1 – BAIXARIAS ÉTICAS
“Coloque-se no seu lugar. Não sou o Garçom. Aqui o buraco é mais embaixo”. Dirigida ao prefeito Roberto Sobrinho (PT), de Porto Velho, no tom auto-explicativo, a frase, do candidato à sucessão municipal Alexandre Brito (PTC) no debate deste domingo (28) da TV Candelária (Sistema Record), é a que mais se aproxima do estado de espírito que se encontra instalado entre os concorrentes do postulante à reeleição na Capital. Diante do pujante cacife eleitoral do projeto situacionista – percebido pela serenidade do administrador, revelado pelas realizações da administração e sancionado pelos elevados índices de intenção de votos de todas as pesquisas – não resta mesmo às oposições muito a fazer, a não ser, talvez, partir para o pau.
E por mais que às almas pias isso possa escandalizar, junto com Adilson Siqueira (o candidato do P-SOL), o deputado Alexandre Brito tem sido a salvação da lavoura no que diz respeito ao empenho para não deixar cair no sono os que se dão ao trabalho de acompanhar esses debates de fio a pavio. Pena que, por conta da blindagem quase que inexpugnável do representante petista, não lhes sobrem muitos rabichos consistentes com que montar bons discursos capazes de concretamente provocar a indignação coletiva contra o adversário comum. Não tem para onde correr. O jeito é apelar – no limite, para as bravatas, de dedo em riste e cara fechada, que é para dar a impressão de que o oponente só não levou uns catiripapos porque amarelou. Faz parte desses shows.
Não confunda, o leitor, alhos com bugalhos. Nem Brito e nem tampouco Siqueira romperam aquele pacto assinado lá OAB do compromisso com a ética. É que em cerimônias como aquela o zelo pelo conteúdo é sempre ultrapassado pela preocupação com a pompa e a circunstância. Estamos no terreno da política, onde a ética se apresenta nas situações mais bizarras e quase sempre irreconhecível. Quer um exemplo? Os EUA jogaram duas bombas atômicas sobre o Japão para apressar o fim da guerra. Se foi isso, foi ético.
2 – CANDIDATO-VIDRAÇA
Desse modo, se para Brito, Siqueira, demais oposicionistas e respectivos correligionários Sobrinho é a peste a ser varrida sob pena de a população continuar padecendo miseravelmente, vale qualquer coisa para destruí-lo. Para não dizer que cerimônias como a da OAB são pura frivolidade, servem como álibi para o “candidato-vidraça” da hora tentar se proteger de verdades incômodas caracterizando-as antecipadamente de aéticas (baixarias). Como, espertamente, tratou de fazer Sobrinho.
Felizmente – para o petista, óbvio – as supostas “verdades” com que Brito e Siqueira tentaram enquadrar a gestão revelaram-se por demais inconsistentes (repare o leitor que, embora os demais candidatos também tenham criticado a administração, fizeram-no alusivamente, cabendo à dupla aqui enfocada estabelecer o contraste inaudito).
Claro que as propostas interessam. Mas elas só vão ser levadas verdadeiramente em consideração depois que se demonstrar que os projetos que estão em curso são inconvenientes, desnecessários, imprestáveis ou coisa que o valha. Daí a preocupação primeira dos candidatos que estão em oposição se ater, antes das proposições, às criticas - quanto mais contundentes, mais eficientes.
Nesse sentido, pela tentativa, Alexandre Brito foi o destaque da noite entre os oposicionistas. Impressionou aquela história de que os R$ 10 milhões de combustível gasto em 2007 pela Prefeitura daria para dar mais de uma volta em torno da Terra. Teria sido mais eficiente não ocultasse uma falácia. Para quantos veículos circundar o planeta? Todos os 330 da frota municipal? Enfim, não se deixou claro o que uma coisa tem a ver com a outra.
Não foi mais feliz Siqueira com a história dos R$ 58 milhões gastos pela Fundescola no mesmo período. Considerando que todo o orçamento do município importou em cerca de R$ 350 milhões, Sobrinho não poderia ter comparecido ao debate caso a cifra fosse correta - porquanto estaria na cadeia. Enfim, valeu apenas veemência e o espírito de combatividade.
