A proposta da coluna ALMANAQUE desta semana é mostrar um rápido painel sobre algumas produções televisivas lançadas no formato digital pela Globo Vídeo e que se tornaram ótima opção para colecionadores, como “A Muralha”, “Presença de Anita”, “Hilda Furacã
*Por: Humberto Oliveira
*A proposta da coluna ALMANAQUE desta semana é mostrar um rápido painel sobre algumas produções televisivas lançadas no formato digital pela Globo Vídeo e que se tornaram ótima opção para colecionadores. Com a chegada das séries televisivas como A MURALHA, O TEMPO E O VENTO, DESEJO, ANOS DOURADOS, ANOS REBELDES, HILDA FURACÃO, PRESENÇA DE ANITA e AGOSTO, entre outras, em dvd, os fãs têm a chance de assistir quantas vezes quiserem suas séries preferidas.
*Não iremos seguir uma ordem cronológica do lançamento da série na tv ou em dvd. Nosso objetivo é mostrar ao o caro leitor informações referentes às citadas produções, que entraram para história da televisão brasileira.
*A MURALHA foi uma das primeiras séries a ser lançada no formato digital. Baseada no livro homônimo de Dinah Silveira de Queiroz publicado em 1954, a adaptação foi realizada por Maria Adelaide Amaral. A série teve direção de Denise Saraceni e Eduardo Figueira. No elenco, Tarcísio Meira interpreta o vilão, Don Jerônimo e Mauro Mendonça, repete o papel que interpretara na primeira versão exibida pela Excelsior em formato de telenovela nos anos 60 – Don Brás Olinto. Ainda no elenco, nomes como Maria Luisa Mendonça, Matheus Nachtergaele, Alexandre Borges, Cacá Carvalho, Caco Ciocler, Cecil Thiré, Paulo José, entre outros.
*No ano do quinto centenário do descobrimento do Brasil, a série A MURALHA une entretenimento, ação, história ao ar livre revivendo de forma realista e contundente as lutas sangrentas entre brancos e índios em pleno século XVI. O enredo tem como cenário São Paulo de Piratininga, que ficou conhecida como a capital dos terríveis bandeirantes. Mas a série não mostra apenas violência, trata também de amores, paixões, religião e fé, hipocrisia, exploração e descobertas, liberdade e nascimento.
*O pack foi dividido em quatro discos – Dvd 01 – Velhos pecados em um Novo Mundo, dvd 02, A febre do Ouro e os apelos da carne, dvd 03, De Lagoa Serena ao Ribeirão Dourado e dvd 04 – O Nascimento de uma nação.
*O TEMPO E O VENTO
*Outra série de grande sucesso quando de sua apresentação na TV – O TEMPO E O VENTO (caixa com dois dvds), trouxe à vida os personagens imortais de Érico Veríssimo. A série conta a saga dos Terra Cambará, desde Ana Terra (Glória Pires), sua neta Bibiana (Louise Cardoso na 1ª fase e Lélia Abramo na 2ª), a chegada do valente e mulherengo Capitão Rodrigo (vivido por um Tarcísio Meira totalmente à vontade na pele deste homem que tinha um só pensamento – lutar). O Brasil se torna um país republicano, suas fronteiras delimitadas e é abolida a escravidão.
*O TEMPO E O VENTO teve direção de Paulo José. Além dos citados, o elenco teve ainda Armando Bogus, Lima Duarte, Mário Lago, José Lewgoy, Mauricio da Valle, Renato Consorte e outros.
*Destacamos o documentário com quarenta minutos de duração e dirigido pelo cineasta Jorge Bodansky (Iracema, uma transa amazônica) e que acompanha a produção da série, a escolha do elenco, entrevistas com o diretor Paulo José, os bastidores das cenas de batalhas. O documentário tem narração de Lima Duarte.
*DESEJO
*A minissérie DESEJO escrita pela noveleira Glória Perez é, na minha opinião, o seu melhor trabalho em televisão. Esqueça bobagens como O Clone, Explode Coração, De corpo e alma, e a pior de todas, América. DESEJO conta à história verídica de Ana de Assis, mulher do escritor e jornalista Euclides da Cunha, autor do livro OS SERTÕES, e do cadete do exército Dilermando de Assis, que aos 17 anos se tornou amante de Ana. Este explosivo triângulo amoroso acabaria em tragédia. Euclides ao descobrir a traição da esposa, quer lavar sua honra com sangue. No confronto, Dilermando, exímio atirador, mata o escritor. O mais interessante nesta história é que ela aconteceu realmente e mesmo algumas passagens que parecem tiradas de uma obra ficcional, são legítimas.
