Ação contra o crack perde a força e usuários retomam "comunidade" no centro de SP

Ação contra o crack perde a força e usuários retomam "comunidade" no centro de SP

Ação contra o crack perde a força e usuários retomam

Foto: Divulgação

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A cena voltou a ser comum para quem circula pelas ruas do centro da capital paulista: usuários de crack perambulam pelas calçadas, fazendo uso da droga em meio à movimentada rotina da região. Pouco mais de um ano e meio após a Operação Centro Legal — uma parceria entre a prefeitura e o governo do Estado — os dependentes químicos retornaram ao centro da cidade e se estabeleceram em uma área mais ampla do que aquela que ficou conhecida como Cracolândia, na região da Luz. O R7 esteve nos principais pontos de concentração desses grupos e registrou parte da rotina deles.

Deflagrada pela Polícia Militar em janeiro de 2012, a ação na Cracolândia foi apresentada com o objetivo de combater o tráfico de drogas na região, diminuir a criminalidade e recuperar as áreas degradadas. Na época, o policiamento foi intensificado para prender traficantes e a internação compulsória dos dependentes químicos foi posta em prática.

 Em consequência da ação, parte dos usuários se dispersou para outros pontos da cidade, criando novas cracolândias.

Para Thiago Calil, coordenador de campo da ONG É de Lei, o retorno à região central teve início poucos meses após a ação do poder público perder a força. Ele explica que, dispersos pela cidade, os usuários ficam fragilizados e sentem falta da vida em comunidade.

 — Os usuários comentavam com a gente que, com a ação da polícia, perderam a sociabilidade entre eles. Os que estão ali têm troca entre eles, toda uma rede de sociabilidade, tanto em torno do uso [de crack], quanto em torno de alimentação, roupas. [...] Eles sentiam que quando estavam dispersos, sem essa rede toda, ficavam mais frágeis.

 Um dos principais pontos para onde migraram os usuários de crack após o retorno à região central foi a Praça da Sé. A Guarda Civil Metropolitana colocou um ônibus de monitoramento no local para acompanhar a ação dos traficantes de drogas. Segundo a prefeitura, o objetivo da ação é identificar os usuários e oferecer-lhes tratamento.

Dados do Observatório Brasileiro de Informação sobre Drogas, órgão ligado à Secretaria Nacional de Política sobre Drogas, mostram que a cidade de São Paulo possui 5.660 usuários de crack.

De acordo com a secretaria, cerca de 30% dos usuários que passaram por tratamento para se livrar do uso de crack na capital abandonaram totalmente as drogas.

 A Secretaria Municipal da Saúde informou que, entre janeiro e agosto deste ano, 1.129 pacientes foram cadastrados nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas para tratamento contra crack e cocaína. No mesmo período, 823 pessoas foram internadas.

 O superintendente da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos de Almeida, afirma que o problema dos usuários de crack na região central não tem sido resolvido de maneira eficaz.

 — É um problema complexo. São pessoas que estão com problema de saúde. [...] Na medida em que o poder público atua em uma determinada região, evidentemente que eles vão para outra. Agora eles estão novamente agrupados na região da Luz.

Há pouco mais de uma semana, a Prefeitura de São Paulo reabriu o centro de convivência instalado no Parque Dom Pedro II e iniciou, no começo do mês, uma ação para remover as barracas de camping na praça da Sé.

Apesar de ação da prefeitura, a reportagem flagrou vários lugares onde as barracas de camping permaneciam erguidas.

De acordo com Marco Antonio Ramos de Almeida, a Associação Viva o Centro tem cobrado medidas da prefeitura para evitar esse tipo de prática, que, para ele, degrada mais ainda a região.

 — Eu acho péssimo isso. Porque a calçada, o espaço público, não pode ser privatizado, seja por pessoas em situação de rua, seja mesmo por vendedores. É um espaço de todo mundo. Ele se destina especificamente ao trânsito das pessoas e não pode ser ocupado dessa forma. Não é aceitável para quem acha que a cidade precisa ter o mínimo de disciplina e ordem.

Outro problema recorrente na região é o acúmulo de lixo nas ruas, que acaba se espalhando entre os usuários de drogas.

Procurada pelo R7, a Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana) informou que os locais onde a reportagem esteve são considerados “pontos viciados”, porque são varridos diariamente, mas o lixo retorna quase instantaneamente.

A Secretaria Municipal de Serviços disse que estendeu à região da Cracolândia o plano Centro Limpo. Na sexta-feira (18), o secretário Simão Pedro afirmou que os usuários de crack geram muitos resíduos e que o trabalho precisará ser feito "com diálogo e respeito".

A reportagem do R7 também flagrou pessoas que não moram nas ruas, mas que aproveitam locais com pouco policiamento e quase sem movimentação para consumir drogas.

Para o presidente da ONG Bicicloteca, Robson Mendonça, após a ação das autoridades na Cracolândia, em 2012, a situação no centro da capital piorou.

 — Quando teve aquela operação fracassada, eles se espalharam para toda a cidade formando várias cracolândias em toda São Paulo.  Hoje, você encontra usuários de crack na Sé, na praça João Mendes, no largo do São Francisco.

Mendonça avalia que a ação policial criou um novo problema no centro da cidade.

 — Essa operação fracassada que fizeram acaba colocando a vida do cidadão em risco. Porque vão se criando várias cracolândias e os usuários, com essas operações, ficam revoltados e acabam até descontando na população.

Ainda no centro, mas um pouco distante da Cracolândia, é comum ver a venda e o consumo de drogas, principalmente em praças.

Thiago Calil lembra que a região da Cracolândia é frequentada por usuários da droga desde que o crack chegou a São Paulo.

 — É uma questão histórica. O bairro da Luz, desde que o crack começou a aparecer, quando chegou à região central, é meio que onde o crack fixou raízes.

  Na opinião de Calil, até o momento, a gestão do prefeito Fernando Haddad não tomou qualquer medida eficaz no sentido de resolver o problema.

 — O governo do Haddad tem discurso, de pensar uma política que ofereça um cuidado um pouco mais digno, de tentar construir junto com a sociedade civil, mas na prática nada tem sido feito.

Todos os profissionais envolvidos com a questão que foram entrevistados pelo R7 concordam que os esforços do poder público têm sido insuficientes, como resume o presidente da ONG Bicicloteca.

 — Ainda está muito longe de São Paulo ter um centro ideal. Em vez de procurarem uma solução definitiva, fazem essas operações paliativas. [...] Enquanto não houver uma operação concreta, só vai aumentar o número de usuários de drogas no centro.

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