3 – VIAGEM À ITÁLIA
Para não dizer que Sobrinho tirou de letra todas as acusações que até agora os adversários lhe fizeram – até porque, no frigir dos ovos, tudo perfumaria – restou a viagem mal explicada da professora Lucilene Peixoto dos Reis à Itália com diárias pagas pela Prefeitura. O diabo é que se a professora Lucilene fosse um jacaré teria devorado boa parte do pessoal da Prefeitura (aí incluído o marido prefeito) e, de quebra, feito um lanche com a cabeça do presidente regional do PT, Tácito Pereira. Eis que toda a consistência da denúncia reside na forma como a portaria que autorizou as tais diárias foi redigida. Ou para ser mais preciso: ninguém da burocracia municipal (e nem do PT) foi capaz de identificar quem vem a ser, hoje, a professora Lucilene.
No documento em questão se concede diárias em função do que a mulher do prefeito não é (sua assessora) e se a identifica pelo que, nas suas atribuições, hoje está no segundo plano (professora). Curiosamente, coube a quem pretendeu atacar Sobrinho (como o ex-deputado Daniel Pereira e a imprensa hostil), embora sempre em leituras enviesadas, a identificação correta de quem é hoje a professora Lucilene. Pois apenas no artigo de Pereira e nos títulos e textos da imprensa animosa é que a professora foi referida corretamente – a primeira dama do município. Nem mais, nem menos.
A questão é: tem o município obrigações para com a sua primeira dama? É legítimo, é lícito, é justo a municipalidade pagar-lhe viagens? Meu amigo, pode até não estar escrito em lei alguma, mas no caso dessa denúncia, desde que fique comprovado o caráter oficial da viagem do prefeito, em termos de conseqüências legais, pode vir o Ministério Público, o Tribunal de Contas e até o delegado Protógenes encangado com o juiz De Sanctis – um estagiário de Direito resolve a parada.
Quer dizer, é sim o poder público que se obriga pagar as despesas decorrentes de circunstâncias que à primeira dama o protocolo impõe. E de Istambul para cá, no rumo da Patagônia, um governante em viagem oficial sem a companhia da sua primeira dama é, também para os governados, prejuízo político, diplomático e protocolar. Se não para evitá-los, “noblesse oblige”.
PS - O texto aí acima já havia sido remetido à divulgação pela mídia impressa (final da manhã desta terça-feira-30) quando o digitador tomou conhecimento do artigo “Coletivo de Mulheres repudia atitude desrespeitosa e covarde de candidatos contra a esposa do prefeito Roberto Sobrinho” (ufa! Que título!), postado na noite anterior no site em que navegava. Que só não resultou mais desvairado do que a defesa tentada pelo presidente do PT, Tácito Pereira, por ter o mérito de ao menos informar, com precisão, sobre “as ações diferenciadas” de Dona Lucilene (atenção aí, galera! Enquanto Roberto Sobrinho for prefeito é assim que, de praxe, se deve referenciar à sua mulher. E omita esse “Dona” aí na frente de um Ciro Pinheiro para ver o que lhe acontece!).
Pois bem. Mas se o artigo justificadamente informa sobre a “sua capacidade de organizar ações legítimas e de valor social irrefutável” (na mosca), padece da mesma desonestidade intelectual das perorações do dirigente petista, principalmente quando apela à questão de gênero para tentar vitimizar a primeira dama. Sem falar na demagogia pé-de-chinelo que pretende interditar a presença da mulher do prefeito aos “salões da cidade” em nome de um pudor ante a realidade atroz e recorre à manipulação de ritos para tentar emprestar-lhe a imagem cândida – diz-se que em vez do “Chá da Cinco” faz o “Chá da Cidadania” (que merda é essa?).
Bem medido e bem coado, o artigo inteiro é mais um recorte da esquizofrenia do PT, de certo PT, que ainda se enxerga – ou finge - como um partido de trabalhadores. Aliás, não foi outra coisa senão uma pulsão dessa esquizofrenia que produziu a portaria das diárias para a viagem a Itália omitindo a condição de primeira dama da beneficiária – razão capital dessa confusão. Elucidativo dessa enfermidade é a “busca de dias melhores e mais justos para todos e todas” com que se conclui o artigo. Quem dera!
Acorda aí, gente! Essa busca só anda dando sinais de vida em alguns países d’além fronteiras – mormente Bolívia, Equador, Nicarágua e Venezuela. Por aqui vai continuar tudo na mesma, principalmente enquanto Lula (PT) permanecer lambendo as botas dos banqueiros, puxando o saco dos usineiros e espoliando a classe média para fazer caridade aqui embaixo.