1 – CONFÚCIO MOURA
Entre as declarações políticas mais importantes da semana que passou, tem valor relativo a do prefeito Confúcio Moura (PMDB), de Ariquemes, pré-candidato ao governo, extraída pelos jornalistas do site “Rondoniagora” e postada na manhã desta sexta-feira (23). De acordo com a notícia – depois reproduzida por uma pá de sites -, o pré-candidato peemedebista disse que “o PMDB será cabeça de chapa e não aceitarei ser candidato a vice”. No que diz respeito à verdade dessa declaração, segundo as cartas que estão na mesa, o peemedebista só pode responder pela segunda metade da sentença, não obstante ter oferecido argumentos que também o autorizariam a assumir a responsabilidade pela parte inicial.
Que Confúcio Moura não será candidato a vice-governador, assim será se assim o diz. Sua trajetória, os reiteradamente declarados princípios por intermédio dos quais a tem orientado, mais do que sanciona a verdade dessa afirmação. Disso dá cabal testemunho o enorme respeito público que zelosamente fez por merecer. Quanto à decretação de que o PMDB será cabeça de chapa, aí já são outros quinhentos.
Claro que, cuidadoso como poucos, Confúcio tratou de amparar essa afirmação em argumentos consistentes. Disse, por exemplo, “que antes de colocar seu nome para apreciação da legenda, pediu garantias (e, pelo jeitão, as terá obtido) à direção regional peemedebista”, entre as quais, a “de que será ele que coordenará as negociações” objetivando estabelecer possíveis coligações. Para reforçar sua razão, o prefeito de Ariquemes acrescentou que antecipará para “abril” sua renúncia ao cargo.
Conquanto a publicação assim o tenha informado, vale a intenção declarada de antecipar a saída do cargo, já que o início de abril é o limite do prazo estabelecido pela legislação para a desincompatibilização dos que exercem cargos executivos e pretendem disputar as eleições de 2010. Pelo rumor que corre, Confúcio estaria cogitando deixar a Prefeitura em dezembro, de modo a tentar estancar eventuais negociações em que a direção do seu partido estivesse conjeturando abrir mão da cabeça de chapa.
2 – VALOR DE TROCA
O poder da manobra, porém, está circunscrito ao âmbito da pressão moral, já que obrigaria o PMDB a considerar o enorme constrangimento público a que estaria vulnerável na hipótese de que, tendo levado o prefeito de um município importante como Ariquemes – e quem leu a notícia terá observado como Confúcio fez questão de e realçar esse detalhe – à renúncia, terminasse por lhe negar a candidatura em favor de uma aliança em que ao partido estivesse reservada apenas a candidatura de vice-governador. Eis que o vice de Confúcio, Márcio Raposo, é filiado ao DEM. E como essa legenda está completamente fora das cogitações dos peemedebistas para 2010, o cargo não tem valor algum como moeda de troca. Pelo contrário.
Diversamente, por exemplo, do que ocorre com o prefeito Roberto Sobrinho (PT), de Porto Velho, cujo vice (Emerson Castro) é do PMDB e é justamente aí que pode ser observado um dos nós da questão. Como se sabe, o alcaide porto-velhense está empenhado até o limite das suas forças numa disputa encarniçada pela indicação do seu partido para disputar a sucessão do governador Ivo Cassol (PP). Caso o consiga – e há mais do que vestígios indicando que a obterá a despeito da estatura dos concorrentes (a senadora Fátima Cleide e o deputado federal Eduardo Valverde) -, vai tentar consolidar negociações segundo as quais a condição para entregar a Prefeitura mais importante do Estado ao PMDB incluiria necessariamente o compromisso de ter o partido no palanque, obviamente, já no 1º turno da refrega.
Ou seja, em termos negociais, as coisas estão nesse pé: com a candidatura de Confúcio ao governo o PMDB perde um Município (a segunda economia mais importantes do Estado, segundo o prefeito) e, em troca, tudo que ganha é a possibilidade de escalar o poder máximo da nação caripuna. Caso a agremiação decida aceitar a condição de Sobrinho, ganha a Prefeitura mais poderosa da Maloca, mas, em compensação, terá que renunciar, mais uma vez, à possibilidade de conquistar o comando da própria maloca.
2 – CAFÉ NO BULE
Pelo que disse Confúcio, ao assumir consigo o compromisso de que ele seria cabeça de chapa, a direção do PMDB teria antecipado essa decisão. Caso, por direção do partido, tenha feito uma referência ao senador Valdir Raupp, presidente regional da legenda, e seus acólitos, o prefeito de Ariquemes terá vendido gato por lebre. Prova? Aos fatos.
Em edição recente, a coluna publicou uma suposta inconfidência do dirigente máximo dos peemedebistas rondonienses segundo a qual, por baixo dos panos, ele teria proposto a Cassol uma chapa em que os dois disputariam o Senado e o PMDB indicaria o candidato a vice-governador (hipoteticamente, o próprio Confúcio) do palanque situacionista. Por todos os meios – aí incluída uma conversa com o colunista -, Raupp tratou de rechaçar imediata e peremptoriamente a hipótese. Nem com reza braba – foi só o que faltou dizer.
Mas em que importe o assunto permanecer no topo de todas as pautas do jornalismo político do pedaço, Raupp jamais objetou uma linha sobre a aliança PT-PMDB, especialmente com Sobrinho na cabeça da chapa. Ao autor destas tortuosas, posta a questão, limitou-se a um sugestivo “se o partido quiser...”
Por fim, Confúcio citou as prévias do dia 14 próximo, em Ji-Paraná, em que o PMDB, com a participação da ex-deputada e ex-prefeita Sueli Aragão (Cacoal), vai indicá-lo como pré-candidato da legenda ao governo como reforço da sua argumentação. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Com a sagacidade que lhe confere a movimentada trajetória, Raupp percebe que o PMDB precisa de um pré-candidato consagrado por uma decisão oficial do partido. Se não for para herdar Porto Velho, é mais do que improvável que dele o partido abra mão. Nesse caso, tentará por cima atrelar o PT ao palanque valendo-se do fato de que o presidente Lula da Silva já disse que, na campanha, segregará o Estado em que forem montados dois palanques. Pela mesmíssima razão, mas principalmente pelo café que tem no bule, Roberto Sobrinho permanece como questão em aberto para o PMDB-Raupp.