Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – TUDO É CARNAVAL Uma pesquisa ligeira revela que a maior das festas dionisíacas pagãs a sobreviver com a mesma animação de antanho no mundo cristão é o Carnaval. E não será mero acaso se, pensando bem, descobrir-se que na Europa o Carnaval foi tanto mais valorizado quanto mais católica resultou a aura de cidades como Roma, Veneza, Nice e Colônia. Conquanto hoje o mundo inteiro associe o chamado tríduo momesmo ao Brasil (ao Rio de Janeiro, em especial), de acordo com historiadores vários, no século 19 associava-se Carnaval a Nice (França) e, no século 18, a Roma e Veneza - cidades que se enchiam de visitantes na época festiva. E mesmo muito antes disso, o Carnaval já era uma das grandes festas européias, particularmente no mundo mediterrâneo. Como aponta o sociólogo Antônio Flávio Pierucci, ao contrário do que se pensa, a Igreja Católica nunca se fechou totalmente às demandas sazonais do êxtase bacanal nem jamais se empenhou em erradicá-lo dos costumes comuns tão taxativamente quanto o protestantismo de matriz puritana, com sua fria seriedade e intransigente heterossexualidade. Se os brasileiros se orgulham da exuberância dos seus Carnavais, também deles se gabam os italianos - e não é de hoje. Até porque foi na Itália que nasceu o Carnaval com esse nome – viria de “carnem lavare” (abster-se, privar-se de carne). Era uma ocasião de tolerância oficial ao desregramento. As atividades mais populares consistiam em comer carne e beber álcool na maior escala possível, usar máscaras, perseguir membros do sexo oposto e tomar parte em procedimentos agressivos, tais como atirar ovos, laranjas, fogos de artifício ou água, atormentar animais, trocar palavras ou gestos injuriosos, cantar canções de duplo sentido ou participar de vários tipos de combate - de torneios de cavalaria a futebol. O entrudo português era parte de uma ampla tradição européia. Os estudiosos, porém, discordam quanto à interpretação desse festival. Para alguns, o Carnaval é um ritual fundamentalmente cristão. 2 – VISÕES DIVERSAS De acordo com essa visão, a ênfase na carne, na bebida e na atividade sexual durante a festa explica-se pela recomendação de abstinência durante o período subseqüente – a quaresma. Um segundo grupo de estudiosos vê o Carnaval como um rito agrário de fertilidade, datando-o dos tempos pagãos e chamando atenção para os símbolos fálicos (narigões) e para a figura recorrente do "homem selvagem" – fantasias de índios. De maneira muito apropriada para um festival de primavera, o Carnaval era um ritual de rejuvenescimento, em que os jovens tinham (têm) papel de destaque. Outros interpretam o Carnaval como uma representação do "mundo de ponta-cabeça", onde tudo o que é normalmente proibido torna-se permissível e mesmo compulsório. Esses teóricos notam que o festival era associado não apenas a carne, vinho e sexo, mas ainda com a liberdade de expressão e de crítica aos vizinhos, à Igreja ou ao Estado. A festa era então uma “válvula de escape” que permitia à sociedade funcionar de maneira mais ou menos ordeira pelo resto do ano. Entretanto, a válvula nem sempre funcionava, e a violência carnavalesca por vezes transformava-se em revolta. Na Europa pré-industrial não eram incomuns as mortes violentas em tempos de Carnaval - como também não o são até os dias de hoje aqui e alhures. Como aconteceu com outras instituições européias, também o Carnaval, com todas as suas ambigüidades, foi transplantado para o “Novo Mundo”, ou pelo menos para aquelas partes colonizadas pelos católicos. Ainda hoje o Carnaval é importante na vida de cidades como Nova Orleans e Havana, tanto quanto o é no Rio de Janeiro ou em Recife, graças à influência de imigrantes franceses e espanhóis. Esse Carnaval do “Novo Mundo” é muito mais que um produto importado da Europa – porquanto se tornou quase irreconhecível ao se transformar significativamente ao longo de sua estadia nas Américas. A importância e o papel ativo das mulheres, por exemplo, contrasta com as práticas tradicionais européias. 3 – CASO BRASILEIRO Não é de hoje que as elites vêm tomando atitudes ambíguas em relação à festa. No passado, tanto reformadores católicos quanto protestantes atacavam o Carnaval como "licencioso" ou "pagão". Seguiu-se um paulatino distanciamento das classes mais altas, que cada vez mais preferiam celebrar o festival no isolamento de seus palácios a divertir-se nas ruas com todos os outros. No Brasil esse retraimento levou as elites a organizarem seus bailes em clubes fechados ou nos espaços supostamente públicos, mas só a elas reservados (o Teatro Municipal do Rio, por exemplo). Conforme os historiadores, os paralelos entre os carnavais dos dois continentes continuam a ser impressionantes. As escolas de samba e seus precursores lembram as "abadias da juventude" e outras agremiações festivas européias do século 16. O hábito de usar fantasias é de origem européia. O desfile atual faz pensar nas paradas e carros alegóricos que já podiam ser vistos no século 16 em Florença. Até mesmo as referências políticas dos carnavais brasileiros têm suas contrapartidas européias - dos protestos contra os impostos na Espanha seiscentista às recentes chacotas aos políticos italianos, franceses e alemães acusados de corrupção. Enfim, segundo o jornalista Josias de Souza (FSP), o curioso do Carnaval aqui é que, podendo usar qualquer tipo de disfarce, o país prefere vestir-se de si mesmo. Diz-se que nada se parece mais com o Brasil real do que o Brasil da fantasia. O melhor da fantasia carnavalesca é justamente a possibilidade que oferece ao folião de exibir suas verdades inconfessáveis. Assim, do mesmo modo que um homem pode vestir-se de mulher sem que lhe condenem os gestos afeminados, o país também pode aproveitar o Carnaval para desfilar alegremente suas hipocrisias hediondas. Súbito, a nação da demagogia social veste-se de socialista. Renova-se a tese de que o samba iguala pobres e ricos. Todos sabem-na mentirosa. Mas serve de diversão aos pobres e de conforto à consciência dos ricos.
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