A intervenção dos não-alinhados está nas ruas! - Por Antônio Serpa do Amaral Filho

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Foto: Divulgação

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Sob o comando do maestro Júlio Yriarte e do professor Emanuel Gomes, foi realizada oficialmente, dia 09 de janeiro, no espaço artístico do restaurante Casa Nossa, no bairro do Areal, a Primeira Intervenção Cultural de Porto Velho. Emanuel defende a idéia de elevar Porto Velho à condição de “capital brasileira da Música Popular Brasileira”. É utopia? Pode ser, mas não é platônica. Ao contrário, é tectônica e dialética, isto é, tem o pé no chão buscando no centro da terra firmar as raízes da convicção para a realização da idéia. A construção dessa utopia começa a angariar a simpatia de várias tribos da comunidade musical karipuna.  O evento, embora parcamente divulgado, emplacou e marcou ponto até quatro e meia da madrugada. Para um público super-eclético e ávido por novidades, no palco da Intervenção Cultural desfilaram Paulinho Rodrigues, Helena Prado, Francisco Sombra, Caté Casara, Gláucio, Caio, Heitor Almeida, Júlio Yriarte, Neguinho do Triângulo, o músico manauara Nicola Júnior, dentre outros. As telas da artista plástica Margarete Gomes dividiam o ambiente com a exposição fotográfica de Basinho, que tinha por tema o processo de construção do Mercado Cultural.
 
A intervenção cultural é um modelo de mobilização e de ação artística relâmpago, voluntariosa e originalmente concebida dentro da comunidade de fazedores da arte, sem qualquer conotação ou vinculação à esfera federal, estadual ou municipal. Na verdade é uma aula de criatividade aos três degraus do poder. Tanto o pensamento quanto a máquina dos burocratas, seja da área cultural ou não, costumam ser meio lentos e desenxavidos na concepção e na realização dos projetos culturais – mesmo os de esquerda, que se masturbam em teses stalinista ou leninistas ultrapassadas, acabam, às vezes, tornando-se mais incompetente que o próprio administrador burguês que vem sendo contestado. São tão complexas, contraditórias e ricas as vertentes do setor cultural, hoje, que não dá mais para tratar o fazer artístico, e muito menos o continente maior que é a cultura, como objeto de maniqueísmo ideológico. Na ânsia de querer promover a liberdade do outro, o “libertador de esquerda” acaba se tornando prisioneiro do messianismo, do pedantismo e do autoritarismo. Polêmico, como sempre, Caetano Veloso acaba de declarar à Folha de São Paulo que a Banda Calypso é o grande vetor revolucionário da música popular brasileira atual. Em plena Ditadura Militar e Guerra Fria ele chamou Roberto Carlos de alienado e de inocente útil, numa época em que a MPB, para ser reconhecida como de qualidade, tinha que ser necessariamente politizada, fosse na forma ou fosse no conteúdo. Cobrava-se o engajamento político das artes. Havia até polícia ideológica para cuidar dos eventuais infratores, desertores ou traidores. As muralhas que tapavam os quadrantes do horizonte caíram: caiu a Guerra Fria, o Muro de Berlim, a Cortina de Ferro, o Poder da Baioneta e a Caneta da Censura, e o mito de que Comunista Comia Fígado de Criança. Despidos dessas muletas, restou-nos apenas a Democracia, sob a qual ficamos todos meio perdidos. Nossos ídolos ainda são os mesmos, e a burguesia não fede não, quem fede mesmo é o miserável, o descamisado, o sem-teto, sem-esperança, sem-futuro. O brega é praga ou é práxis? Aprendemos que, na hora do pega pra capar, a esquerda socorre a direita, senão os dois vão para os quintos dos infernos. No Norte, Bush e Obama socorrem a burguesia norte-americana enquanto que aqui, no Sul,  Lula entrega o dinheiro do Estado aos banqueiros, como se fossem compadres e farinha do mesmo saco. É a práxis histórica mostrando com elementos factuais que alguma coisa mudou ou está mudando no tabuleiro de xadrez do imbróglio ideológico.   É preciso muita calma nessa hora. Há muito mais imaginação entre o creu e Bossa-Nova do que possa supor nosso os puristas da MPB.
 
Todavia, isso é apenas uma nota deste escriba. A intervenção não tem a intenção de discutir político-ideologicamente o trato para com os bens culturais. Mas também não é uma ação desmiolada. Trata-se de uma realização cultural que tem a intenção de fomentar a criação de emprego para os músicos, sensibilizar a administração pública e defender a bandeira de que Porto Velho venha a se transformar na capital da música popular brasileira.  A faculdade Fimca é o próximo point da Intervenção Cultural.
 
A intervenção é um protesto que revela a indignação atravessada na garganta dos produtores culturais. Se a onça, seja estadual ou municipal, está dormindo de toca, os interventores querem, com uma ação repentina e articulada apenas com setores da iniciativa privada, cutucar com vara curta o ócio, a miopia e a desinteligência das agências que deveria fazer muito mais do que fazem, e fazem pouco, e acham que fazem muito.  Com a intervenção, mesmo que a caravana não passe, os cães ladram em sustenido crescente.  Intervir é preciso, viver não é preciso – assim falou Emanuel! É a intervenção dos não-alinhados tomando conta das ruas, praças e bares da cidade do porto. Salve o poder popular da intervenção!
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