O jornal eletrônico Rondoniaovivo colocou na semana passada uma enquete a disposição de seus leitores. A enquete consistia no seguinte questionamento: Em qual destas mulheres você votaria para prefeita de Porto Velho? Fátima Cleide, Epifania Barbosa, Mirian Saldanã, Ellen Ruth e Bailarina da Praça.
Mais que um levantamento eleitoral essa enquete tinha como principal intenção medir o grau de inconformidade do eleitorado portovelhense com os nomes femininos que despontam como possíveis representantes no pleito 2012.
O resultado não poderia ser mais simbólico, em primeiro lugar e com uma proporção arrasadora na preferência dos internautas ficou a tradicional personagem portovelhense, Bailarina da Praça (84,97% - 2217), seguido pela Ex-Senadora Fátima Cleide (10,10% - 264) a ex-presidente do PT Rondônia, Epifania Barbosa (2,47% - 64), em quarto lugar a ex-Deputada Ellen Ruth (1,58% - 41) e por ultimo um dos braços fortes do PT rondoniense, Mirian Saldanã (0,89% - 23).
Bailarina da Praça
Elielsa Ramos Freire, tradicional figura da cultura portovelhense, mais conhecida como Bailarina da Praça faz parte do imaginario popular de adolescentes, crianças e adultos que vivem ou viveram na capital de Rondônia. Dançando nas praças, abrindo desfiles civicos, rodopiando em palcos de shows. Esta é a Bailarina da Praça. Um morena de sorriso franco, mãe dedicada e amiga fiel.
Seu jeito feliz de encarar a vida e sua forma humilde de viver conquistou os moradores de Porto Velho, fato que tudo indica que o politicamente sofrido povo portovelhense cansou de figuras imponentes, distantes de nossa realidade, ao invés disso, preferem a humildade e simplicidade. Não é necessário ser intelectual para ser político, basta ser honesto, decente e probo, requisitos que a Bailarina da Praça tem de sobra e falta em algumas das citadas na enquete.
SAIBA MAIS SOBRE A BAILARINA DA PRAÇA - (http://culturaporto.blogspot.com) - Por Elaine Santos
A missão de uma bailarina especial
Elielza Bailarina Ramos Freire, 37 anos, aprendeu a viver de uma forma diferente. Ela descobriu na dança uma maneira de levar sempre consigo um sorriso no rosto, uma alegria no olhar e uma missão a cumprir: tornar as pessoas, no seu dia-a-dia, mais felizes. Uma missão, segundo ela divina, que a tornou uma das figuras mais conhecidas na cidade de Porto Velho. A simples Elielza deu espaço à ‘Bailarina da Praça’. Há 14 anos é assim que ela prefere ser chamada.
“Sempre fui muito religiosa, mas, naquele tempo, quando ainda trabalhava na prefeitura do município de Candeias, fiz uma visita à praça Marechal Cândido Rondon, localizada no centro de Porto Velho, e percebi que faltava alguma coisa – o cenário era basicamente de pessoas sujas, bêbadas e perturbadas”, relembra Elielza, que, após feita a visita, começou a estudar a bíblia. “Foi quando Deus falou comigo e disse que eu descobriria quem realmente era através do povo”, afirma. Em 93, no dia 17 de outubro, Elielza participa de um show de dança em plena praça Jonathas Pedrosa e descobre, pouco tempo depois, que sua missão era apenas dançar para um público completamente transeunte. Verdade ou não, ela continua com esta saga até hoje.
Quando começou a dançar na praça Marechal Rondon – hoje seu principal local de referência - Elielza conta que sofreu com ações de engraxates, menores abandonados e gangues, mas ela não desanimou e com o tempo quem a perturbava começou a respeitá-la. “Chegava bem cedinho, dançava o dia inteiro e só ia embora pra casa após varrer a praça inteira, geralmente lá pelas 3 horas da madrugada”, diz. “As pessoas me viam como uma coitadinha, mas diziam que a ‘Bailarina da Praça’ era legal”, completa.
Todos os dias, a ‘Bailarina da Praça’ segue rumo ao mesmo lugar de sempre com uma motocicleta, um gravador e uma caixa de som amplificada. Não ganha nada para isso. O figurino é de sua autoria, sempre em tons fortes e chamativos.
Para ela, cores da alegria. “Me visto assim porque as pessoas me vêem com um olhar diferente, geralmente de críticas ou pensam que sou maluca, mas elas não sabem que eu adoro críticas e que de maluca eu não tenho nada”, diz a ‘Bailarina’ com um sorriso estampado no rosto. E dá o recado: “eu sou uma pessoa feliz porque tenho muita gente pra olhar”. No som da caixa, o ritmo é o dance music e não é escolhido à toa. “As batidas fazem mexer o corpo inteiro e eu apenas deixo a música sair de dentro de mim”. Trata-se de uma dança completamente inusitada sem qualquer padrão característico a ser seguido por uma bailarina profissional.
Mas as opiniões em torno desta figura dançante são diversas. O estudante Fábio Cruz, 24 anos, vê a ‘Bailarina’ como um ícone de coragem e demonstração de força de vontade. “O que me chama atenção é que ela não se sente envergonhada de ser o que é, apenas uma dançarina de praça pública sem qualquer intento lucrativo” observa o estudante. Já a vendedora Jasmim Silva, 31 anos, não entende bem o real objetivo da ‘Bailarina’. “Dá até pra sentir a alegria que ela transmite, mas o que ela ganha com isso?”, questiona.
Divorciada e mãe de três filhos, Elielza não tem emprego fixo e transmite um segredo no olhar quando indagada sobre o que ela faz para garantir o seu e o próprio sustento da família. Os filhos, por sua vez, respeitam o que a ‘Bailarina da Praça’ faz, mas não querem seguir o mesmo caminho da mãe.
Patrimônio Cultural?
Embora seja tradicionalmente conhecida na cidade, a ‘Bailarina da Praça’ não se considera um patrimônio cultural, como já foi taxada várias vezes por pessoas que, segundo ela, querem “aparecer”. “Realmente inventaram essa história, mas te digo uma coisa: não existe nenhum documento – eu pelo menos nunca vi – que comprove que sou essa coisa de patrimônio cultural”, esclarece. E completa: “é o público que avalia se eu faço ou não parte da cultura regional”.
Elielza diz que nunca foi convidada para uma festa cultural, mas, mesmo assim, nunca deixou de ir. “Geralmente me querem longe de qualquer evento relacionado à cultura e eu acabo participando da festa como se fosse um penetra”, reclama. Para ela, “cultura é valorizar o talento que cada um tem para oferecer, não julgar pela aparência”.
Mesmo sem a devida valorização, ela se sente feliz. Diz que, através da dança, transmite a paz e ajuda as pessoas a buscarem ânimo e realizar seus objetivos.