Um caminhão do Corpo de Bombeiros de Rondônia estaciona em frente ao mercado municipal em Porto Velho. É final da tarde de terça-feira, primeiro de março. O sol forte no céu azul muito limpo, sem nuvens, nem de perto lembra o dia cinza e chuvoso que acordou hoje os órfãos da BVQQ.
Sua forte e intermitente sirene abafa o som da banda que toca a última ode ao seu General. O silêncio grita que a hora chegou. Terminou o velório do irmão Manelão. O pai da Banda do Vai Quem Quer está pronto para o último desfile de uma paixão verdadeira do povo rondoniense.
Seus amigos estão se entreolhando. Um busca no olhar do outro “diretor”. O que fazer? Falta o comandante dando ordens. A cor vermelha fogo da viatura parece refletir nos olhos marejados e insones de alguns companheiros de longa data.
Lá de dentro ecoa o som do sino de ferro. Aquele badalar que por anos fez a diversão dos que chegavam ou saiam no Chaveiro Gold, sede da Banda. Hora de entrar. Uma baqueta escorrega no repenique, opa. Novo silêncio...
Irrompe o pai nosso. A força da oração cristã faz mais lágrimas brotarem nos olhos e escorrerem nos rostos de alguns presentes. No velório do Manelão estavam os representantes das famílias tradicionais, alguns com a cabeça branquinha e de andar "torto", Imprensa, políticos. Jovens de todas as tribos. Rockeiros, Regueiros e Emos prestam reverência ao “pai da barca”. Funcionários do comércio, com suas fardas de trabalho também se misturam na multidão.
Terminada as preces, novamente a Banda do Vai Quem Quer volta a tocar. Na frente, Burrachaga e Bailarina da Praça abrem alas em direção a porta de saída do mercadão. A urna funerária é colocada no caminhão. Bombeiros em traje de gala se perfilam ao lado. Familiares e amigos próximos também sobem para o último desfile em companhia do Manelão.
O cortejo segue pela rua José de Alencar, na contra mão da via. Carro da funerária com coroas de flores na frente. Em solo, a banda do Vai Quem Quer vem logo na frente do Caminhão dos Bombeiros. Policiais Militares estão nas esquinas.Populares descem dos carros e com celulares filmam a passagem da turma da banda. Ninguém se estressa, ninguém tem pressa. Vendedores do comercio, na frente das lojas batem palmas. Um gari da prefeitura para de varrer e cantarola o hino da Banda. Ambulantes de cervejas, espetinhos (churrasquinhos), algodão doce vão atrás dando suporte para as mais de duas mil pessoas que se espremem na avenida 7 de Setembro.
A chegada ao Cemitério dos Inocentes é surreal. Uma turba alegre e comovida, cantando ao som da banda adentra no campo santo. Coroas de flores seguem atrás dando um colorido especial a homenagem verdadeira e pura de um povo a uma figura singular.
Manelão desce ao fundo de sua cova. Antes de fecharem a tumba com grandes peças de concreto eis que o Burrachaga quase cai dentro do tumulo. Um grita, "até no ultimo segundo o cara fica dando azia no Manelão". Canta-se o hino de Rondônia. Cerimônia terminada, uma salva de palmas e intenso foguetório fecham a despedida. A família BVQQ, representada pela jovem Sissi (herdeira da Banda) e Manuela recebem as últimas condolências. Então tá, no sábado de carnaval a gente se encontra na contramão da avenida Carlos Gomes.
NR - O Rondoniaovivo.com através de seus diretores, funcionários e colaboradores deixa registrado nosso pesar e luto pela súbita passagem do amigo Manelão. Rogamos muita força a família enlutada e nos colocamos sempre a disposição da herdeira da BVQQ a jovem Sissi e seus diretores.