O túmulo de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, localizado no Cemitério Quinta dos Lázaros, em Salvador, segue sendo um dos pontos de maior curiosidade histórica para quem busca entender o legado do cangaço no Nordeste. Mesmo simples e sem elementos que chamem atenção, a sepultura guarda um dos nomes mais emblemáticos e controversos do sertão brasileiro.
A discrição do túmulo contrasta com o impacto que Lampião teve na história do país. Líder do cangaço, figura temida e admirada, ele marcou as primeiras décadas do século XX com episódios de violência, disputas políticas e resistência armada contra autoridades locais. A visita ao local gera reações distintas: há quem veja apenas um vestígio de um passado turbulento, enquanto outros encaram a sepultura como oportunidade para refletir sobre as injustiças sociais que alimentaram o surgimento dos cangaceiros.
O túmulo não é um ponto turístico tradicional, mas funciona como marco histórico. Sem homenagens grandiosas ou suntuosidade, ele simboliza a memória de um período de tensão no interior do país e lembra o quanto o cangaço moldou a identidade cultural do Nordeste.
Da vala comum ao repouso final em Salvador
A trajetória dos restos mortais de Lampião reflete a complexidade de sua história. Depois de morto em 28 de julho de 1938, na Grota do Angico, em Sergipe, ao lado de Maria Bonita e parte de seu bando, o destino do corpo passou por diferentes fases:
• Vala comum em Sergipe (1938): Logo após o massacre, Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros foram enterrados às pressas em uma vala comum. A precariedade do local e o medo de represálias marcaram esse primeiro sepultamento.
• Decapitação e exibição: Pouco depois, os corpos foram desenterrados, decapitados e as cabeças enviadas para Salvador. Durante décadas, ficaram expostas no Museu Nina Rodrigues como parte de estudos de criminologia uma prática hoje amplamente criticada.
• Sepultamento definitivo em 1969: Somente após forte apelo da família, as cabeças foram retiradas do museu e levadas ao Cemitério Quinta dos Lázaros, onde foram finalmente sepultadas em 1969.
Com o passar dos anos, o túmulo tornou-se ponto de visitação para curiosos, pesquisadores, historiadores e admiradores da cultura nordestina. Apesar da simplicidade, permanece como testemunho de uma era marcada por desigualdades, violência e resistência.
Ao lado do silêncio do cemitério, o nome de Lampião segue despertando perguntas sobre o passado e sobre a história que ainda ecoa no imaginário popular brasileiro.