As Forças Armadas estão reservando leitos em hospitais militares, tanto em enfermarias quando em UTIs, para seus membros. Planilhas com dados sobre ocupação de leitos para pacientes com covid-19 mostram que há unidades com até 85% de vagas disponíveis. As informações são da Folha de S.Paulo.
Os dados foram disponibilizados depois que o TCU (Tribunal de Contas da União) determinou a divulgação de informações sobre os leitos destinados a pacientes com covid-19.
O Tribunal investiga supostas irregularidades por parte de Ministério da Defesa, Exército, Aeronáutica e Marinha ao não ofertarem leitos em unidades militares de saúde a civis.
O ministro do TCU Benjamin Zymler afirmou que, “diante de uma carência generalizada de leitos para a internação de pacientes acometidos pela covid-19, é de se esperar que todos os meios disponíveis estejam à disposição da população brasileira, não sendo possível pensar em reserva de vagas financiadas com recursos públicos para determinados setores da sociedade”.
As unidades de saúde militares consumiram pelo menos R$ 2 bilhões do Orçamento em 2020, de acordo com o TCU.
Na planilha divulgada pela Aeronáutica constam 27 unidades de saúde. Dessas, 14 têm leitos reservados a pacientes com covid-19. Com exceção à UTI do Hospital de Aeronáutica de Recife, que tem ocupação de 71,43%, não há mais vagas em UTIs.
Apenas 3 têm 100% de ocupação de leitos de enfermaria. A taxa é de 50% ou menos em 6 unidades –sendo que as unidades de Guaratinguetá (SP), Curitiba (PR), Natal (RN) e Lagoa Santa (ES) têm ocupação inferior a 25%.
O Exército não distingiu os leitos destinados aos pacientes com covid.19. Divulgou a disponibilidade geral. De acordo com o órgão, 23 unidades de saúde têm 366 leitos, sendo que, em 14 delas, a ocupação geral é de 50% ou menos.
As menores taxas de ocupação estão no Hospital de Guarnição de Florianópolis (13%), no Hospital Geral de Curitiba (19%), no Hospital de Guarnição de Marabá (PA) (22%) e no Hospital Geral de Juiz de Fora (MG) (26%).
Existe superlotação em leitos de UTI. Dezenove hospitais do Exército somam 217 leitos, e apenas 3 não têm 100% ou mais de ocupação geral.
No HFA (Hospital das Forças Armadas), a taxa de ocupação de leitos de UTI é de 97,5%. Já os leitos de enfermaria têm ocupação de 57,1%. Dos pacientes em enfermaria, 10% estão na lista de espera por uma vaga em UTI. Os dados da Marinha não foram localizados.
A Folha pediu acesso às informações do HFA, da Marinha, do Exército e da Aeronáutica sobre a disponibilização de vagas para civis.
HFA e Marinha confirmam que os leitos são destinados a militares e seus dependentes. Não houve abertura de vagas a civis. O Exército declarou apenas que seu sistema é voltado aos militares. O órgão não disse se alguma vaga foi destinada a civis de forma excepcional. A Aeronáutica pediu mais tempo para responder.
Em nota enviada à Folha, o Ministério da Defesa afirmou que o número de leitos do HFA não é constante e se adapta à demanda. “Isso acontece não só em hospitais militares, mas também em hospitais públicos e privados”, disse a pasta.
“A informação sobre a taxa de ocupação faz alusão apenas aos dados do dia corrente, pois qualquer número ou porcentagem relacionada à disponibilidade de leitos que vier a ser divulgada de maneira equivocada poderá construir um cenário incerto, que não condiz com essa realidade que muda a todo instante”, declarou.
O percentual de militares da ativa infectados por estarem na linha de frente é superior a 13%, afirmou a Defesa.
“Esse número elevado, somado à grande quantidade de dependentes, militares da reserva, reformados e pensionistas, normalmente de idade bastante avançada, que são atendidos por lei, tem mantido o sistema de saúde das Forças e hospitais militares no limite de suas capacidades, como no restante do país”, falou o ministério.