Em outubro de 2003 um torcedor que assistia o treino do Fluminense do Rio de Janeiro, como forma de protesto, atirou seis galinhas vivas no campo. Como retaliação, o jogador Romário,acompanhado de seu fisioterapeuta, agrediu o torcedor. O caso virou duas ações, por danos morais e materiais. Tanto o jogador quanto seu médico foram condenados em Primeira e Segunda Instância e recorreram ao Superior Tribuanl de Justiça com um Agravo de Instrumento (nome do processo que pede a admissão do recurso especial no STJ). O STJ negou o recurso e manteve a setença de Segunda Instância por entender que “a conduta do torcedor ultrapassou a simples manifestação da paixão. No entanto a reação do jogador foi taxada como excessiva, por ser ele experiente e habituado à pressão da torcida, o que não exclui a responsabilidade por seus atos, já que partiu para a agressão física.”
Façamos agora uma analogia a um caso regional. Em 28 de maio de 2008, meses antes da campanha de reeleição de Roberto Sobrinho a prefeitura de Porto Velho, durante um evento intitulado “Dia do Desafio”, o jornalista do Rondoniaovivo, Paulo Andreoli questionou o prefeito sobre a distribuição de um adesivo que “agradecia” o alcaide pelas obras realizadas na Capital (obras essas que estão paradas até hoje). Como resposta, Andreoli foi agredido verbal e fisicamente pelo prefeito e assessores que estavam próximos. A câmera fotográfica foi quebrada e o fato gerou uma ação criminal.
Por aqui, o Tribunal de Justiça entendeu de forma bem diferente. A defesa do prefeito alegou que o mesmo agiu em “legítima defesa”, e que a situação teria sido “premeditada”, já que Andreoli estava de posse de uma câmera ligada no momento do incidente e que há tempos vinha “provocando” Sobrinho através de seu extinto blog.
Pois bem. Vamos entender melhor essa situação. O colunista e advogado Robson Oliveira, que mantém uma coluna intitulada “Resenha Política” reproduzida em diversos sites, publicou na semana passada uma nota afirmando que Roberto Sobrinho teria dado um “piti” com a Chefe de Gabinete Mirian Saldaña devido ao problema que está havendo com a prestação de contas de sua campanha. Esse “descontrole” do prefeito não é inédito, aja visto que recentemente ele também bateu boca com o governador Ivo Cassol (durante a visita do Presidente da República) e com o deputado federal Ernandes Amorim, durante uma reunião no IBAMA.
Roberto Sobrinho é prefeito de uma capital, portanto, subentende-se que o mesmo deva estar preparado para confrontar críticas agindo de forma racional. Se ele sentia-se “ofendido” com as notas publicadas no blog de Andreoli, deveria ter buscado a Justiça para resolver a lide e não partir para a violência física ou verbal.
Quanto ao fato da câmera estar ligada na hora do ocorrido, é natural, aja vista que Andreoli é um profissional cujo instrumento de trabalho é a câmera, a caneta e um bloco de papel. Absolutamente nada justifica um ato de violência e a alegação de legítima defesa não cabe em nenhum momento, até porque as imagens do incidente são muito claras, o jornalista estava a quase um metro do prefeito e demonstram que Sobrinho se descontrolou com um simples questionamento. Toda a celeuma poderia ter sido evitada se ele tivesse agido com racionalidade, simplesmente respondendo ao questionamento, ou mesmo esquivando-se da pergunta.
A intenção aqui não é questionar a decisão do Tribunal de Justiça e sim chamar a atenção para um fato que está se tornando corriqueiro, que é a falta de preparo do prefeito para lidar com situações de crise. Se continuar se irritando dessa forma, o jovem alcaíde corre o risco de ter um AVC ou mesmo um enfarto, porque as críticas vão continuar até que essa prefeitura resolva fazer seu trabalho de forma minimamente satisfatória.