CARNE ARTIFICIAL: Tendência mundial levanta discussões sobre vantagens e riscos à saúde

As células animais retiradas são colocadas em uma cultura rica em nutrientes e elementos químicos e vão se multiplicando

CARNE ARTIFICIAL: Tendência mundial levanta discussões sobre vantagens e riscos à saúde

Foto: eClyce

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A carne artificial, carne de laboratório ou carne cultivada, é uma novidade que está cada vez mais perto de chegar aos mercados. A proteína animal cultivada in vitro está na mira dos investimentos de várias empresas. Ela já evoluiu muito desde que o pesquisador holandês Mark Post apresentou ao mundo o primeiro hambúrguer feito com carne artificial, em 2013.  
 
O experimento, financiado por Sergey Brin, co-fundador do Google, foi resultado de 5 anos de pesquisa. Ele é produzido a partir de células-tronco bovinas e sua reprodução, cultivadas e alimentadas com nutrientes em laboratório. 
 
Professor de fisiologia da Universidade de Maastricht, na Holanda, Post desenvolveu a técnica de cultivar células-tronco de origem animal. Especificamente, células encontradas em nervos e na pele da vaca, que são retiradas por pequenas punções indolores aos animais. Assim, elas viram tecidos de gordura e músculos. 
 
As células animais retiradas são colocadas em uma cultura rica em nutrientes e elementos químicos e vão se multiplicando, produzindo inicialmente pequenas tiras de músculo. Depois as tiras são unidas, coloridas e misturadas com gordura, formando um pedaço de carne artificial. Ao todo, o processo demora cerca de 21 dias. 
 
Em paralelo, pesquisadores da Universidade McMaster desenvolveram uma maneira de fazer carne artificial empilhando finas folhas de músculo cultivado e células de gordura cultivadas em laboratório. A técnica é adaptada de um método usado para cultivar tecidos para transplantes humanos. 
 
As folhas de células vivas, cada uma com a espessura aproximada de uma folha de papel de impressora, são primeiro cultivadas em cultura. Depois, são concentradas em placas de crescimento antes de serem removidas e empilhadas ou dobradas juntas. As folhas se ligam naturalmente umas às outras antes que as células morram. 
 
Como é feita a carne artificial? 
 
O primeiro teste de Post resultou em uma carne muito seca, pois não continha gordura. Aos poucos, o pesquisador foi refinando seu processo de produção, tanto no sentido de melhorar o gosto e a aparência da carne artificial quanto para diminuir o seu preço.  
 
Qual é a vantagem de produzir carne em laboratório? 
 
A produção de carne cultivada pode ser uma saída sustentável para alimentar a crescente população mundial. O processo usa bem poucos animais e reduziria drasticamente as emissões de gases de efeito estufa provenientes das criações. Sua produção evita também os maus-tratos e o abate dos bichos. O consumo de água necessário para a produção também é muito menor que na pecuária. 
 
Além disso, a carne de laboratório não necessita de hormônios para sua criação, o que evitaria contaminações e problemas de saúde. O objetivo dos cientistas é eliminar ao máximo a necessidade de usar elementos animais na produção da carne artificial. Dessa forma, ela é produzida com menor impacto ao meio ambiente do que a carne bovina, por exemplo. 
 
Quais seriam as desvantagens da carne artificial? 
 
Assim como a carne convencional, esse tipo de carne pode ser prejudicial à saúde. Apesar de ser mais sustentável, a carne de laboratório é mais barata e pode ser vítima da superprodução. Isso, consequentemente, pode levar à obesidade e outros problemas de saúde relacionados ao consumo da carne convencional. 
 
Uma outra alternativa à pecuária são as proteínas plant based (à base de plantas). Conheça mais sobre essa opção na matéria. Entenda os benefícios e os possíveis riscos da carne vegetal: 
 
Carne de laboratório é vegana?  
 
A partir do desenvolvimento de carnes artificiais e cultivadas, a questão de se a carne de laboratório é vegana ou não veio à superfície. Principalmente através das promessas de uma produção de carne mais sustentável e que dispensa o abate animal, muitas pessoas começaram a considerar essa uma alternativa de carne vegetal.  
 
É importante notar que o veganismo, em geral, não é uma dieta — e sim, um estilo de vida que isenta o consumo de todo produto de origem animal ou que resultou do seu sofrimento. E, embora a carne de laboratório reduza significativamente o número de abates na indústria, ela ainda é um produto de origem animal. Por isso, não, a carne de laboratório não é vegana.  
 
Diferentemente de outras alternativas de carne, como as carnes vegetais, a carne cultivada depende do produto de origem animal.  
 
Em um e-mail ao escritor freelancer Jude Whiley, Ella Marshall, vice-gerente de marca registrada da Vegan Society, a associação vegana mais antiga do mundo, disse que “não podemos apoiar oficialmente a carne cultivada, pois ainda são usados? animais em sua produção [...] não poderíamos registrar tais produtos com o Selo Vegano”. 
 
Isso espelha o posicionamento de grande parte da comunidade vegana em relação à carne de laboratório. Entretanto, algumas pessoas, que se nomearam como “utilitárias”, acreditam que o potencial da tecnologia como um redutor do sofrimento animal na produção de carne pode aumentar o bem-estar animal.  
 
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