Política em Três Tempos
1 – OPÇÃO VALVERDE
Por que o PT escolheu o deputado federal Eduardo Valverde como pré-candidato ao governo se os outros dois postulantes à indicação – o prefeito Roberto Sobrinho e a senadora Fátima Cleide – possuíam (possuem) melhores atributos? Era essa, dessa forma, a pergunta que deveria ter encaminhado ao presidente regional do PT, Tácito Pereira, logo após a preleção inicial da entrevista convocada para anunciar, na segunda-feira (30.11), o que já se sabia desde a véspera (29) – segredo antecipado com exclusividade e impressionante precisão pelo site de notícias “Tudorondonia”. Mas não quis ser grosseiro com o ungido e pus-me a arrodear, o que deve ter servido apenas para confundir.
No entanto, não o suficiente para deixar de me fazer entender, porquanto o que se tentou responder procurou atender exatamente à pergunta enviesada como se fora formulada da maneira direta, do jeito que foi reproduzida no início. Afinal, por que Valverde? Se Roberto Sobrinho oferecia uma opção inumeráveis vezes mais rica em possibilidades e a senadora Fátima Cleide, para dizer o mínimo, sempre esteve melhor posicionada nas pesquisas de intenções de votos? Além do mais, por que o PT, diante de três postulações igualmente legítimas, decidiu impor Valverde goela abaixo depois de anunciar que essa deliberação pertencia ao espaço da sua democracia interna, tendo inclusive anunciado – atabalhoadamente, é bem verdade - a realização de prévias?
Conquanto Tácito não tenha respondido bulhufas, (até por isso mesmo) Valverde tomou para si a tarefa, mas a emenda saiu pior que o soneto. Disse que havia sido escolhido porque era o campeão da ética e que sabia ouvir. Se bem entendi, estabeleceu umas diferenças que fariam sentido na comparação entre ele e o governador Ivo Cassol (PP), mas absolutamente despropositadas em relação aos concorrentes descartados pelo anúncio petista. Retruquei tentando clarear minha indagação, mas não adiantou. Salvo melhor juízo, isso ocorreu porque para a questão colocada não há resposta satisfatória.
2 – RICAS POSSIBILIDADES
Não que com a escolha de Valverde o PT tenha se interditado no pleito que vai decidir a sucessão no Palácio Presidente Vargas no ano que vem. Tirante as imponderabilidades, o partido é reconhecido pelo vigor da sua militância, não bastassem a importância e a influência do complexo administrativo federal que comanda no processo, sem falar da retaguarda proporcionada por uma Prefeitura da envergadura da de Porto Velho. Mas dos três postulantes, Valverde é a opção que mais dificuldades vai ter que superar para se viabilizar enquanto candidatura competitiva. Senão vejamos.
Pela lógica, o prefeito Roberto Sobrinho era (os verbos vão nesse tempo porque, em se tratando do PT, a sua e a postulação de Fátima Cleide já são águas passadas), de longe, a plataforma mais favorável à construção de uma candidatura consistente. Em grandes linhas, era o único que tinha possibilidades reais de trazer o PMDB para o palanque ou, na mais dramática das hipóteses, tirar de tempo a candidatura peemedebista.
Nem vem que não tem, ó partidários da candidatura Confúcio Moura. Sei do que estou falando. Claro que, a essa altura, seria mais difícil. Será? Afinal, Confúcio já é pré-candidato e tudo mais, etc. e tal. Mas não mais pré-candidato do que o era Amir Lando até o dia da convenção do PMDB em junho de 2002. Deu no que deu.
Ademais, se bem sucedida a tentativa de acoplar o PMDB, meio caminho estaria andado para cooptar também o PDT. Evidente que isso não é receita de bolo. O que se está dizendo é que, com a pré-candidatura Roberto Sobrinho, essas possibilidades permaneceriam em aberto. Com Valverde, se não desaparecem pura e simplesmente, elas remetem ao campo das hipóteses improváveis.
Ademais, o portfólio que Sobrinho teria para esgrimir do palanque seria o único capaz de rivalizar com os dos candidatos situacionistas – estejam eles num só palanque ou em dois (o da preferência palaciana terá as obras de Cassol e a eventual opção Expedito Júnior tem história própria). Mas o grande diferencial de Sobrinho consistiria no desmesurado valor da sua aposta.
3 – PEDANTISMO ATROZ
Ninguém, literalmente ninguém entre todos os possíveis concorrentes de 2010, estaria apostando tanto no pleito quanto Sobrinho – nada menos que a portentosa Prefeitura na Capital em uma das suas fases mais momentosas. Conseqüência imediata, seria legítimo concluir que entre todos, ninguém confiaria tanto no seu próprio taco quanto ele. Confiança muito mais fácil de ser transmitida ao eleitorado e galvanizá-lo porque legítima e incontroversa. O leitor não faz idéia do indizível valor desse diferencial na condução de uma campanha. Mas como o documento dos sindicalistas deixou claro, essa foi a razão pela qual a burocracia do PT rifou Roberto Sobrinho – o valor da aposta.
Fátima Cleide, por seu turno, terá sido defenestrada pelos mesmos burocratas por já ter tido a sua chance em 2006. Mas só por estar melhor que todos nas pesquisas já seria menos mala do que Valverde. Autoconominado “administrador do mandato” (de Fátima Cleide), o douto David Nogueira disse-me que não, porque pesquisa é apenas o retrato do momento. Se ele não esclarece isso, íamos – eu e o leitor - morrer pensando o contrário. Com tanto pedantismo e arrogância associados ao seu gabinete, as pichações de que Fátima Cleide tem sido alvo têm explicação e sua popularidade algo de milagroso.
Bestialidades à parte, dir-se-ia que, como acabou de ser eleito presidente regional do PT, ainda mais num Processo de Eleição Direta (PED), Valverde na condição de pré-candidato representa a vontade da militância. Papo furado. Enquanto a disputa do PED deu-se entre três tendências diferentes, a que se estabeleceu em torno da pré-candidatura foi entre três postulantes de uma mesma tendência. Em suma: Valverde foi eleito com o apoio inestimável de Fátima e de Sobrinho. Até eu.
Enfim, olha-se em volta e não se consegue enxergar o que distingue Valverde. Por enquanto, apenas problemas. No dia em que furou toda imprensa antecipando a escolha de Valverde, o site “Tudorondonia” retrancou a notícia com uma pá de links com remissões várias às peripécias de Valverde. Algo de assustar alma apenada.