1 – CORRUPÇÃO A GRANEL
Não bastasse o cotidiano desolador – com as chantagens partidárias, os mensalões mineiros e a fúria tributária do governo ocupando o topo do noticiário -, a semana que passou foi particularmente pródiga na conclusão e na divulgação de pesquisas que deixaram a auto-estima nacional mais baixa do que rodapé de casa de brinquedo. Bem verdade que a maioria dos números não chega a ser novidade alguma, mas a gente sempre espera que, de um ano para outro, caso a situação não melhore, as coisas no mínimo fiquem menos horripilantes. Mas não. No sertão nordestino as gentes daquele lugar diriam que, no Brasil, a realidade se comporta como a cantiga da perua, ou seja, de “pió” a “pió”.
Tal foi o caso da nova sondagem da Transparência Internacional (TI) que resultou na lista atualizada do ranking da corrupção. Não, minha senhora, em que pesem os patamares ligeiramente diferentes sugerirem isso, o país não melhorou piroca nenhuma em termos de maus costumes. Senão, vejamos: neste ano, o Brasil é o 72º colocado numa fila recorde de 180 participantes (que situa os países tidos como menos corruptos nas primeiras posições, e os considerados mais corruptos nas últimas), tendo sido laureado com a nota 3,5 numa tabela que vai de 10 (para países absolutamente sem corrupção) até zero (países onde todo mundo é ladrão). Conste que, desde que o índice começou a ser medido, em 1995, não há registro de que a nota 10 tenha sido alcançada por algum país.
Como no ano passado o Brasil estava em 70º e tinha nota 3,3, parece haver uma contradição no fato de a nação ter sido rebaixada dois degraus no atual arranjo. Ocorre que, no que diz respeito às notas, a margem de erro é de três pontos para baixo e cinco pontos para cima (critério da metodologia lá deles), caso em que os 0,2 que o país obteve a mais de um ano para o outro significa nada. Ademais, neste ano 17 novos países foram acrescentados ao universo da pesquisa, quatro dos quais menos corruptos do que a pátria amada. Deu no que deu.
2 – LADROAGEM ESTÁVEL
Embora não seja o caso de dizer que de uma coisa podemos nos orgulhar, chega a impressionar a regularidade com que o Brasil se mantêm na mesma faixa de corrupção há mais de uma década. Basta dizer que entre a pior nota atribuída ao país (3,3) e a melhor (4,0) a diferença de 0,7 ao longo desses anos todos ainda está dentro da margem de erro, o que, grosso modo, significa que a quantidade de ladrões existente no país é muito mais estável do que qualquer outro índice da economia. Os especialistas, no entanto, discordam. Segundo Bruno Speck, assessor sênior da TI para a América Latina, a colocação do Brasil “piora tendencialmente, porque a cada ano entram mais países no ranking, uns com melhor colocação e outros com pior”. A coluna não sabe explicar bem o que isso quer dizer, mas está em condições de afirmar que o professor Speck sabe o que diz.
Com toda certeza, por essas e por outras é que nos chega a notícia de que a corrupção e a violência são os itens que mais envergonham os brasileiros. Ë o que revela outra pesquisa, esta do Instituto Sensus, encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e divulgada nesta terça-feira (26). Realizada entre 18 e 22 de junho, a pesquisa ouviu 2 mil pessoas em 136 municípios de todo o país. Para 41,3% dos entrevistados, a corrupção é o principal motivo de vergonha. A violência aparece em seguida, tendo sido citada por 17,1%. A pobreza foi apontada por 12,7%.
Os dados mostram ainda que, para 76,1% dos entrevistados, a violência e a criminalidade estão fora de controle no país. Isso representa aumento de 4,6 pontos percentuais em relação a dezembro de 2004. Para 18,7%, a violência está razoavelmente controlada e apenas 3,7% disseram que está sob controle. Assaltos, em casa ou na rua, e o tráfico de drogas são as principais ameaças para 38,4% e 31,7% dos entrevistados, respectivamente. Estupro (9%) e seqüestro (7%) vêm em seguida. Segundo o levantamento, 31,6% disseram morar em cidades muito violentas. Durma-se!
3 – LULA AO LARGO
Enquanto isso, aquele lá não está nem aí. Pudera! Curiosamente o desempenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem aprovação superior à do governo que ele comanda. De acordo com o levantamento, 64% dos entrevistados aprovam o presidente Lula e 29,8% o desaprovam. Na pesquisa anterior, a aprovação pessoal de Lula era de 63,7% e a desaprovação, de 28,2%. A avaliação positiva do governo Lula ficou em 47,5% em junho, estável em relação ao levantamento de abril, quando havia sido de 49,5%. A variação negativa está dentro da margem de erro da pesquisa, de três pontos percentuais para mais ou para menos. Fazer o quê?
No entanto, enquanto “Nosso Guia” cavalgava números tão robustos dando uma de mascate dos biocombustíveis mundo afora, por aqui uma 3ª pesquisa, agora da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), divulgada nesta quinta-feira (27), mostrou que apenas 16% dos brasileiros confiam nos partidos políticos e menos ainda (só 11%) acreditam nos políticos propriamente ditos. Não por acaso a pesquisa indica também que 79,8% discordam do foro privilegiado para pessoas que ocupam cargos públicos, como previsto atualmente na lei brasileira.
A pesquisa mostra ainda que entre os políticos, o nível local de decisões tem mais credibilidade do que a esfera nacional: 18,9% dos entrevistados disseram confiar na Câmara dos Vereadores, enquanto o Senado tem a confiança de 14,6%, e 12,5% confiam na Câmara dos Deputados. E como a demonstrar que nem tudo está perdido, o estudo mostra que 85% acreditam que a corrupção pode ser combatida, e 94,3% acham que um político processado na Justiça não deveria poder concorrer às eleições.
As questões sobre Justiça também revelam uma confiança maior no âmbito local. Na pergunta sobre qual tribunal é mais confiável, o de Pequenas Causas aparece em primeiro lugar, com 23,6% das respostas. O STF teve 20,5%, a Justiça do Trabalho 19,2% e a Justiça Eleitoral 10,6%. O Poder Judiciário de um modo geral tem a confiança de 41,8%. É isso!