*Grande sucesso da TV, a minissérie DESEJO traz em seu elenco, Vera Fischer como Ana de Assis, aqui Vera se consagra como atriz num papel difícil. Tarcísio Meira interpreta Euclides da Cunha, devo confessar que mesmo gostando de sua atuação, acredito que Stênio Garcia teria sido o ator ideal para o papel (procurem ver uma foto do verdadeiro Euclides e entenderão o que estou falando), Guilherme Fontes atua como Dilermando de Assis, da juventude até a maturidade. Destacamos ainda as atuações de Nathalia Timberg, Débora Evelyn, Cláudio Cavalcanti, Vera Holtz, Marcos Palmeira, Marcos Winter, Marcelo Serrado, Othon Bastos.
*DESEJO tem direção impecável de Wolf Maia e belíssima reconstituição de época, isso sem falar no enredo que prende o espectador do início ao fim.
*ANOS DOURADOS E ANOS REBELDES
*Esta série junto de ANOS DOURADOS (em dois dvds), ambas escritas por Gilberto Braga, estão entre as melhores escritas pelo autor de Dancyn Days e Vale Tudo. ANOS DOURADOS traça um delicioso painel dos anos cinqüenta: bailes de debutantes, o tradicional conservadorismo da família de classe média brasileira que imperava na época, o amor de Marcos e Maria de Lourdes, porém a época impõe seus limites.
*Ele é filho de pais separados; o pai é um músico beberrão, que atende pelo apelido de “Morreu”, o personagem é vivido pelo saudoso Milton Morais; a mãe, Glória (Betty Faria), desquitada e independente, trabalha como caixa de clube noturno e se apaixona por Dorneles (José de Abreu), major da aeronáutica, insatisfeito com a carreira e o casamento, no decorrer da história ele passa a viver um caso com Glória. Por isso Marcos, (Felipe Camargo em sua estréia na televisão) paga um preço alto graças aos preconceitos dos pais de Lourdinha (vivida por Malú Mader), que proíbem o namoro. O único porém da série é um assassinato, que Gilberto Braga acrescentou a história, e que se mostra totalmente desnecessário.
*Os costumes que são mostrados na série, hoje nos parecem tolos, no entanto, moldavam o comportamento dessas e de tantas outras personagens oprimidas pela hipocrisia de uma época. Mas o desfile dos rabos-de-peixe, os vestidos colados, os primeiros acordes revolucionários do rock and roll, fazem de ANOS DOURADOS um programa imperdível.
*Claro que eu não poderia deixar de falar na maravilhosa trilha sonora,que aliás,foi escolhida e produzida pelo próprio Gilberto Braga, que ao escrever as falas simplesmente colocava que em determinada cena tal música deveria ser tocada.
*A trilha traz pérolas cantadas por Billy Eckstein, Nat King Cole, Diana Washington, Maysa (Franqueza,), Dick Farney (Alguém como tu), Dolores Duran (Por causa de você), Edith Piaf, isso sem falar na belíssima valsa tema da série composta especialmente por Tom Jobim. Mais tarde a valsa de Jobim receberia letra de Chico Buarque.
*Roberto Talma, que dirigiu ANOS DOURADOS, tem nesta série o seu melhor e mais brilhante momento como diretor de televisão.
*Em 1992, Gilberto Braga presenteia o público com ANOS REBELDES, que mostra uma época de opressão, mortes, época do regime de exceção quando acontece o golpe militar de 1964, mergulhando o Brasil nas trevas de uma ditadura que duraria quase vinte anos e muitas vidas.
*O dvd de ANOS REBELDES foi lançado com três discos, trazendo cenas de bastidores e entrevistas com os autores, Gilberto Braga e Sérgio Marques, os diretores, Denis Carvalho e Silvio Tendler (que produziu os murais históricos em preto e branco), o elenco, Malú Mader (Maria Lúcia), Cássio Gabus Mendes (João Alfredo), Claudia Abreu (Heloisa), Pedro Cardoso (Galeno), José Wilker (Fábio), o grande Geraldo Del Rey (Damasceno) e ainda Gianfrancesco Guarnieri, Francisco Milani, Kadu Moliterno, Débora Evelyn, Beth Mendes entre outros.
*ANOS REBELDES marcou época, pois além de retratar um período que os jovens de 1992 não tinham muito conhecimento, neste mesmo ano aconteceu a queda do autoproclamado “Caçador de Marajás”, sendo ele mesmo um dos tais, Fernando Collor de Mello, que levou às ruas os “caras pintadas”. Collor foi expulso do poder quando sofreu impeachment, mas de lá para cá nada mudou, aliás, mudaram os personagens, mas a história continua a mesma.
