Extrativistas e seringueiros do Rio Mamu padecem diante da omissão do Governo Federal

Os seringueiros ficaram satisfeitos com a presença do diplomata e acreditam que depois de cinco anos de abandono e humilhação, desta vez surgiu uma luz capaz de clarear as negociações que já estavam atrofiadas pela morosidade

Extrativistas e seringueiros do Rio Mamu padecem diante da omissão do Governo Federal

Foto: Divulgação

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Seringueiros brasileiros do Rio Mamu, Departamento de Pando, Bolívia, estiveram reunidos no dia 23 de dezembro de 2011 para avaliar o andamento das negociações diplomáticas que envolvem as famílias que residem nas Províncias Federico Roman e Abuná, ambas situadas na região pandina boliviana.
 
Os seringueiros desobstruíram o Porto Extrema (no dia 14 de dezembro) na esperança de que alguma autoridade do Consulado aparecesse para ouvi-los, mas infelizmente ninguém apareceu e as reclamações de desprezo por parte do Governo Federal Brasileiro foram muitas.

Felizmente no dia 10 de janeiro de 2012 a esperança voltou a reinar na vida dos seringueiros com a chegada de um diplomata da Embaixada Brasileira em La Paz que esteve em Extrema para ouvir as intermináveis denúncias de maus tratos aos nacionais brasileiros do Rio Mamu.

O secretário Geral da Embaixada Brasileira em La Paz, Kaiser Pimentel de Araújo veio trazer esperança àquele povo já desacreditado de tantas promessas e poucas ações. Os seringueiros ficaram satisfeitos com a presença do diplomata e acreditam que depois de cinco anos de abandono e humilhação, desta vez surgiu uma luz capaz de clarear as negociações que já estavam atrofiadas pela morosidade de organismos federais parceiros da negligência e ociosidade. “nossa esperança está depositada neste homem, vamos esperar pra ver o que vai acontecer, eu acredito nele”, disse o seringueiro Luís Piedade a nossa reportagem.
 
Outro seringueiro, Aldair Ozório, ainda está bastante inconformado com a situação, ele disse que espera com urgência a vinda do INCRA em Extrema para dar explicações sobre o possível assentamento em território brasileiro. “Nós temos seringueiro passando fome, pelo menos mandem comida pra nosso povo, isso é uma injustiça, ainda teve autoridade policial que teve a capacidade de vim defender boliviano aqui na beira do rio, isso é um absurdo”, disse Aldair, revoltado com o estado de abandono do seu povo.
 
UM POUCO DO RIO MAMU.
 
 O Rio Mamu nasce nas proximidades do município de Santa Rosa Del Abuná e torna-se afluente do Rio Abunã no município de Santos Mercado. O Mamu possui aproximadamente 140 km de extensão e sua nascente pantanosa, habitat natural de sucuris e da palmeira buriti, encerra seu percurso de muitas curvas no seu último seringal, denominado Jerusalém. Depois do Seringal Jerusalém pode-se avistar as águas cristalinas brotarem desenfreadas e silenciosas meio a um notável pântano que enfeita a heterogeneidade da floresta ainda virgem de nossa Amazônia exuberante. Do outro lado do invejável berço pantanoso, iremos deparar – nos com uma pequena comunidade localizada no Município de Santa Rosa Del Abuná, chamada de Teduzara, que já fica localizada às margens do Rio Orton.( Veja videoreportagem exclusiva)

 Apesar da convivência sadia entre seringueiros brasileiros e bolivianos que ali residem a mais de um século, a partir de 2006 com o advento do Governo Evo Morales, a paz deixou de reinar junto à beleza e a harmonia daquele rio. Zafreros campesinos, oriundos principalmente da cidade Riberalta, e Colhas provenientes dos Andes bolivianos, impulsionados pela política de reforma agrária deste novo governo, partiram rumo a novos assentamentos (coordenados pelo INRA), que ficam localizados principalmente no Departamento de Pando. Os novos assentamentos atingiram os seringais nativos do Rio Mamu, habitados por brasileiros desde os dois primeiros ciclos da borracha, e com maior intensidade a partir da década de 70/80, quando os seringais da Amazônia – Sul ocidental,começaram a ser destruídos para dar espaço a emergente pecuária extensiva na região.

