Mais de dois anos depois, PF conseguiu prender suspeito de assassinato de indígena que denunciou venda ilegal de madeira
Foto: Divulgação
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Com a prisão preventiva pela Polícia Federal, na quarta-feira (13), do principal suspeito do assassinato do indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau, que denunciou a exploração ilegal de madeira e era referência na luta pela floresta, o sentimento é de alívio entre aqueles que trabalham na defesa do meio ambiente.
Quem compartilha dessa sensação de início de justiça pela morte de Ari é a fundadora da Associação Etnoambiental Kanindé, Ivaneide Bandeira, mais conhecida como Neidinha.
“O assassinato de Ari Uru-Eu-Wau-Wau é uma amostra do descaso com os povos indígenas. Ficamos mais de 2 anos sem ter nenhuma informação sobre quem era o assassino. Graças à operação da Polícia Federal finalmente temos uma resposta. Esperamos que a Justiça seja feita e que seja condenado para pagar por seu crime”, comentou ela.
Neidinha defende que as investigações não parem agora, pois há mais crimes envolvendo a destruição da floresta e contra os indígenas sendo praticados todos os dias.
“Esperamos que a PF continue fazendo as operações de fiscalização e retire todos os invasores da terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau, pois isto mostra que não será aceita impunidade no Brasil e em Rondônia. Esse tem que ser um recado claro para quem comete crimes. E que outras ações sejam desvendadas e punidos os assassinos”.
Para a ativista social e jornalista Luciana Oliveira, a prisão do principal suspeito da morte de Ari só foi possível após outros homicídios no Amazonas e que repercutiram em todo planeta.
“Os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips chamaram a atenção do mundo para os crimes contra quem luta para defender o meio ambiente e os povos originários na Amazônia. E vejam: após mais de dois anos prenderam o suspeito na morte de Ari Uru-Eu-Wau-Wau, guardião da floresta. Confesso que há uma sensação de alívio. E que os guerreiros que tombam seguem iluminando a luta”, comentou ela.
Operação Uru prendeu principal suspeito de ter assassinado Ari em abril de 2020 - Foto: Divulgação
Detalhes
Ari integrava um grupo de vigilância indígena contra a exploração ilegal em Rondônia e era referência entre os indígenas. Ele foi encontrado morto em 18 de abril de 2020, caído na margem esquerda da RO-010, km 12, em Jaru, apresentando lesões no pescoço e cabeça.
Inicialmente a Polícia Civil de Jaru conduziu as investigações e, conforme relatório parcial apresentado em 2020, sugeriu o declínio de competência para a Justiça Federal, tendo em vista que uma das linhas investigativas levantadas era que o motivo da morte se relacionava com divergências à venda ilegal de madeiras na reserva indígena. Nesta fase da investigação a autoria do crime ainda era incerta.
Após os tramites legais, a competência foi devidamente fixada na Justiça Federal e, a partir deste momento, os trabalhos investigados foram conduzidos pela Polícia Federal.
Como medidas iniciais, a Polícia Federal realizou inúmeras diligências de campo, técnicas investigativas especiais, realizou entrevistas, oitivas, interlocução com servidores que atuaram no tempo dos fatos, apreciação minuciosa de todos os elementos probatórios até então colhidos nas primeiras horas após o crime, além de contato com pessoas próximas da vítima visando compreender os últimos passos de Ari.
Em razão da gravidade do caso apurado, a Polícia Federal de Ji-Paraná e o Ministério Público Federal, constantemente, realizam reuniões visando definir estratégias de ação.
Uma das medidas investigativas adotadas na investigação foi a elaboração de laudo pericial indireto produzido pela Polícia Federal, com base nos elementos probatórios juntados no tempo dos fatos, que concluiu que a morte ocorreu entre 01:00 e 03:00 da madrugada do dia 18/04/2020.
As lesões, os vestígios e as circunstâncias apontaram para a ocorrência de morte violenta. Como o corpo não demonstrava sinais de autodefesa, uma das linhas investigativas apuradas pela Polícia Federal trata-se da hipótese de o autor do crime ter oferecido substância que, uma vez ingerida pela vítima, deixou Ari desacordado para então iniciar as agressões físicas que culminaram em sua morte. Posteriormente, conduziu o corpo para outro local.
Com o avanço das investigações foi possível chegar ao possível autor do crime que, segundo apurado, recaem suspeitas da prática de outros homicídios. Atualmente, encontra-se preso preventivamente pela prática de outro crime de homicídio, ocorrido, aproximadamente, oito meses após a morte de Ari.
Na operação foi decretada nova prisão preventiva pela 3ª Vara Federal Criminal. A motivação do crime ainda será melhor esclarecido pela Polícia Federal de Ji-Paraná, que está à frente das investigações.
Conforme dispõe o art. 7º do Código de Processo Penal, para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a Polícia Federal irá proceder, antes do término das investigações, à reprodução simulada dos fatos visando confrontar as possíveis versões para a dinâmica do crime de homicídio qualificado. A pena para este crime pode chegar até 30 anos (Art. 121, §2º, IV, do Código Penal).
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