Para além das flores e bombons - por Maria Angela

 

Logo no início do mês de março percebi algumas publicações nas redes sociais voltadas para o Dia Internacional da Mulher (08 de março). E, a partir delas, me lembrei que estava chegando o dia em que afloram “homenagens” a nós, mulheres. Automaticamente me lembrei da rosa e do bombom que, indubitavelmente, aparecem em diversas ocasiões durante o dia 08 de março. Às vezes, as flores são trocadas por pequenos vasinhos de plantas. Então passei a refletir como seria bom se todos que quisessem homenagear as mulheres pensassem além das flores e bombons e fizessem um trabalho coletivo para nos oferecer presentes que são urgentes e necessários.

 

Para contribuir com uma reflexão coletiva, trago algumas opções, no mínimo, interessantes sobre qual seria o presente ideal para uma mulher receber. Para começar, bom seria que acabassem as agressões verbais, físicas e psicológicas. E também as agressões morais, sexuais e patrimoniais. Assim, para além de flores e bombons, melhor seria a redução de chamadas ao 190 ou ao 180, de agressões por violência doméstica, de ameaças e da necessidade de medidas protetivas urgentes. Ao contrário disso, as mulheres seguem correndo ainda mais riscos de sofrer violência dentro da própria casa. Seguimos sentindo o gosto amargo de viver em uma sociedade patriarcal, machista, com discursos hegemônicos que objetificam e diminuem as mulheres.

 

Para além de flores e bombons, mais doce seria se deixássemos de ser a maioria na economia informal e no subemprego. E que as conquistas das mulheres na luta por direitos avançassem no mundo todo. Fomos nós, mulheres (principalmente as que eram mães), que mais perdemos trabalho ou tivemos que largá-lo para cuidar (ainda mais) da casa e da família durante a pandemia do coronavírus. 7 milhões de mulheres haviam deixado o mercado de trabalho na última quinzena de março de 2020, de acordo com a pesquisa Pnad Contínua (IBGE). No Brasil, em 2021, a taxa de desocupação entre as mulheres foi de 54,4% maior que a dos homens.

 

E como seria lindo se, para além das flores e bombons, ganhássemos um salário igual aos dos homens que exercem a mesma função que a nossa. Seria o presente perfeito! Já imaginou? Você trabalhar e ser reconhecida de forma justa por isso? Participar de uma seletiva de emprego sem ter que responder com quem vai deixar seu filho enquanto trabalha, ou quem vai levá-lo ao médico quando for preciso, ou ainda se você tem a intenção de engravidar?

 

Ou será que o presente perfeito para o Dia Internacional da Mulher seria não ter que abrir mão de continuar os estudos enquanto os filhos ainda são pequenos porque não temos um companheiro que realmente colabore dentro de casa ou nos falte uma rede de apoio adequada? Ou seria não precisar abrir mão de cargos que demandam mais tempo para se dedicar ao trabalho e, consequentemente, ter que abrir mão de melhores salários? Ou, talvez, o presente mais que perfeito seria deixar de estar no topo da lista de demissões tendo como critérios o fato de ser mulher ou ser mulher com filhos. São muitas opções de presentes, muito além das flores e bombons.

 

O fato é que na tentativa de atender as demandas em todas as frentes de trabalho: seja remunerado, doméstico ou dos cuidados aos demais membros da família, as mulheres estão no limite, exaustas, fazendo o que lhes é possível e, como todos sabem, ainda assim a maioria sente culpa por não ter feito mais e melhor. Para dar conta de tudo isso, só abrindo mão de algumas horas de sono e do tempo que deveria existir para cuidar de si, do seu “autocuidado”, que, a essa altura, está quase se tornando um termo de ficção científica.

 

O dia 08 de março, celebrado desde 1918, não é um dia para receber flores e bombons. Nem receber “um dia de beleza” da empresa em que trabalhamos. Muito menos participarmos de “desfiles de moda” (sim, já vi isso!). É uma data, antes de tudo, histórica, que marca a luta das mulheres. Um dia internacional para promover reflexões sobre a vida da mulher e buscar transformações. É um período para se questionar tudo o que torna a mulher mais vulnerável à violência ou à exploração (seja ela de que tipo for). É isso! Que tão logo o nosso presente seja o cheiro adocicado da tão sonhada igualdade de gênero e do respeito que todas nós merecemos.

 

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*Maria Angela de Lima é publicitária, pós-graduada em Marketing e mestre em Estudos Literários e Culturais

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