*A série citada é uma obra que juntou ficção e realidade, som e imagem, cinema e televisão, num esforço para mostrar um lado do Brasil que, muitos gostariam de ter apagado.
*Assim como aconteceu em ANOS DOURADOS; ANOS REBELDES, a trilha sonora é um show á parte. Tem Alegria, alegria e Soy loco por ti América com Caetano Veloso, Baby com Gal Costa, e muitos sucessos internacionais que foram sucesso no período que se passa à história. Claro que nem tudo é perfeito e alguns enganos ocorreram: A música Mascarada, composição do sambista de Zé Kéti, que toca na série é cantada por Emilio Santiago numa versão gravada quarenta anos depois, por quê não puseram a versão original? A capa do disco de Gal Costa que Heloisa presenteia o embaixador seqüestrado (Odilon Wagner) é de um disco gravado pela cantora nos anos noventa, quando ela regravou Baby com o grupo Roupa Nova. Mas isso não arranha o brilho da série.
*HILDA FURACÃO
*Em 1998, a autora Glória Perez faz a adaptação para televisão do romance Hilda Furacão, do mineiro Roberto Drummond. A minissérie HILDA FURACÃO teve direção geral de Wolf Maya e contou com grande elenco: Ana Paula Arósio (Hilda), Rodrigo Santoro (Frei Maltus), Danton Mello (cujo personagem é uma espécie de alter-ego de Drummond), Thiago Lacerda, Paloma Duarte, Paulo Autran, Tarcísio Meira, Matheus Nachtergaele, Marcos Frota, Roberto Bonfim, Claudia Alencar. E o resultado foi um grande sucesso.
*As gravações foram na cidade histórica de Tiradentes, transformada em Santana dos Ferros, e em Belo Horizonte, que assiste ao domínio de Hilda ao mesmo tempo em que a revolução de 64 está sendo preparada. É nesta época de mudanças que Hilda se transforma em HILDA FURACÃO, moça de família tradicional que abandona tudo para se instalar no centro da zona boêmia da cidade, despertando paixões até mesmo num homem que é considerado santo, Frei Maltus, que a principio a persegue, mas depois se apaixona por ela.
*Ótima reconstituição de época, produção requintada e direção sem muitos arroubos criativos de Wolf Maia, que realizou trabalho melhor em Desejo, da mesma autora.
*OS MAIAS
*Inspirada na obra homônima de Eça de Queiroz (1845- 1900), Os Maias estreou na TV Globo em janeiro de 2001. Maria Adelaide Amaral adaptou e a série teve direção geral de Luiz Fernando Carvalho, que realizou um belo trabalho, ouso até dizer, que Carvalho realizou uma obra prima, o que é raro sendo um produto feito para televisão.
*A versão lançada em dvd traz sua versão inédita adaptada para este formato pelo próprio diretor, e totaliza 904 minutos distribuídos em quatro discos. Devo ressaltar a bonita e luxuosa caixa contendo os dvds. Na capa dos dvs um e dois, fotos de Leonardo Vieira e Simone Spaladore, respectivamente, Pedro da Maia e Maria Monforte, nos dvds três e quatro, fotos de Fábio Assunção caracterizado de Carlos Eduardo da Maia e Ana Paula Arósio como Maria Eduarda. Eles fariam novamente par romântico na minissérie Mad Maria.
*Publicado em 1888, o romance "Os Maias" é um retrato da decadência da aristocracia portuguesa na segunda metade do século XIX, sendo considerado, por muitos, a mais perfeita obra literária produzida em Portugal depois de Os Lusíadas (1572), de Luís de Camões. A história retrata a tradicional família Maia.
*A história é pontuada por tragédias familiares. Don Afonso, vivido brilhantemente pelo veterano Walmor Chagas, dá a carga dramática necessária ao personagem, um homem cético e ao mesmo tempo fatalista, que considera os homens apaixonados meros fantoches nas mãos das mulheres. Seu filho Pedro, vivido na medida certa por Leonardo Vieira, se apaixona por Maria Monforte, interpretada quando jovem por Simone Spaladore (perfeita como mulher fatal), e na velhice por canastra e exagerada Marília Pêra,que fizera atuação mais consistente no não menos extraordinário Primo Basílio, infelizmente ainda inédito em dvd.
*Maria abandona Pedro e leva embora a filha, deixando com o pai o filho Carlos Eduardo ainda bebê. Pedro se transforma em um fantasma, e os temores de Don Afonso se tornam realidade – Pedro se mata com um tiro no peito.
Don Afonso cria Carlos Eduardo (Fábio Assunção) para ser outro tipo de homem, porém o destino coloca em seu caminho Maria Eduarda (Ana Paula Arósio) e os dois se apaixonam. Para saber o que acontece daqui para frente, o caro leitor tem duas opções: assistir OS MAIAS em dvd ou ler o livro.
