Dilma usará Bolsa Família contra o impeachment
Foto: Divulgação
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O Palácio do Planalto decidiu neste domingo politizar a defesa formal da presidente Dilma Rousseff, a ser apresentada nesta segunda-feira na comissão especial da Câmara que analisa o processo de impeachment. O tom será dado pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, que poderá falar por duas horas. A estratégia será Cardozo explorar argumentos de que, além de não ter cometido crime de responsabilidade, a presidente Dilma tomou uma decisão que ajudou a preservar importantes programas sociais, como o Bolsa Família. O Planalto sustenta que a estratégia contábil, classificada de “pedalada” fiscal pelos acusadores da presidente, foi um mecanismo da relação entre o Tesouro e os bancos previsto em regras contratuais.
A avaliação é que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, foi muito bem na explanação da semana passada, mas ela foi muito técnica.
— O Cardozo é um homem de tribuna. Ele vai misturar improvisos com o que está escrito na defesa — disse o deputado Wadih Damous (PT-RJ), aliado do ex-presidente Lula nas articulações.
O presidente da comissão especial, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), disse que abrirá a reunião desta segunda-feira, às 14h. Acrescentou que a defesa de Dilma deverá ser entregue às 16h30m, e Cardozo falará das 17h às 19h. A participação de Cardozo na comissão especial foi articulada pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Neste fim de semana, a presidente fez uma viagem-relâmpago a Porto Alegre, para visitar a família, e pedalou pelas ruas da capital gaúcha de manhã cedo. Depois, embarcou para Brasília. No fim da tarde, segundo interlocutores, a presidente se reuniu com ministros no Palácio da Alvorada, entre eles o ministro-chefe do Gabinete da Presidência, Jaques Wagner.
— A presidente Dilma nos pediu um voto de confiança para a condução que ela estava dando ao processo — disse um ministro muito ligado à presidente.
O Planalto quer explorar o desgaste da imagem do vice-presidente Michel Temer. O próprio Lula criticou-o abertamente, em evento realizado em Fortaleza, no sábado. A presidente concluiu, em conversa com ministros mais próximos, que é necessário dar um tom mais prático à defesa contra as chamadas “pedaladas” fiscais e não apenas se resumir a aspectos jurídicos e legais de que não houve crime de responsabilidade. A presidente Dilma resolveu que dedicará o dia de hoje às mudanças nos ministérios. Ontem, ela informou aos líderes do governo na Câmara e no Senado que havia cancelado a reunião de coordenação política desta segunda-feira. O ex-presidente Lula também retomará as negociações, a partir de encontro na tarde de hoje.
No plano das negociações, o Planalto está colocando três das seis pastas do PMDB. Deve manter o ministro Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que se reuniu com o próprio Lula na última quarta-feira. O ministros Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Marco Castro (Saúde) devem ser mantidos. Até mesmo o PMDB do Senado, aliado de Dilma, acredita que isso garantiria alguns votos na Câmara de peemedebistas ligados ao líder do partido na Casa, deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ).
Amigo de Dilma, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB), já disse à presidente Dilma que pode dispor de seu cargo. Braga poderá voltar ao Senado, reassumindo o mandato de comum acordo, e cuidar de seus planos para concorrer ao governo do Amazonas. O Ministério de Minas e Energia é importante na negociação e na busca de votos. Petistas também querem que a presidente desaloje a amiga Katia Abreu, porque o Ministério da Agricultura é sempre cobiçado, e a ministra não tem votos. O PMDB já não contabiliza Kátia Abreu como ministra do partido, e ela já busca nova filiação.
Será uma semana decisiva para o Palácio do Planalto nas articulações contra a aprovação do impeachment da presidente. Como ministro, Eduardo Braga tem uma reunião com o colega da Fazenda, Nelson Barbosa. O PMDB do Senado, incluindo os ministros, ainda deve manter contato com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), aliado de Dilma.
No campo político, os petistas vão explorar o que chamam de chapa Temer-Cunha. Os petistas vêm criticando a ligação do vice-presidente com o presidente da Câmara, e usarão a foto do encontro do PMDB do dia 29, na qual Cunha aparece ao lado do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que comandou a sessão que aprovou o desembarque do governo.
— Aquela reunião do PMDB foi um erro. E os erros de outrem melhoraram a situação do governo — disse um ministro.
— O PMDB não desembarcou como um todo do governo, e o gesto deles n ão teve o efeito manada que esperavam — disse Paulo Teixeira.
— Temer é o capitão do golpe, porque ele assumiu o comando — disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), que esteve com Lula em Fortaleza.
Ontem, em seu Facebook pessoal, a presidente publicou uma mensagem repetindo entrevista na qual afirmou que não renunciará ao cargo. Foi divulgada a seguinte mensagem: “Setores da sociedade favoráveis à saída de Dilma, antes apoiadores do impeachment, agora pedem sua renúncia. Evitam, assim, o constrangimento de respaldar uma ação ‘indevida, ilegal e criminosa’. Fica a resposta da presidenta: ‘Jamais renunciarei’”.
Em contrapartida, o vice-presidente Michel Temer está muito irritado com a ofensiva do Planalto. Temer deixou claro ao presidente do Senado, Renan Calheiros, que não gostou da crítica pública à realização da reunião do PMDB no último dia 29, quando, em três minutos, foi aprovado o desembarque do governo.
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