A Mostra debate os universos simbólicos, a ética das imagens a partir dos espaços, personagens e territórios, além da relação com o mercado, que permeiam a produção audiovisual. A atividade é on-line e gratuita.
Foto: Divulgação
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Com programação online e gratuita, a 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes seguirá até este sábado,30/01. Criada em 1998 para colaborar com o “cinema de retomada” —expressão usada para se referir à volta do fomento à produção nacional na segunda metade dos anos 1990—, a Mostra é hoje um farol sobre as discussões que estarão presentes nos demais festivais ao longo do ano e aponta tendências sobre temáticas e linguagens no cinema brasileiro.
O tema proposto este ano pelos curadores Francis Vogner dos Reis e Lila Foster é Vertentes da criação, para debater os universos simbólicos, a ética das imagens a partir dos espaços, personagens e territórios, além da relação com o mercado, que permeiam a produção audiovisual.
Como não podia deixar de ser, um dos temas que estará em evidência é a pandemia do novo coronavírus e seus impactos no cinema.
A programação online, experimento inédito na história da mostra, está disponível no site do evento, onde é possível cadastrar-se para assistir aos 114 filmes disponíveis, entre curtas, médias e longa metragens.
Veja alguns dos títulos em destaque:
Luz nos trópicos (Paula Gaitán)
A obra-prima de Paula Gaitán, cineasta homenageada na Mostra Tiradentes, é uma ode às populações nativas do continente americano. Em uma odisseia de quatro horas, o longa tece um bordado de histórias e linhas do tempo, enredados por cosmogonias indígenas, cadernos de viagem e literatura antropológica. Luz nos trópicos é uma experiência estética singular e uma navegação pelos ecos do passado no presente e vice-e-versa.
Açucena (Isaac Donato)
Todo ano, uma senhora sexagenária comemora seu aniversário de sete anos, com direito a bonecas como convidadas. A premissa por si só lírica e delicada ganhas tons de fantasia e suspense no documentário de Isaac Donato, que o rodou na Região Metropolitana de Salvador, em 2019.
Voltei (Ary Rosa e Glenda Nicácio)
Quatro anos depois da premiada estreia de Café com canela (2017), a dupla de cineastas baianos Glenda Nicário e Ary Rosa apresenta Voltei, um filme que propõe quase uma vertigem onírica. Apesar de que a obra faz eco com as crises sociais e políticas desde 2020 —dialogando até mesmo com o confinamento imposto pela pandemia de covid-19—, a trama se passa em 2030. Duas irmãs, Alayr e Sabrina acompanham em um rádio de pilha o julgamento que pode mudar os rumos de um país, quando são surpreendidas por Fátima, a irmã morta que ressurge para compartilhar com elas esse momento histórico.
Eu, empresa (Leon Sampaio e Marcus Curvelo)
Um trabalhador informal enfrenta problemas financeiros e emocionais. Sem oportunidades decentes de trabalho, ele cria um canal no YouTube pra tentar monetizar suas pequenas histórias de fracasso, enquanto presta serviços precarizados para empresas estrangeiras. Em um diálogo com o cinema de nomes como Ken Loach, a obra dos diretores Leon Sampaio e Marcus Curvelo propõe reflexões sobre as ironias do culto ao empreendedorismo e as dores da uberização dos trabalhos e da vida, em geral.
Rosa tirana (Rogério Sagui)
Em um sertão banhado e castigado pelo sol, a menina Rosa atravessa a caatinga árida e fantasiosa, durante uma seca nunca antes vista, na esperança de se encontrar com Nossa Senhora Imaculada, padroeira daquele chão. A partir do olhar doce e direto da protagonista, o diretor baiano Rogério Sagui desvela, em meio à dureza da paisagem, as sutilezas da alma humana.
A mesma parte de um homem (Ana Johann)
Estrelado por Clarissa Kiste, ao lado de Irandhir Santos e Zeca Cenovicz, A mesma parte de um homem acompanha a vida de Renata, de 40 anos, que vive isolada em uma vila rural com o marido e a filha. Ela sempre considerou o medo um sentimento corriqueiro em sua existência, mas depois de passar por alguns acontecimentos, incluindo a morte inesperada do companheiro, ela começa a redescobrir-se e a encontrar o desejo e a pulsação da vida, especialmente a partir da chegada de um desconhecido.
Nũhũ yãg mũ yõg hãm: Essa Terra é Nossa! (Isael Maxakali e Sueli Maxakali)
“Antigamente, os brancos não existiam e nós vivíamos caçando com os nossos espíritos yãmĩyxop. Mas os brancos vieram, derrubaram as matas, secaram os rios e espantaram os bichos para longe. Hoje, as nossas árvores compridas acabaram, os brancos nos cercaram e a nossa terra é pequenininha. Mas os nossos yãmĩyxop são muito fortes e nos ensinaram as histórias e os cantos dos antigos que andaram por aqui”. É assim que os diretores Isael Maxakali e Suelo Maxakali apresentam o documentário que reflete sobre as dores históricas a resistência cultural do seu povo, em um ensaio imagético sobre força e tradição.
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