1 – RESSURREIÇÃO TUCANA
De imediato e no médio prazo, em que importem cogitações de toda ordem, pode-se dizer somente que a única consequência do fuzuê programado pelo PSDB para receber, nesta sexta-feira (25), o senador Expedito Júnior – e no vácuo desse movimento as filiações do deputado estadual Alexandre Brito, da 1ª suplente da coligação “O Trabalho Continua” (PTN / PPS / PFL / PAN / PV / PRONA) na Câmara dos Deputados Val Ferreira, da ex-deputada estadual e ex-prefeita de Rolim de Moura Mileni Motta e da ex-vereadora porto-velhense Silvana Davis – será, sem tirar nem por, a ressurreição do partido nestas profundezas das selvas amazônicas.
Mesmo assim, um renascer circunscrito ao restabelecimento das funções vitais da legenda, significando apenas algo mais que a interrupção de uma jornada agonizante que se adivinhava já nas cercanias do estado terminal. Ou seja, nova vida, sim, mas ainda longe de representar uma reabilitação capaz de devolver à agremiação os seus dias de glória e prestígio em Rondônia.
No entanto, só o fato de ganhar, pelo menos em ato, um representante no Senado e de dobrar de tamanho na Assembléia Legislativa já justificaria a presença nestas margens do Madeira da fina flor do caciquismo tucano, aí plasmada nas figuras de Sérgio Guerra (presidente nacional) e Arthur Virgílio (líder da bancada no Senado) e mais outros cinco senadores da sigla – Marisa Serrano (MS), Flexa Ribeiro (PA), Cícero Lucena (PB) e Eduardo Azeredo (MG). Sem falar que, por aqui, já estão acertadas para ocasião apropriada outras filiações portentosas, entre elas as do deputado Miguel Sena (PV) e do ex-prefeito da Capital Carlinhos Camurça (PMDB), cada qual com sua própria festa.
As apostas, no entanto, são bem mais elevadas. Entre as que se desejam mais auspiciosas, a que diz respeito à construção de um poderoso palanque que possa abrigar a candidatura tucana à Presidência, a essa altura, como informou a coluna anterior, mais factível de vir a ser ocupada pelo governador paulista José Serra. Por poderoso, entenda-se um comboio conduzido por Expedito Júnior a bordo de uma candidatura a governador, mas, principalmente, habitado pelo governador Ivo Cassol (PR), que, na prática, o comandaria.
2 – PLANOS DE CASSOL
Mas como diria o lendário Manoel Francisco dos Santos ao ser instruído por Vicente Feola sobre como golear a seleção de futebol da então União Soviética, faltou combinar com os russos. Quer dizer, não são exatamente esses os planos do protagonista principal. Para Cassol, a única possibilidade – mesmo assim, remota – de Expedito Júnior ocupar o proscênio do palanque oficial na condição de candidato a governador é, na hipótese da sua (de Cassol) cassação se confirmar, o senador ser eleito governador pela Assembléia Legislativa e, nessa categoria, disputar a permanência no Palácio Presidente Vargas (pelas razões já repisadas aqui e alhures).
E a cada dia que passa, diminui a probabilidade de que isso (a cassação) aconteça. Ocorre que dos dois processos que postulam a defenestração de Cassol, o que teve a tramitação suspensa por decisão liminar do ministro Eros Grau, no STF, foi justamente o que estava para entrar na pauta do TSE (o outro, originado no TRE, está com o problema do litisconsorte necessário – o vice João Cahulla -, que não foi ouvido). Mesmo que não se referende a decisão de Grau nesta quarta-feira (30), a fila recomeça a andar com o processo da governadora Roseana Sarney (PMDB-MA). Enfim, são mínimas as chances de que o processo de Cassol, se voltar a caminhar, entre na pauta do TSE antes do recesso.
De modo que, se, como indica o andar da carruagem, o governador não for cassado, vai insistir na candidatura de Cahulla, que assume o governo com a sua (de Cassol) desincompatibilização para postular uma vaga no Senado e, nessa condição, será ungido candidato oficial governista. No que diz respeito a Expedito Júnior, de cuja cassação não se tem mais dúvidas (mais dia, menos dia, a mesa do Senado terá que empossar Acir Gurgacz), o plano de Cassol é formar com ele uma parelha para encarar a disputa das duas vagas do Senado. E é com essa idéia na cabeça que não tem dado sossego aos aliados, procurando convencê-los de que esta não é apenas a melhor solução para o grupo, mas principalmente opção mais vantajosa para o provo de Rondônia.
3 – DOCE VINGANÇA
Como argumento central, Cassol anda esgrimindo o portfólio do senador Expedito Júnior (de fato, extraordinário, já que o parlamentar é reconhecido interna e externamente como um dos integrantes de ponta da instituição), emendando que o Estado sofrerá um prejuízo irreparável caso deixe de voltar a elegê-lo para o Senado. Diz acreditar que o eleitor pensa assim e não vê Expedito Júnior como um bom representante no Executivo, mas como o parlamentar excepcional que é.
Por outro lado, sabedor de que o senador Valdir Raupp (PMDB) tem conversado com Júnior, não necessariamente para cogitar sobre eventuais alianças, mas para estimulá-lo a disputar o governo, Cassol diz ter matado a charada. Primeiro, o peemedebista estaria interessado em cindir o grupo situacionista, instigando uma candidatura diversa da que se sabe ser da predileção governamental. Depois – e mais importante – agiria assim por estar mais apreensivo do que boi na véspera do abate. Saberia que, com ele (Cassol) e Júnior na disputa ao Senado, suas (de Raupp) chances de reeleição ficam reduzidas a um fiapo.
Apreensões de Raupp à parte, o certo é que, pelo discurso recente, o que se pode deduzir é que Cassol anda fazendo das tripas coração para se legitimar na condição de construtor e comandante do principal palanque da candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência, atropelando nesse percurso o PT e o PMDB locais. Essa glória - tem certeza - tê-la-á alcançado se conseguir trazer Júnior e a sua nova sigla para o palanque da Dilma (sem verticalização, tudo é possível), o que, de lambuja, permitir-lhe-ia vingar-se das humilhações que julga ter sofrido no PSDB. Neste sentido, aliás, há quem diga Cassol não fez objeção alguma à filiação do senador ao tucanato – confirmou, inclusive, presença na festa - porque estaria certo de que pode fazer dele um cavalo de Tróia na realização dos seus desígnios revanchistas.
Expedito Júnior, por seu turno, contrapõe-se às insinuações de Cassol dizendo que seu tempo de estrada e as pesquisas de que dispõe (39% das preferências para o governo) são mais do que suficientes para não se deixar influenciar por supostas prestidigitações de Raupp – cuja pesquisa lhe confere 42% (ou seja, tecnicamente igual ao índice da sua sondagem, já que a diferença é a margem de erro). Não pretende transigir no seu projeto e, a quase 10 meses das convenções, já o tem quase que completamente estruturado – com nominatas, redes de apoio e o escambau. Por isso está convicto de que Cassol terminará apoiando sua candidatura, rendendo-se às evidências que dão consistência ao seu propósito. Entre elas, a festa de arromba desta sexta-feira – com o cabo-de-guerra que se prenuncia no ar. A conferir.