Realizado em 1973, Lucio Flávio, o passageiro da agonia" consagrou definitivamente o cineasta argentino naturalizado brasileiro, Hector Babenco. O longa, baseado no livro homônimo do jornalista, escritor e roteirista José Louzeiro, traz às telas a violência e a corrupção de policiais da elite da Polícia Militar da Guanabara, que deveriam proteger, mas optam por se associar aos esquemas criminosos visando ganhar dinheiro. Sem falar na criação do famigerado "Esquadrão da Morte", que caçava, prendia e assassinava, bandidos ou não, em troca de polpudos pagamentos.
Babenco foi cirúrgico e costura muito a história que conta. Lucio Flávio era considerado um bandido diferente porque estudou, era inteligente, estratégico no planejamento dos assaltos a bancos realizados pelo seu bando. Geralmente, como o filme retrata muito bem, a polícia, com a ajuda da imprensa, perpetuava versão distorcida dos fatos, sempre aumentando os valores roubados e ao mesmo tempo saqueavam os ladrões e ficavam com a maior parte do butim.
"Lucio Flávio, o passageiro da agonia", mesmo sendo uma produção com 50 anos, infelizmente parece um prenúncio do que viria. A violência piorou. A corrupção impera nas mais altas esferas. Os bandidos se organizaram em facções, enfrentam a polícia e a população continua no fogo cruzado e levando a pior.
Vale destacar a excelente atuação de Reginaldo Farias no papel título. O elenco de apoio também foi muito bem escalado e inclui Paulo César Pereio, que interpreta Moretti, baseado no policial Mariel Mariscot, um dos chamados "Homens de Ouro", Milton Gonçalves, Grande Othelo, Ivan Cândido, Ana Maria Magalhães, Stepan Nercessian, Lady Francisco, entre outros.
Por saber demais e ao ser preso mais uma vez e cansado de ser explorado e enganado pelos policiais corruptos com os quais tinha ligação, resolveu entregar todo mundo e pagou alto preço. Seu corpo foi encontrado com 19 facadas no peito, na cela 7 do presídio Hélio Gomes, no Rio de Janeiro, na madrugada de 29 de janeiro de 1975. Todos da sua quadrilha foram assassinados numa violenta queima de arquivo perpetrada pelo "Esquadrão da Morte".
Às vezes, lemos nas redes sociais comentários idiotas sobre o cinema nacional, que não presta e muitos afirmam nunca ter assistido nenhuma produção brasileira, no entanto, sem conhecimento de causa, se dão o direito de perpetuar suas opiniões esdrúxulas e pior, fazem até campanha contra, principalmente se o tema não lhes aprouver.
O caso mais recente é o do longa "Ainda estou aqui", de Walter Salles. Eles não aprovam porque o longa desmascara a violência e as arbitrariedades cometidas pela ditadura militar. Mas, os cães ladram e a caravana passa.