QUEIMADAS - Setembro Negro – Por João Alberto

QUEIMADAS - SETEMBRO NEGRO – Por João Alberto

QUEIMADAS - Setembro Negro – Por João Alberto

Foto: Divulgação

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SETEMBRO NEGRO
 
 
A lua, digo, o sol a pino, vermelho.
Nas ruas de Porto Velho, os olhos ardem, ao se chocar com árvores vaporizadas.
A mancha negra no céu aprisiona o calor insuportável.
Velhos e crianças frágeis morrem nos hospitais.
Por uma causa nobre, a guerra, para exterminar a biodiversa hiléia.
O combate ao inimigo indômito, pagão, cheio de insetos, animais.
e uma infinidade de plantas inúteis que não se adaptam aos tempos modernos.
À ferro e fogo, transformar o inferno verde em campo,
O complexo no simples, a floresta em deserto.
A guerra justa para que a civilidade vença a ignorância.
 Onde o cândido boi possa reinar soberano com os eleitos grãos do campo
 
Gringos, vindos do sul, levas de sem terras e outros excluídos
Qual bandos de gafanhotos, a avançar ciclicamente sobre a inútil, até o último pau.
Salve os melhores guerreiros: grileiros, madeireiros e pecuaristas
Glória aos políticos aliados, que ardilosamente neutralizam órgãos, leis
e as forças alienígenas que insistem em defender a inútil floresta.
Irmanados para construir o glorioso latifúndio agropecuário, a macaqueada cultura country e apoteóticos rodeios.
 
Especial atenção deve ser dispensada aos inimigos do deserto.
Os povos da floresta, preguiçosos e indolentes, que se não eliminados a tempo.
Manterão ilhas verdes a contaminar o ambiente.
Alimentando atávicos sentimentos adormecidos no povo.
A santa inquisição deve combater com rigor mitos e saberes da floresta.
Continuar enviando para as malocas e comunidades ribeirinhas
os mais cruéis pastores e técnicos para debelar os  deuses e a sabedoria florestal.
Propalar as religiões do deserto, o culto ao “bezerro de ouro”, os céus, a quem destruir a incômoda diversidade.
 
Nas cidades e comunidades distantes, combater costumes retrógrados.
Do uso de produtos da floresta diversa.
Valorizar o santo boi branco que come a floresta e impede sua regeneração.
E os grãos que alimentam a sagrada carne vermelha em outras plagas.
 
Almas do deserto, regozijai-vos e avante
As cinzas suspensas no ar provam
Estamos vencendo a batalha !!!
Amazônia, a maior floresta do planeta, está rendida e humilhada
De joelhos ante o avanço da civilização vencedora
Direito ao esquecimento

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