Falta de compostura e vulgaridade

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Ao compromisso de bem administrar o patrimônio comum, devem as autoridades públicas guardar estrita obediência aos ditames legais e comportar-se como os melhores dos cidadãos. Há como que uma função mercadamente educativa no exercício do poder.

 

Uma das coisas que garante a sociedade contra os abusos de poder é exatamente a liberdade dos atos de autoridade a disposições legais. A conduta do homem público que tem responsabilidades perante seus concidadãos precisa obedecer à lei e, mais que isso, aos princípios de moralidade.

 

O conteúdo da manifestação politica, assim, não se esgota no legal e jurídico, mas é exigente do elemento ético a que se chama compostura. A memória dos brasileiros ainda retém a irada manifestação do então presidente Fernando Collor de Mello, em Brasília. A pretexto de mostrar seu inconformismo com palavras agressivas de manifestantes que pediam a sua cassação, Collor ergueu o dedo do meio.

 

Nove dias atrás, durante uma reunião na qual se discutia a situação do transporte escolar - um pesadelo que se arrasta desde o início do ano passado e que vem prejudicando centenas de estudantes da área rural -, o prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves, teria sido deselegante com um pai de aluno, ameaçando, inclusive, expulsá-lo do local.

 

Recentemente, viralizou pela internet um áudio em que um secretário de Chaves investia com ferocidade canina contra um vereador, dizendo cobras e lagartos sobre o rapaz. Eu, no lugar do prefeito, teria exonerado o sujeito, imediatamente. Pela dissonância que há entre essas condutas e as exigências que a função pública abrange, esse tipo de postura quando muito passará a constituir-se folclore político ou conversa de botequim de quinta categoria, jamais registros históricos a que a sociedade e os estudiosos possam emprestar qualquer valor.

 

Esquecidas de que o exercício do poder tem na sua gênese um caráter educativo, algumas pessoas, quando investidas de cargos públicos, recorrem a palavras chulas e gestos imorais em público, qualquer que seja a alegação. A incontinência verbal, muitas vezes, compromete a própria autoridade e dá aos seus concidadãos a impressão de que se julga, ela também, representante de poder acima da própria humanidade.

 

Confundir indignação com falta de compostura não ajudará em nada a melhorar os padrões da educação da sociedade. No máximo, nivelará por baixo todos os políticos e administradores, fazendo-os todos representantes de uma vulgaridade que empobrece a vida social e dá maus exemplos aos contemporâneos.  

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