souza

Filme foi indicado ao Oscar de melhor roteiro este ano

SETEMBRO 05: Filme sobre ataque é uma aula para o curso de jornalismo - Por Marcos Souza

Foto: Reprodução

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Quando estava fazendo faculdade de jornalismo, há mais de 20 anos, existiam disciplinas onde filmes eram exibidos como extra-aula para que fizéssemos trabalhos de pesquisa e análise, por vezes para debate ou um trabalho escrito. Os filmes que os professores indicavam tinham a ver com o jornalismo, um tema, uma proposta de trama que envolvia o trabalho jornalístico.
 
Preciso contextualizar. O meu trabalho de encerramento de curso, o famigerado TCC, era sobre cinema e perfis de jornalistas com base em personagens de filmes de jornalismo.
 
Quem dera eu tivesse esse filme, “Setembro 05” (September 05/2025), na minha lista de pesquisa e estudo na época, pois seria um prato cheio para qualquer disciplina do curso de jornalismo e um ideal do verdadeiro exercício da profissão na execução de uma pauta tensa, imediata e que exige trabalho, apuração, checagem e decisões que podem comprometer a credibilidade não só de um veículo, aqui, no caso, de uma das maiores empresas de comunicação televisiva do mundo.
 
 
“Setembro 05”, escrito e dirigido por Tim Fehlbaum, foi indicado ao Oscar de melhor roteiro este ano, e já se encontra disponível no catálogo do serviço de streaming da Paramount. E, antes de tudo, é correto afirmar que se trata de um filmaço com ‘F’ maiúsculo.
 
Baseado em fatos reais, o filme retrata 48 horas da cobertura televisiva da rede TV, através da ABC Sports, que estava com uma equipe de esportes transmitindo, pela primeira vez para o mundo a cores e ao vivo uma Olimpíada, os jogos em Munique, na Alemanha em 1972. Esse seria um evento esportivo de grande magnitude por uma série de situações em relação ao mundo não só esportivo, como político também.
 
O evento era visto como uma vitrine de boas intenções e relações internacionais da Alemanha, como forma de retratar os horrores da Segunda Guerra Mundial, principalmente por receber Israel como um dos países integrados às competições olímpicas.
 
As 48 horas referentes ao filme se devem ao fato de que, no dia 05 de setembro de 1972, teve início uma invasão terrorista na Vila Olímpica, quando um grupo com oito palestinos, intitulado Setembro Negro, fez reféns membros da delegação israelense. Logo no início, mataram dois atletas e ficaram com outros nove reféns. O plano era que, com esse ato, Israel libertasse 200 prisioneiros palestinos e dois membros da Fração do Exército Vermelho – também conhecidos como Grupo Baader-Meinhof – detidos na Alemanha.
 
A partir desse fato, entra o grande trunfo do filme: retratar, de forma direta e tensa, como a equipe televisiva de esportes da ABC, que montou um estúdio e tinha equipamentos mais modernos na época para transmissão via satélite, teve que mudar o direcionamento de sua transmissão jornalística para o factual, cobrindo o ataque terrorista e as consequências em tempo real dessa ação.
 
Vamos acompanhar todos os bastidores da produção, desde as primeiras informações, passando pela estratégia de transmissão, uso e recursos de checagem de informação em tempo real, captação pirata da radiofrequência da polícia para obter informações antecipadas, e toda a equipe técnica de plantão, trabalhando até mesmo com gambiarras para fazer atualizações progressivas ao vivo dos acontecimentos na Vila Olímpica. Uma das sortes da rede ABC é que seu estúdio switch com a redação foi montado próximo ao local onde ocorria o ato terrorista.
 
 
O presidente da ABC Sports, Roone Arledge (Peter Sarsgaard), comanda o grupo de técnicos e redação na transmissão e deixa, nos ombros do chefe da sala de controle da TV, o produtor Geoffrey Mason (John Magaro, excelente atuação), a responsabilidade de comandar a equipe externa e interna na transmissão dos fatos. Ele conta com a ajuda crucial da jovem Marianne Gerbhardt (Leonie Benesch, incrível), tradutora que fala alemão e consegue as melhores informações para a equipe.
 
O diretor Tim Fehlbaum concentra toda a ação no trabalho hercúleo dessa equipe, onde concentra todo o poder de imersão em como essas pessoas, profissionais e técnicos, precisam lidar com uma ação terrorista ocorrendo em tempo real e eles detêm o poder de informar, transmitir para o mundo o que está acontecendo sem errar. É um feito inédito e catártico, pois, quando a polícia alemã tenta negociar com os terroristas e, ao mesmo tempo, tenta encontrar uma solução satisfatória para resgatar os atletas reféns, o comitê olímpico continua realizando algumas competições, mesmo sob protesto de alguns atletas solidários aos israelenses.
 
A direção é precisa em criar tensão quando cada informação a respeito do que está sendo feito é transmitida após uma série de checagens, verificações e recolhimento de imagens da equipe externa. Lembrando que, nesse tempo, as câmeras utilizavam rolos de fitas de 16 mm, que eram reveladas para depois serem transformadas (editadas) em reportagem.
 
O apuro do designer de produção, assim como o uso de equipamentos televisivos do início dos anos 70, é um primor nesse filme. Todo o processo de captação, uso de câmeras da época, revelação do filme, decupagem, a sala de controle (que chamamos de switch), com processadores analógicos e uso de gráficos manuais, é muito bem retratado, dando autenticidade ao período e tornando o filme mais próximo da realidade que retrata.
 
Em recente entrevista para divulgar o filme, o ator John Magaro sintetiza muito bem o retrato do que foi o trabalho da ABC Sports diante de um fato inédito e brutal:
 
 
"Esse dia mudou a mídia para sempre. Foi a primeira vez que um evento horrível como esse foi compartilhado globalmente via satélite na TV ao vivo e foi inovador na época. Houve tanto entusiasmo em torno da oportunidade de transmitir ao vivo globalmente as Olimpíadas de 1972 e ter isso dominado por esses eventos trágicos mudou a mídia para sempre", concluiu o ator.
 
Quem conhece a história desse fato, do atentado terrorista nas Olimpíadas de Munique, sabe muito bem como acabou e o desastre que foi o trabalho da polícia alemã, totalmente despreparada para lidar com ataques dessa natureza.
 
O filme talvez — eu escrevo talvez — peque por não entregar uma contextualização geopolítica sobre os acontecimentos que envolveram a ação terrorista do grupo Setembro Negro contra os atletas israelenses e a forma como isso repercutiu depois. Alguns críticos questionaram esse posicionamento do roteiro do filme, que se situou no teor dramático da cobertura televisiva sendo mostrada pelo ponto de vista dos bastidores.
 
 
Porém, eu vejo isso de forma muito positiva, pois “Setembro 05” é um filme forte, muito bem realizado e que serve para ser usado como referência de estudo e análise crítica para as faculdades de comunicação, onde pode abrir discussões não só sobre ética jornalística e checagem de informação, mas também sobre a maneira de os acadêmicos estudarem a contextualização dos fatos que são mostrados.
 
Filmaço. Recomendo muito.
 
Caso você se interesse em saber as consequências do que foi esse atentado para Israel, o diretor Steven Spielberg fez o ótimo “Munique” (2005), que mostra a primeira-ministra israelense, Golda Meir, dando carta branca para que agentes do Mossad assassinem, ao redor do mundo, 11 palestinos envolvidos no planejamento do ataque terrorista, comandado pelo grupo Setembro Negro. Outro grande filme.
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