Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – PEDAGOGIA DA TERRA Pelo jeito como ela fala do acontecido, parece não restar dúvidas de que aquele sábado (17) deverá ter sido um dia raro na vida da professora Marilsa Miranda de Souza, da Universidade Federal de Rondônia (Unir), em que pese a dificuldade do interlocutor para enumerar e tentar fazer o leitor entender, em sua plenitude, todas as razões do seu contentamento. Difícil, por exemplo, avaliar em que momento a animação da coordenadora do curso Pedagogia da Terra é maior - se na hora em que fala sobre a colação de grau da primeira turma rondoniense do projeto ou quando se põe a discorrer sobre o tom e os detalhes da homenagem que os 52 novos pedagogos decidiram prestar ao professor Clodomir Santos de Morais. Pudera! Quem esteve na Escola Família Agrícola de Cacoal no sábado de que se fala, como a professora Maria Ivonete Tamboril – vice-reitora da Unir, na ocasião, conduzindo a solenidade -, relata que foi difícil conter a emoção ao ver o velho camarada ir às lágrimas na hora em que, na esteira do coro improvisado pelos formandos, a platéia de cerca de 700 camponeses entoou o Hino da Internacional Comunista. Convenhamos, não é todo dia que se pode ver avançar, de fato, a idéia segundo a qual, ao erguerem-se para tomar seus destinos em suas mãos, as “vitimas da fome” haverão de conquistar “a terra-mãe livre e comum”. Para alguém que, como Clodomir de Morais, dedicou a vida inteira a essa consigna, não há como não se enternecer, porquanto o curso Pedagogia da Terra, se não representa um firme e decisivo passo na direção da emancipação dos “famélicos da terra”, é uma das propostas mais próximas das ações formuladas com esse propósito. O curso tem em sua grade curricular matérias como “História da Luta pela Terra”, mas obedece também as diretrizes curriculares exigidas pelo Ministério da Educação (MEC) para a graduação em Pedagogia. O projeto é fruto de um convênio firmado entre a Unir, a Riomar e o Incra - por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). 2 – TEMPOS DIFÍCEIS Presencial, com duração de quatro anos, o curso foi ministrado no sistema de alternância, em que os alunos passaram períodos de três meses – janeiro, fevereiro e julho - na sala de aula (denominado tempo-escola) e três meses nos assentamentos (chamado de tempo-comunidade), onde puderam aplicar o conhecimento adquirido por meio de atividades com as crianças dos locais. De acordo com Marilsa Miranda, não foi nada fácil, principalmente nos primeiros tempos, quando era comum entre os alunos ter que recorrer ao chão como única alternativa como acomodação para dormir. Valeu porque, conforme explica a coordenadora da versão rondoniense do curso, o projeto responde de forma apropriada aos anseios da população do campo na medida em que, ao invés de oferecer-lhe uma educação fortemente impregnada com os valores e as características urbanas, uma espécie de proposta pedagógica constituída das sobras das cidades, respeita integralmente a cultura e a identidade dos camponeses, orientando os educandos não para sair da roça como forma de emancipação, mas para que compreendam a importância de fixar-se na terra para nela construir os seus projetos de vida. Muito certamente porque o seu projeto editorial contempla as atividades rurais com espaços generosos, o jornal “Folha de Rondônia” não apenas foi o único a registrar a colação de grau em questão, como o fez em manchete de página da sua edição de terça-feira (20), sob o título “Pedagogia da Terra forma 1ª turma” (Página 2-3). E colheu alguns depoimentos, como estes que se seguem: “Nós não queremos só o diploma, queremos fazer diferença na prática, no campo, ajudando aqueles que não tiveram oportunidade”, afirmou o formando Cláudio Rodrigues Santiago, que já era professor em um acampamento do Movimento Camponês Corumbiara (MCC), em Nova Mamoré. Para a aluna Maria Estelia Araújo esse é um momento de avanço histórico. “Fomos preparados para atuar com o camponês, com os movimentos sociais e na defesa da cidadania”, disse. 3 – PESSOAS ESPECIAIS Segundo ela, os pontos fortes foram a metodologia e a preparação política dos alunos. As aulas foram realizadas no projeto de assentamento Padre Ezequiel, em Mirante da Serra (RO), em tempo integral, onde os alunos ficavam em imersão alguns meses do ano. Todos colaboravam nas atividades de organização, divididos em comissões como cultura, memória, finanças, alimentação, inclusive no cuidado com as crianças que tinham que acompanhar os pais. O resultado foi considerado excelente pela coordenadora e professora da Unir, Marilsa Miranda de Souza. “O êxito dessa turma é a resposta da sociedade ao programa do Incra que acreditou e investiu na possibilidade de inclusão dos camponeses na universidade”, destacou o jornal. O sábado da colação de grau dos formandos do projeto, portanto, com certeza deverá ter sido mesmo muito especial para a coordenadora do curso Pedagogia da Terra porque, conforme testemunhos dos colegas, alunos e companheiros, quando se fala em Marilsa Miranda esta-se falando daquele tipo de gente que toma para si responsabilidades sobre as atrozes desigualdades sociais deste mundo, que integra um daqueles grupos de pessoas que se preocupam com a sina dos excluídos e vão à luta para operar a inclusão. Algo que, em tempos de intolerância e arbítrio, custou a Clodomir de Morais um mandato de deputado, dois anos de cadeia, 10 anos sem direitos políticos e 15 anos de exílio pelo mundo afora. Mas não se intimidou. Exilado inicialmente no Chile, atuou no Icira (o Incra de lá) e, logo após, ingressou na ONU como conselheiro para a América Latina em assuntos de Reforma Agrária. Elaborou e dirigiu projetos em Honduras, Panamá, Costa Rica, Moçambique, Guiné-Bissau, México, Nicarágua e Portugal e foi consultor na Europa, América Latina, África e Ásia nas questões de organização camponesa. Fez-se doutor na Alemanha e tem livros publicados em dezenas de países, entre os quais o “Dicionário da Reforma Agrária”. Quer dizer, a homenagem tem a ver. Ora se tem!
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