ARTIGO - A bailarina da Praça - Por Confúcio Moura

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Foto: Divulgação

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A Bailarina da cidade sempre acorda com os sons das ruas. De onde estiver e ninguém sabe a sua morada ela assoma no lugar com velocidade incrível.
O pólen que a atrai é a música e o próprio povo. Se for banda de música ou batidão de tambores ainda mais veloz ela fica. E aparece milagrosamente no meio da festa. Em quase todos os eventos cívicos celebrados à frente do Palácio Getúlio Vargas, eis que surge, inusitadamente, a mesma mulher.
Maquiada a face com tintas fortes. Saia curta para gestos livres. Blusa em cores verdes amarelas. Tiras de fitas longas às mãos. Cabeleira ornamentada como se fosse um orquídea.
Corpo negro adornado com sorriso aberto, branquíssimo. Põe-se a cantar, marchar e a dançar aos dobrados da banda ou das batidas fortes das fanfarras.
Pernas e braços roliços ritmados. Uma coreografia nativa que encanta. Impõe respeito como se a sua apresentação fosse programada pelo cerimonial. Consegue atrair o olhar de todos com terna admiração. Sua incrível flexibilidade, joga-se ao chão, pernas abertas, cola-se à calçada sem esforço e dor. O sorriso sempre fulgurante.
No dia primeiro passado, abertura da Semana da Pátria, o seu espetáculo foi o maior. Ela coreografou poesias. Alguém disse que ela poderia ser palavra em si mesma. Porque ela é o poema que faltava à Rondônia. Se é perfeita de mente e razão ninguém sabe. Porque ninguém pergunta ao poeta se ele tem faculdades mentais equilibradas.
O que nos interessa é o espetáculo. Porque a Bailarina da Praça é tudo aquilo de fantástico que surge no marasmo do dia. Só ela se põe a mostrar na espontaneidade de vida de maneira tão simples.
Ela nos traduz com a rebeldia que não sabemos fazer. O que nos falta sobra nela. Nada cobra, ninguém a apresenta, nem a aplaude, ela surge como um raio que entra pelo telhado. Ela nos agrada com a sua ingenuidade de criança travessa. A Bailarina faz melhor porque ela se escreve na paisagem de Porto Velho.
É a poesia que não existe, a contravenção às nossas regras, o imprevisível que se realiza. Ela é o mais fantástico absurdo do deslumbramento.

Quem sabe ela não seja a incorporação de todas as nossas lendas amazônicas?

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