Política em Três Tempos
1 – “VAL” FERREIRA
Em que pese sido cogitada por dois dos mais bem informados jornalistas políticos do pedaço – primeiro por Robson Oliveira (coluna eletrônica “Resenha Política”) e depois por Carlos Sperança (coluna que leva seu nome no jornal “Diário da Amazônia”) -, uma candidatura para a Assembléia Legislativa (ALE) em 2010 pilotada por Valdelise Martins dos Santos, a “Val” Ferreira, está absolutamente fora de cogitação. Quem o garante são alguns dos políticos que atuaram como seus parceiros de palanque na eleição de 2006 na condição de candidatos a deputado estadual. Agora, com a reiteração da notícia e sua amplificação, buscaram confirmá-la junto à própria “Val” Ferreira, tendo dela recebido garantias para lá de tranqüilizadoras.
Convém ressalvar que os políticos aqui identificados como parceiros de “Val” Ferreira em 2006 e que se dirigiram a estes “Três Tempos”, não obstante a tentativa malograda na eleição passada, mostraram que foram razoavelmente bem votados e, por isso mesmo, pretendem repetir a dose em 2010.
De acordo com esses interlocutores, a 1ª suplente de deputado federal da coligação "O Trabalho Continua" (PTN-PPS-PFL-PAN-PV e Prona) lhes garantiu reiteradamente que não vai disputar espaço com eles em 2010. Não porque lhe falte alento ou confiança para enfrentar o desafio, mas pelo simples fato de que, segundo diz, está convicta de que o marido – o senador Expedito Júnior (PR) – será candidato ao Palácio Presidente Vargas. De modo que, mesmo que os oráculos lhe assegurassem a eleição, nem assim aceitaria disputar a ALE nessa circunstância.
Conquanto não se possa garantir que a idéia não possa ter sido cogitada em alguma ocasião pela própria “Val”, ou seja, dizer que os jornalistas que fizeram circular a informação a inventaram, o fato é que, ao assumir com os parceiros de 2006 o compromisso de não competir com eles em 2010, a mulher Expedito Júnior faz uma revelação importante – atingiu o patamar de certeza o projeto da pré-candidatura do senador ao governo.
2 – BASES CIOSAS
Não fosse isso, “Val” Ferreira não se apressaria em tentar manter íntegros os arranjos de 2006 que possibilitaram a montagem de uma teia de candidaturas proporcionais – notadamente o encadeamento constituído pelas postulações à Assembléia Legislativa – que garantiu ao então candidato Expedito Júnior espantosos 267 mil 728 votos e ao governador Ivo Cassol a reeleição no primeiro turno. Como o sabem os estrategistas do setor, nas eleições ditas gerais – onde são escolhidos o Presidente da República, os governadores, os integrantes do Congresso (senadores e deputados) e os das Assembléias Legislativas -, o conjunto das candidaturas de deputado estadual é que constitui o esteio de todas as demais.
Por essa razão é que um projeto político-eleitoral multipartidário (como o são mais facilmente as propostas situacionistas) que almeje, com seriedade, conquistar ou manter (como é o caso) o poder em um Estado dificilmente se apresentará estruturado com apenas uma chapa de candidatos proporcionais – um “chapão”, por assim dizer, para disputar o controle de Legislativo. Tem-se a consciência de que os candidatos a deputado estadual é que dão capilaridade à disputa majoritária e um “chapão” para o cargo diminuiria a quantidade de candidatos. E o interesse é dar mais amplitude à chapa majoritária (candidatos ao governo e ao Senado), cobrindo todas as regiões do Estado, sem criar insatisfações com as bases. E aqui é que a porca torce o rabo: sem criar insatisfações com as bases – não é redundante repetir.
Sem que se saiba exatamente em que medida, os candidatos à ALE, na mesma proporção em que ajudam a eleger os candidatos majoritários, também são ajudados por eles conforme os seus (dos candidatos ao governo e ao Senado) índices de popularidade. Para não ir muito longe, confira-se o efeito Cassol na composição da ALE na eleição passada. Grosso modo, na percepção do eleitor, quanto mais próximo o candidato a deputado estiver do candidato majoritário bem avaliado, mais chances tem de abocanhar a vaga legislativa.
3 – JAQUELINE CASSOL
Quem já viveu a política o suficiente para não por a mão em cumbuca, na hipótese de estar à frente de um projeto majoritário, jamais vai permitir a presença de um parente em uma nominata de candidatos a ALE. Mas quando a imprudência despreza a imponderabilidade da cumbuca, primeiro sobrevém a confusão na base e, por conseqüência, não raro o comprometimento do projeto. Caso o leitor prefira tirar a prova dos noves, está desafiado a apontar um Estado - afora o Ceará, que é a exceção a confirmar a regra - cujo governador tenha um parente próximo na Assembléia. Aliás, diz-se que a caveira de burro enterrada nos projetos majoritários dos Donadon é a vitaliciedade da candidatura de Marcos à ALE.
Interessante é que a razão disso tudo não é tão racional assim. O parente próximo do candidato majoritário que tenciona disputar uma vaga na ALE só pretende isso mesmo – uma vaga. O problema é que, como se acredita que suas chances são exponenciais, todos os demais candidatos da chapa, cada um de per si, põem na cabeça que a vaga em questão é justamente a que poderia ser a dele. E o que é pior: que pelo parentesco, a candidatura proporcional marchará favorecida – sob todos os aspectos – durante a própria campanha. E está armado o fuzuê.
Caso o considerado ainda não esteja convencido, recomenda-se procurar informar-se nos bastidores sobre o que está ocorrendo nas fileiras situacionistas da maloca. A mais de um ano da eleição, a hipótese da candidatura à ALE da advogada Jaqueline Cassol, irmã do governador, está no centro de uma avalanche de insatisfações murmuradas entre os pretendentes ao cargo. Confirmada a intenção, vai – claro - gerar uma ciumeira dos diabos a dificultar as alianças. Não obstante, tanto quanto dinheiro, voto não agüentar desaforo, Cassol tem café no bule – como gosta de fanfarronar. Já “Val” Ferreira, possivelmente para não dar chance ao azar e certamente para desimpedir os canais de negociação de Expedito Júnior, apressou-se em tirar o time de campo. Se é que um dia o colocou.