*O elenco conta ainda com a participação de Selton Mello (João da Ega), Osmar Prado, Maria Luisa Mendonça e Eva Wilma.
*PRESENÇA DE ANITA
*Manoel Carlos, conhecido novelista autor de sucessos como Laços de Família, Mulheres Apaixonadas, Por Amor, Baila Comigo, Felicidade e História de Amor, adaptou o livro de Mário Donato, Presença de Anita, lançado nos anos 50 e que muito fascinou o então jovem Manoel Carlos.
*A minissérie PRESENÇA DE ANITA, lançada em dvd com três discos, é talvez a única que o público pôde assistir na integra, pois todas as outras tiveram cortes e passaram por uma nova edição, muitas vezes não muito boas. Pelo menos as mais longas foram lançadas desta forma.
*A trama da série gira em torno do encontro casual entre uma jovem, a novata Mel Lisboa, que interpreta Anita, e um homem maduro, Nando (José Mayer), casado e que sonha em ser escritor. O envolvimento de Anita e Nando terá um desfecho trágico.
*PRESENÇA DE ANITA guarda semelhanças do filme Lolita, de Stanley Kubrick,que também conta a história de um homem mais velho apaixonado por uma ninfeta que destrói sua vida.
*O elenco conta ainda estrelas como Helena Ranaldi (que interpreta Lúcia, mulher de Nando, que faz tudo pelo marido,mas é rejeitada por ele), Linneu Dias, Vera Holtz, Julia Almeida, Carolina Kasting, Alexandre de Barros, Walter Breda.
*Muito embora a adaptação feita por Manoel Carlos não alce vôos artísticos mais ousados, se perdendo por vezes em repetições desnecessárias para caber no total de capítulos exigidos pela Globo, principalmente as inúmeras cenas de sexo entre Anita e Nando, a participação de Julia Almeida, filha de Manoel Carlos, que foi escalada por influência do autor, Carolina Kasting, que mais uma vez faz ela mesma e Helena Ranaldi, que é uma atriz razoável, mas que recebeu um papel ingrato, que não ganhou a simpatia do público feminino por ser demasiadamente Amélia e chata.
*AGOSTO
*Drama repleto de paixão, intrigas, traições e mortes, baseado em romance de Rubem Fonseca, com direção artística de Carlos Manga e direção geral de Paulo José. O título é uma referência ao mês que Getúlio Vargas cometeu suicídio, mais precisamente a 24 de agosto de 1954. Getúlio saia da vida para entrar para história.
*O suicídio do então presidente da República é apenas o pano de fundo para a investigação realizada pelo obstinado Inspetor Matos, vivido por José Mayer, que tem nas mãos um caso complicado envolvendo o assassinato de um poderoso empresário.
*Outro fato ocorrido naquele fatídico agosto é o assassinato do major da aeronáutica Rubens Vaz, que trabalhava como guarda-costas de Carlos Lacerda rival político de Vargas, e apelidado de O Corvo pelos seus inimigos. O atentado a Lacerda é a gota d`água que faz transbordar o mar de lama que assolava o Palácio do Catete. O tiro que matou o Rubens Vaz ecoa fazendo uma outra vítima, o próprio Getúlio Vargas, que põe um ponto final em sua vida com um tiro no peito. Ficção e realidade de fundem e se completam.
*No elenco Vera Fischer, como a deslumbrante e instável Alce, José Mayer, Letícia Sabatella (a romântica Salete), Lúcia Veríssimo, José Wilker (o corrupto Pedro Lomanho) Elias Gleiser, Hugo Carvana, Rodoldo Botino, Sérgio Mamberti, Marcos Winter. Vale destacar a interpretação de Tony Tornado como Gregório Fortunato, o Anjo Negro, e ainda a participação especial de Paulo Gracindo, um velho solitário e apreciador de óperas, que trabalhava na claque do municipal, Lima Duarte como Turco Velho, assassino de aluguel pago pelo bicheiro Ilídio (Cláudio Correia e Castro) para matar Matos e Carlos Vereza, que interpreta um policial com um código de honra e de ética próprios. Reconstituição de época impecável, ótimas atuações. Um belo momento da teledramaturgia brasileira.
*Peça licença aos caros leitores para dedicar esta coluna para minha mulher Katia, com quem assisti todas as séries citadas acima, e algumas até mais de duas vezes. Á ela que assim como eu é fã de teledramaturgia.
* HumbertOliveira é bacharel em jornalismo e dedica essa coluna a sua esposa Kátia, fã de minisséries.