Devido às constantes ameaças sofridas por seringueiros brasileiros e registradas por diversas vezes no Consulado Brasileiro de Cobija e na Embaixada Brasileira em La Paz, o Governo Boliviano foi buscar amparo em sua constituição Federal, onde reza que estrangeiros não podem residir na franja de 50 km de sua fronteira. Ora, o Rio Mamu possui aproximadamente 140 km de extensão, fator que enfraquece a tese do governo sobre a não permanência dos brasileiros no decorrer dos diversos seringais e colocações espalhados ao longo deste rio. No decorrer dos depoimentos pode-se constatar que muitas famílias residiam além da área dos 50 km de fronteira, e nem por isso deixaram de ser ameaçadas e expulsas de seus seringais, tendo ainda que deixar uma vida de trabalho para traz.
 
Os Colhas que foram reassentados em Pando abandonaram os seringais por falta de assistência do Governo Boliviano e por possuírem uma cultura totalmente diferente do extrativismo vegetal. Já os campesinos oriundos da cidade de Riberalta só aparecem no Rio Mamu durante a safra da castanha. Patrocinados por empresas do ramo da castanha, eles chegam armados, se apossam da castanha dos seringueiros e logo em seguida repassam àqueles que financiaram a organização paramilitar.
 
 
Associação de Pescadores e Comissão Pastoral da Terra aderem ao movimento dos seringueiros.

 A luta dos seringueiros está conseguindo apoio de novas organizações sociais que prometem se unir em defesa dos direitos deste povo. A Associação dos pescadores de Extrema já entrou de fato no apoio aos nacionais brasileiros, e esta semana os seringueiros conseguiram apoio irrestrito da Comissão Pastoral da Terra - CPT. O conselheiro da CPT – Porto Velho, e representante da entidade na Ponta do Abunã, o líder sindical Sérgio Brito, disse que a adesão de sua entidade veio para fortalecer a luta dos seringueiros na conquista de seus direitos. Sérgio Brito atuou ao lado de Adelino Ramos, o “Dinho”, em assentamentos localizados próximo ao Distrito de Vista Alegre do Abunã, e atualmente lidera a luta de camponeses pela posse de terras na mesma região. Sérgio Brito esteve na reunião com os seringueiros, e na presença do diplomata, ele prometeu reunir forças para ajudar os seringueiros na luta pela terra. As novas adesões estão dando um novo rumo ao movimento dos seringueiros, pois “novas cabeças” podem pensar diferente do que os seringueiros pensaram e agiram ao longo de praticamente cinco anos de humilhação nos seringais pandinos do Rio Mamu, sem que revidassem com nenhum ato de violência. A ociosidade e a negligência do Estado na região fronteiriça Brasil/Bolívia poderá culminar mais uma vez com o Distrito de Extrema de Rondônia em destaque na mídia nacional, tal como fora na luta pela realização do plebiscito no ano de 2009, quando manifestantes e policiais rodoviários federais travaram uma luta histórica na BR 364 que ficou conhecida como A batalha de Extrema”.

No momento em que o mundo inteiro está pedindo paz, passou da hora das nações vizinhas se preocuparem menos com o petróleo, gás, pré-sal, etc. e olharem mais para os povos tradicionais da Amazônia que estão morrendo à míngua diante da ganância estúpida de certos “líderes” governamentais internacionais que só visam obter um bom superávit em suas balanças comerciais. Os seringueiros brasileiros estão carentes de democracia, eles clamam por dignidade e continuam sonhando com uma solução pacífica para este imbróglio diplomático: o sonho de conseguir chegar à terra prometida, em qualquer canto desta “Pátria Amada”.

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